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As tecnologias disruptivas — aquelas que rompem com modelos anteriores — são responsáveis pelo desmonte de algumas cadeias produtivas, mas também representam a tábua de salvação para outras tantas. Quem não se adaptar às inovações e utilizá-las, o quanto antes, a seu favor corre o risco de perder competitividade até desaparecer. No Brasil, a crise econômica e a incerteza política são obstáculos imensos no caminho dos investimentos para modernização. Mesmo assim, há exemplos de empresas de todos os portes que apostam no futuro e começam a colher os frutos da inovação.
O grande desafio das empresas, explica Paulo Mól, diretor de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), é ganhar produtividade para se tornarem mais competitivas. “Temos que entender de que maneira as tecnologias disruptivas estão mudando o modo de produção da indústria. Não existe mais condições de continuarmos sem adotá-las. Mas é uma agenda de longo prazo”, afirma. Como a inovação é uma imposição, os setores mais ligados ao mercado internacional precisam correr na frente para competir em nível global. “Porém, há uma diversidade enorme de pesquisa em vários setores, e não necessariamente nos mais tradicionais”, explica.
Segundo Mól, dados apontam que 36% das empresas brasileiras são inovadoras em relação a produtos novos ou alterados a partir de atualizações tecnológicas. “Agora quantas fizeram inovação para o mercado? Só 2% a 3%. Se for para o mercado internacional, cai para 1%. O Brasil não se coloca como um player internacional. Precisamos reduzir a defasagem”, ressalta.
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Na corrida contra o tempo, o setor industrial brasileiro, que encolhe há anos diante do cenário recessivo do país, desenvolve o projeto Indústria 2027, a fim de preparar os principais segmentos para a próxima década e incentivar o salto tecnológico em direção à quarta revolução industrial. Marcada pela convergência das tecnologias físicas e digitais, a chamada indústria 4.0 é incipiente até mesmo nas nações mais desenvolvidas do mundo. A Europa e os Estados Unidos querem dominar os novos processos em 2020. A China, em 2024. No Brasil, o projeto recém começou.
Este ano, representantes da academia e de CNI iniciaram estudos sobre o impacto de clusters tecnológicos, como inteligência artificial, robótica conectada, nanotecnologia, internet das coisas, redes de comunição, big data, manufatura avançada e armazenamento de energia, em várias cadeias produtivas.
O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) João Carlos Ferraz explica que o projeto quer identificar como as tecnologias podem modificar os processos de produção, o modelo de negócios e a cadeia de fornecedores. “Estamos falando desde equipamentos mais eficientes, que promovem redução de custos e novos produtos, até tecnologias mais genéricas, com internet das coisas. A característica central dessas inovações é que são convergentes e podem ser usadas de forma integrada”, diz.
Como no Brasil existe uma combinação de resistência e falta de dinheiro para investir, o projeto pretende apontar quais são as tecnologias mais relevantes para cada setor e o que elas oferecem. O professor garante que, apesar da crise, há uma mobilização empresarial pela inovação. “Eles estão vendo que vem um trem que vai atropelá-los. Claro que, diante da incerteza, a maioria não investe. Mas quem se preparar para o amanhã estará numa posição competitiva muito melhor”, afirma.
Conectar e digitalizar a indústria significa aumentar produtividade e qualidade. “Temos que encontrar fórmulas adequadas à realidade brasileira. Sensores nos equipamentos identificam problemas, avisam quando vão quebrar, o que pode ocorrer e sugerem ações. Isso permite sobrevida a máquinas mais antigas”, exemplifica. O professor Ferraz revela que as pesquisas do projeto apontam setores mais coerentes e mais heterogêneos. “Em geral, as grandes empresas são mais ligadas. Mas um dado novo é que as pequenas startups estão crescendo de importância. As agritechs são bem avançadas. Isso mostra que empresas de pequeno porte podem dar soluções específicas”, destaca.
Fronteira
O diretor da CNI afirma que o projeto é importante para identificar quais são as principais linhas de pesquisas tocadas no mundo. “Nanotecnologia é uma fronteira importante, manufatura avançada, robótica, assim como a preocupação com a cultura ambiental. O Brasil tem muito a avançar neste sentido. Temos que pensar já qual indústria virá em 10 ou 20 anos e, para isso, é preciso que as pesquisas acadêmicas e científicas sejam cada vez mais associadas aos projetos empresariais”, avalia.
Essa associação é o objetivo central da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), em operação há dois anos e meio, que busca o que há de melhor nos centros de pesquisas para selecionar grupos com vocação e experiência para trabalhar em projetos com empresas. O presidente da entidade, professor Jorge Almeida Guimarães, explica que, apesar de o modelo ser novo, se mostrou eficiente. “Em 2014, foram apenas 10 empresas e meia dúzia de projetos. Hoje, são 163 empresas e vamos fechar o ano com 200”, conta.
Atualmente, a Embrapii financia 280 projetos, com R$ 460 milhões investidos. Como a grande maioria das empresas não tem centros de pesquisa, a entidade com 34 unidades no país funciona como uma ponte entre os pesquisadores e a indústria. “Selecionamos grupos nas universidades e oferecemos 15 a 20 pesquisadores para os projetos de desenvolvimento com menor risco e financiamento, um terço sem reembolso”, afirma. Por enquanto, as áreas que demonstram maior interesse são as mais avançadas tecnologicamente. “Muita coisa em TI (Tecnologia da Informação), petróleo e gás, aeronáutica, eletroeletrônica, química. Esses setores são de empresas de médio e grande portes. Mas vamos começar com as pequenas e startups, em um acordo com o Sebrae”, antecipa.
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