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A surpresa positiva com o dado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro eleva a possibilidade de a inflação oficial terminar o ano no teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 6,5%, conforme avaliação dos especialistas consultados pelo Broadcast, sistema de informações em tempo real do Grupo Estado. O IPCA de novembro marcou 0,18%, após 0,26% em outubro, e foi o menor para o mês desde 1998. O resultado veio abaixo das estimativas do mercado, que estavam entre 0,22% e 0,35%, segundo pesquisa do Projeções Broadcast.
Antes do dado do IPCA do mês passado, os economistas tinham mais dúvidas sobre a possibilidade de a inflação fechar no teto da meta. Agora consideram crível essa possibilidade, uma vez que é preciso somente que o dado de dezembro em uma taxa em torno de 0,50%, uma estimativa provável, conforme eles. Embora o grupo Transportes deva acelerar, com alta da gasolina e das passagens áreas, os grupos Alimentação e Habitação devem ajudar o índice a ficar em um porcentual comportado.
Essa expectativa desinflacionária ainda reforça as apostas dos especialistas sobre a aceleração do ritmo de flexibilização monetária, com corte de 0,50 ponto porcentual da Selic na reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 10 e 11.
A avaliação dos economistas consultados é de que a forte recessão econômica tem contribuído para manter a inflação comportada. "A demanda está estilhaçada por conta da recessão, com queda da renda e mercado de trabalho ruim. O grande mérito é a recessão econômica, auxiliada por um juro real cada vez maior", avaliou o economista da Parallaxis, Rafael Leão, que já prevê 6,5% para inflação em 2016.
Leão ainda comentou que a surpresa com a inflação fraca em novembro veio com o resultado dos grupos Alimentação, que teve deflação maior, e de Transportes, que apresentou alta menor que a esperada. Dentro dessa classe de despesas, a economista Camila Abdelmalack, da CM Capital Market, destacou o comportamento do item gasolina, que apresentou queda de 0,43%, um efeito das duas reduções nos preços anunciadas pela Petrobrás em outubro e novembro.
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A respeito disso, Camila considerou que a alta esperada para gasolina em dezembro por conta do reajuste para cima da Petrobras de cerca de 8% do combustível nas refinarias, anunciado neste mês, não deve impedir o IPCA de fechar abaixo da meta neste ano. Segundo ela, o bom comportamento dos preços dos alimentos, que devem seguir baixos mesmo que não registrem deflação, e a volta da bandeira verde na energia devem limitar a alta da inflação oficial neste mês. A economista estima 0,45% para o IPCA em dezembro e 6,45% em 2016.
A difusão na queda dos preços é o argumento do economista Angelo Polydoro, do banco Brasil Plural, para avaliar que o processo desinflacionário é sustentável. Isso, além de possibilitar que o IPCA feche em 6,5% em 2016, deve conduzir a inflação para o centro da meta de 4,5% em 2017, apesar da expectativa de melhora da atividade, mesma opinião apresentada por Leão, da Parallaxis.
Camila, da CM Market, no entanto, ainda é cética em estimar inflação no centro da meta no ano que vem devido à inércia inflacionária e à indexação dos contratos. Atualmente, ela prevê 5,8% para o IPCA em 2017, mas deve revisar ligeiramente para baixo.
Todos os economistas consultados são unânimes em dizer que o processo desinflacionário está bem encaminhado, o que, somado à atividade fraca, deve permitir um corte maior na Selic no próximo Copom, conforme sinalizado pelo Banco Central (BC) tanto no comunicado quanto na ata. "O BC tem sido conservador, mas a aceleração do ritmo de corte fica cada vez mais nítida", comentou o analista econômico da RC Consultores, Everton Carneiro.
O dado fraco do IPCA de novembro motivou o economista Rafael Leão a mudar sua projeção de corte da Selic de 0,25 ponto porcentual para 0,50 ponto. "Não tem mais muita justificativa para o Copom seguir a passos lentos. Ainda esperava recuo de 0,25 ponto porcentual em janeiro, por causa do cenário político, diante da possibilidade de a PEC não avançar. Mas, agora, acredito que a votação deve acontecer. Ou seja, não tem mais nada no radar que impeça queda maior dos juros. Até mesmo serviços subjacentes desaceleraram", explicou.
Os analistas apontam, contudo, que um recuo de 0,75 ponto na taxa básica ainda não está previsto nos cenários, principalmente pelas incertezas no cenário externo, com Donald Trump na presidência dos EUA, e no campo doméstico, com a instabilidade criada pela crise política.
"A grande vitória desse BC é manter as expectativas para os índices de inflação em desaceleração. Como é um BC cauteloso e não quer perder a credibilidade, deve ser um processo gradual de queda de juros", estimou o economista do Brasil Plural.
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