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O mercado de veículos pesados e bens de capital como caminhões e máquinas agrícolas vem apresentando um bom desempenho ao longo deste ano, grande parte graças à demanda do agronegócio, que no Brasil segue pujante. No entanto, uma avaliação mais profunda pode apontar alguns gargalos que dependem de um cenário econômico mais equilibrado para serem sanados. Ao analisar a conjuntura do mercado brasileiro, o presidente do Grupo CNH Industrial para a América do Sul, Vilmar Fistarol, mostra preocupação com o descompasso dos fatores nos dois segmentos.
Ele lembra que no início de 2019, a indústria como um todo projetava que o mercado brasileiro poderia crescer na faixa entre 5% e 10% e que em alguns segmentos específicos, esse índice poderia ser ainda maior.
“A ideia era de que o mercado de caminhões continuasse crescendo; em equipamentos de construção não se esperava um crescimento tão alto, mas ainda assim uma curva ascendente, mas sofremos praticamente seis meses buscando entender com ia se dar esse crescimento”, conta.
No mercado de caminhões, enquanto as vendas de extrapesados se dão pela força do agronegócio e pelos investimentos de empresas que estão construindo ou ampliando frotas próprias em função das incertezas criadas no ano passado com a greve dos caminhoneiros, os segmentos de menor porte apresentam crescimento de menor intensidade.
“O mercado continua recuperando, mas a uma velocidade diferente do que se via no início do ano, quando havia um crescimento projetado de 40%. Na medida em que os meses passam, o que era 40% hoje já está em 20%”, disse. “A preocupação é que isso não seja uma bolha, que tenha uma continuidade nessa recuperação e em todos os segmentos, porque a velocidade do crescimento entre leves e pesados tem muita diferença, o que dá indício claro que não existe uma linearidade no crescimento do PIB, porque os pesados estão sendo puxados pelo agronegócio, mas nos leves e médios, que têm maior ligação com o PIB industrial, se vê mais altos e baixos.”
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Ainda há muitas dúvidas com relação à estabilidade da economia, o que abala a confiança do investidor e do consumidor, causando esse desequilíbrio entre as categorias. “É um movimento que assusta porque todo mundo está fazendo investimentos”, diz Fistarol. “Hoje o Brasil tem uma capacidade instalada muitíssimo superior cerca de quatro vezes a mais do que o nível da demanda atual. Isso é um desperdício de investimento”, avalia.
Outro agravante é com relação ao nível de investimentos que as montadoras deverão fazer no Brasil para atender a nova legislação de emissões Proconve P8 para caminhões e equivalente ao Euro 6, que entra em vigor em 2022 para novos projetos e em 2023 para todos os modelos que serão oferecidos no mercado.
“O resultado é que todos perdem dinheiro. Esse mercado tem que voltar à lucratividade para justificar os investimentos que vão acontecer em breve em função do Euro 6.”
Máquinas agrícolas: um ano com nove meses
No segmento de máquinas agrícolas, o ano começou com um ritmo bom, mas os os recursos da linha de crédito do Moderfota que deviam durar até junho e acabou em abril encurtou os negócios de forma drástica.
Segundo Fistarol, o efeito Moderfrota gerou um impacto complicado no setor. Quando os fundos – cujos valores foram menores do que no ano anterior - foram liberados em 2018, a indústria já sabia que ia ter algum problema e sabendo disso, entrou em contato com o governo para tentar ampliar o montante ou buscar alguma medida para que os recursos terminassem no tempo previsto e não antes disso.
“Isso não aconteceu e novos fundos não chegaram, o setor sofreu: praticamente um trimestre, que foi bastante difícil para fechar os negócios e recomeçar um novo trimestre. O novo plano foi anunciado, com algum atraso. Os investimentos estão acontecendo, mas não tem mais tempo hábil no ano para recuperar esse atraso, infelizmente.”
Com isso, o segmento de máquinas agrícolas deve encerrar 2019 com um volume apenas um pouco melhor do que 2018: “Com tudo o que aconteceu, imagino que isso não será ruim [ter um leve crescimento]”.
Para 2020, a CNH Industrial ainda não tem suas projeções. “Ainda tem muita discussão, vai depender de muitos de fatores. No quesito área plantada, acredito que vai ser bom, provavelmente melhor do que foi a safra anterior (grãos), mas não é só isso. O que vai acontecer no mundo entre China e EUA pode ter um impacto grande na América Latina. Hoje tem um impacto positivo para Brasil e Argentina, mas se abre uma janela entre os dois países dessa guerra comercial, eles aproveitam para exportar grandes volumes e isso tem um impacto aqui.”
Neste cenário, ele alega que as organizações que atuam nos vários segmentos estão trabalhando para ampliar seus mercados de exportação. “Sabemos que a China é uma oportunidade hoje, mas também é um risco.”
Para ele, o setor agrícola é sempre uma incógnita, mas no Brasil, independente do tamanho do crescimento, vai continuar avançando, inclusive com novas tecnologias. “O País está recuperando competitividade na agronomia, que tem dado passos interessantes de desenvolvimento: há um potencial da conectividade, por exemplo, que pode levar a ganhos de US$ 25 bilhões”.
Infraestrutura estagnada
O Grupo CNH Industrial, que atua com as marcas New Holland e Case Construction para o setor de máquinas de construção tem capacidade para produzir 7 mil máquinas por ano no Brasil, incluindo seu portfólio completo de produtos.
“Já chegamos a produzir as sete mil máquinas, mas este foi o mesmo volume produzido no País inteiro pelo setor no ano passado”, resume.
O segmento de máquinas da linha amarela, como também é conhecido o setor de máquinas de construção ainda espera por alguma arrancada de projetos de infraestrutura no Brasil. Segundo Fistarol, o mercado pode chegar ao volume de vendas de 15 mil máquinas este ano.
“Está muito longe daquilo que precisaria ser e de fato até não decolarem os grandes projetos de infraestrutura, o segmento vai continuar sofrendo. A construção civil imobiliária até tem um investimento em máquinas e equipamentos, mas proporcionalmente são baixos quando se compara com projetos de infraestrutura. Tem muitos projetos regulamentados; esperamos que a partir dessas regulamentações, o governo tente destravar os investimentos”, conclui.
A organização tornou oficial no início deste mês a divisão de suas unidades de negócio, com um plano de criar duas empresas, uma que reúne máquinas agrícolas e de construção e outra dedicada aos veículos comerciais e motores com um processo interno que iniciou ainda em janeiro.
“Dada as macrotendências globais, os setores têm comportamentos bastante diferentes; são particularidades do agrícola, construção e transporte que não se misturam, perde sinergias. Também há o lado do investidor, que tem diferentes interesses em cada negócio”, lembra.
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