Fonte: Último Segundo - 03/08/07
A montadora americana General Motors (GM) e a japonesa Toyota vivem uma disputa roda a roda pelo título de maior fabricante de automóveis do mundo. Se nos primeiros meses de 2007 a Toyota conseguiu desbancar a GM de um posto que ela ocupava há sete décadas, o mesmo não aconteceu no segundo trimestre do ano, quando os americanos recuperaram a posição. E nessa batalha nada discreta pela liderança na produção global de carros, a montadora dos EUA conta com um aliado que até alguns anos atrás não tinha muita relevância na sua estratégia: os países emergentes, ou em outras palavras, América Latina e Ásia.
A julgar pelos últimos indicadores financeiros referentes ao período entre maio e junho deste ano, não há dúvida que a região ganha espaço na corporação. Conhecida como LAAM, que significa América Latina, África e Oriente Médio, essa região teve entre abril e junho passado seu melhor desempenho trimestral desde que foi criada há 10 anos.
O lucro líquido da GM nessa área do globo foi de US$ 213 milhões no segundo trimestre deste ano, contra os US$ 139 milhões auferidos em igual período de 2006. A operação no Brasil é essencial na LAAM. Representa 40% das vendas em volume e 50% das vendas em valor , detalha Ray Young, o presidente da GM no Brasil e no Mercosul. Mas o peso dos negócios no país não se reflete apenas na hora da divulgação dos resultados. Vai além. Ganha contornos bastante reais também quando o assunto é investimento futuro.
Após receber o sinal verde da matriz no mês passado, autorizando investimentos de US$ 500 milhões para que as fábricas da Argentina e do Brasil comecem a desenvolver e a produzir um novo modelo de carro pequeno voltado aos países emergentes, Ray Young conta que uma nova proposta de aportes já está sob a mesa dos executivos nos EUA. Estamos trabalhando em uma segunda onda de investimentos, que também vão consumir US$ 500 milhões , afirma o presidente da GM no Mercosul. Young, contudo, evita os detalhes, mas diz que a decisão final sairá no fim de 2008. Em caso de aprovação, começaremos a investir a partir de 2010 , acrescenta o executivo, revelando que a idéia é usar esses recursos para transformar a região em exportadora mundial de um produto. Mas enquanto a matriz não bate o martelo sobre esses US$ 500 milhões, Young continua fazendo sua lição de casa e mantendo a operação brasileira no azul. Mesmo porque é mais fácil conseguir liberação de recursos quando as contas estão em dia do que quando os negócios vão mal.
Só que para manter o azul na unidade brasileira, o executivo da GM não poderá contar com as exportações. Diante de um real forte frente ao dólar, as vendas da montadora americana despencaram de um ano para o outro. Tanto que nos primeiros seis meses de 2007, a companhia exportou 65 mil unidades, resultado 27% menor que o volume comercializado em igual período de 2006.
Na hora de explicar tamanha queda, Young é claro: Foi só o câmbio . Sendo assim, do ponto de vista prático, a GM do Brasil deixou de exportar seus automóveis para a região andina do continente sul-americano, que reúne países como Colômbia e Venezuela. Também não manda mais automóveis para o Oriente Médio, além de ter reduzido seus negócios para o México.
Com a sensação de que um dólar deverá alcançar uma cotação de R$ 1,80 até o fim do ano, Young é claro ao dizer que não tem muitas esperanças em retomar esses mercados para a operação brasileira. E já se conforma com esse nível de exportação. Mas o momento também abriu outros horizontes. Isso, porque com a redução das vendas para o exterior, o executivo também pode usar essa folga de capacidade de suas três fábricas no Brasil - São Caetano do Sul (SP), Gravataí (RS) e São José dos Campos (SP) - para o mercado interno. E com isso aumentar as vendas, sem precisar incrementar os custos. Em outras palavras, essa possibilidade se reflete diretamente no acréscimo ou não de mais um turno em alguma das fábricas. Por ora, o presidente da GM descarta um terceiro turno, mas o assunto pode voltar a ocupar lugar de destaque nos planos de Young.
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