Fonte: Valor Online - 13/09/07
Boa parte das fabricantes de autopeças de Santa Catarina está ampliando a produção e reforçando o número de funcionários. Tuper, Jofund-Fremax, Wetzel e Schulz, todas do pólo metal-mecânico do norte catarinense, vivem boa fase por conta do aumento da demanda das montadoras. De acordo com o diretor do Sindipeças-SC, Hugo Ferreira, é o melhor momento das últimas décadas vivido pelo setor no Estado. Em média, o crescimento esperado é de 20% no faturamento deste ano em relação ao ano passado e de 15% no volume de contratações.
"A maior parte das empresas espera crescimento de 20%, mas há casos de 30% de expansão por conta principalmente da forte demanda doméstica. Algumas companhias estão experimentando até mesmo uma elevação das exportações, apesar da tragédia que é o câmbio hoje", afirma Ferreira. Ele acrescenta que as empresas que estão incrementando as exportações estão contrabalançando os efeitos do câmbio desfavorável por meio de importações de insumos e com enxugamento de custos, adotando uma gestão mais eficiente.
Com os novos investimentos, as autopeças de Santa Catarina, cerca de 150 empresas, sendo a maior parte de pequenas e médias, tentam acompanhar o ritmo do setor, que prevê crescimento de 10% na produção total de veículos neste ano em comparação com 2006, para um total de 2,87 milhões, segundo as estimativas mais recentes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Fabricante dos escapamentos Sicap, a Tuper, de São Bento do Sul, expandiu a produção no ano passado e já com 800 funcionários pretende contratar mais 150 pessoas até o fim do ano. Outras 100 pessoas estão previstas para 2008. Na Schulz, que fabrica peças de segurança para caminhões, tratores e máquinas agrícolas, 200 foram contratadas neste ano e outras 200 devem ser incluídas no quadro a partir do quarto trimestre. Na Jofund-Fremax, fabricante de discos de freio, foram contratadas 80 pessoas nos últimos quatro meses, e na metalúrgica Wetzel, fabricante de peças para sistemas de freio, motor, direção e injeção eletrônica, segundo o sindicato, há 50 vagas em aberto, depois de inaugurar em agosto as novas instalações da sua divisão de alumínio.
De acordo com Frank Bollmann, presidente da Tuper, fez diferença para os negócios neste ano a entrada em operação da nova divisão, voltada a tubos especiais, em 2006. Segundo ele, ela facilitou a conquista de novos clientes, em especial, grandes montadoras. Antes, a empresa atendia mais os sistemistas, como são chamados um grupo de fornecedores que montam sistemas de veículos. Com os tubos especiais, a empresa conseguiu fugir dos produtos "commodities" e passou a fabricar peças de precisão para áreas como suspensão e bancos de veículos. A boa fase deve elevar o faturamento em 55%, chegando a R$ 500 milhões neste ano.
Já o presidente da Jofund-Fremax, Carlos Birckholz, diz que a conjuntura favorável do setor automotivo permitiu que a empresa recuperasse a mão-de-obra que perdeu com a saída da sua principal cliente, a TRW, em março de 2006. O quadro era de 420 pessoas, com a empresa tendo que reduzir para 260 no ano passado, enfrentando um período difícil. Hoje, contudo, mostra uma melhor forma: já está com 330 funcionários, e conseguiu outros clientes, em especial, no mercado externo. Segundo Birckholz, a empresa reestruturou-se para uma produção mais enxuta e se preparou para conseguir rentabilidade nas vendas externas mesmo com um dólar baixo, a R$ 1,80. Ele diz que atualmente puxam as vendas da empresa os Estados Unidos, Argentina e Europa, além do mercado nacional, que representa 30% da sua produção. "Chegamos a ficar só com dois turnos, mas agora já estamos retomando o terceiro turno", diz.
Na Schulz, sediada em Joinville, o movimento de expansão para atender a demanda maior, principalmente de caminhões, não é diferente. A expansão do parque fabril, que consome investimentos de R$ 45,6 milhões para aumento da capacidade em 40%, está preparando a empresa para uma demanda mais aquecida em 2008. De acordo com o presidente, Ovandi Rosenstock, já existe, no entanto, previsão de outros investimentos em aumento de mais 40% na capacidade para o próximo triênio, de 2008 até 2010, para fazer frente a um novo aumento da demanda dos seus clientes.
O presidente do sindicato dos metalúrgicos de Joinville, Genivaldo Ferreira, pondera que a boa fase do setor não se reflete proporcionalmente no aumento do piso da categoria (na última renegociação, em abril, o aumento real foi de 0,8%). O piso está fixado em R$ 595,00.
Em geral, as autopeças catarinenses se dizem preocupadas com o movimento cada vez mais forte de fabricantes chineses no setor, mas Ferreira, do Sindipeças, acredita que há ainda muito espaço para os fabricantes nacionais. Afirma que algumas montadoras preferem pagar um pouco a mais pela peça produzida no Brasil do que passar pela "agrura das importações". O executivo refere-se à distância com os fabricantes chineses e à dificuldade de infra-estrutura, relacionada aos próprios portos brasileiros. Também fez questão de lembrar o recente caso de recall da Mattel, que embora seja de outro setor (brinquedos), contribuiu para um certo receio de outras indústrias no uso de produtos chineses.
Para Brickholz, da Jofund-Fremax, os já conhecidos comentários de que "a China tem produto a preços competitivos, mas não compete na qualidade" ainda são válidos. Ele ressalta que sua maior preocupação hoje, contudo, não é o avanço da China, mas a informalidade de alguns fabricantes brasileiros, que estão conseguindo o mesmo nível de preço do chinês.
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