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O presidente da República, Michel Temer, reuniu nesta segunda-feira (21) no Palácio do Planalto – pela primeira vez em sua gestão – o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o chamado "Conselhão".
Ao discursar aos 96 integrantes do grupo – entre os quais o ator Milton Gonçalves, o ex-jogador Raí e o técnico da seleção de vôlei Bernardinho –, o peemedebista afirmou que a crise pela qual o país passa teve origem em uma tentativa "gigantesca" de "disfarçar a verdade”.
Ele falou ainda aos conselheiros que, ao assumir a Presidência, encontrou o país em uma situação na qual, além do déficit fiscal, havia "um certo déficit de verdade", referindo-se a supostas tentativas de "ludibriar" a realidade.
Ao longo dos 42 minutos de discurso de abertura no encontro do "Conselhão", Temer disse que só será possível vencer a crise se “trocarmos o ilusionismo pela lucidez”.
“No Brasil que nós encontramos, não havia apenas um déficit fiscal. Havia também, lamento dizer, um certo déficit de verdade, e não é possível continuar assim. A gigantesca crise que enfrentamos é, em parte, produto de tentativas de disfarçar a verdade”, declarou o peemedebista.
“Encarar a verdade muitas vezes é difícil. Mas, se você não encará-la, você irá ludibriar aqueles a quem nós servimos”, completou.
O presidente destacou aos conselheiros que, na opinião dele, é importante o governo contar com o apoio do Congresso Nacional para fazer as reformas necessárias para fazer o país voltar a crescer, entretanto, ele disse que isso não basta. Na avaliação do presidente, também é importante o apoio da sociedade.
“Precisa ter governo, precisa ter apoio político e precisa ter apoio da sociedade”, discursou.
Ao encerrar o encontro, Temer pediu que os conselheiros divulguem as ideias discutidas na reunião, por exemplo, em entrevistas e palestras, para que as propostas defendidas pelo governo entrem "no espírito e na alma" da população.
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"Os senhores são ouvidos a todo momento. [...] Peço que divulguem os discursos que se fizeram aqui nessa reunião. Isso vai entrando no espírito e na alma, deixando as pessoas animadas. Peço que façam propaganda, no sentido de propagar, o que foi debatido."
Dos conselheiros, discursaram o publicitário Nizan Guanaes, a empresária Luiza Trajano e o cientista político Murilo Aragão. Guanaes, classificou de "fundamentais" as reformas propostas pelo governo Temer.
Ajuste fiscal
Ao se dirigir aos conselheiros, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que nenhum projeto de ajuste fiscal aplicado se revelou eficiente para contornar a situação financeira do Brasil e ressaltou que o déficit do país continua aumentando.
“Não há até agora nenhuma evidência de que os projetos de ajuste fiscal tenham funcionado até o momento. O resultado é um crescimento constante [das despesas]”, disse.
O titular da Fazenda ainda mostrou aos conselheiros como se encontra o déficit primário, os valores de cargas tributárias e citou projeções de despesas da Previdência Social se a reforma proposta pelo governo não for aprovada.
“Só para manter o déficit, seria necessário aumentar a carga tributária em 10% do Produto Interno Bruto (PIB). [...] O que fazer então? Foco na contenção permanente de despesas e no aumento temporário de receita. Por exemplo, o programa de repatriação”, alegou.
Mulheres
Duramente criticado por ter montado um ministério sem mulheres quando assumiu a Presidência, Temer fez questão de ressaltar aos conselheiros que ele dobrou a representatividade feminina no "Conselhão" em comparação ao grupo que assessorava Dilma.
Atualmente, a única mulher no primeiro escalão do governo Temer é a advogada-geral da União, Gracie Mendonça.
Reforma da Previdência
No discurso de abertura, Temer ainda afirmou que enviará o texto da reforma da Previdência Social ao Congresso Nacional em dezembro. Para o presidente, o ajuste fiscal só estará completo com a proposta, que será uma "tarefa difícil".
"Remeteremos ao Congresso Nacional no próximo mês, no fim do ano. Vamos tratar todos com igualdade. Ao fazermos a reforma, ampla e que dure por muito tempo, que [a proposta] faça o Brasil voltar a crescer e de forma justa. Não proporemos uma reforma da Previdência qualquer. Mas uma reforma que respeitará o direito adquirido e trará a equidade entre os setores da atividade pública, privada e política", argumentou.
'Conselhão'
A primeira parte do encontro com os conselheiros começou às 9h30 e se encerrou por volta das 12h30, para o intervalo do almoço.
O presidente oferecerá um almoço aos integrantes do "Conselhão" no Palácio da Alvorada. Ao final do banquete, os conselheiros retornarão para o Planalto para a segunda parte da reunião. A etapa final do encontro será comandada pelo chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Criado em 2003 no governo Luiz Inácio Lula da Silva, o "Conselhão" é um órgão de assessoramento do presidente da República.
O "Conselhão" tem como função auxiliar o chefe do Executivo a elaborar políticas públicas capazes de fazer com que o país cresça economicamente e se desenvolva na área social. Cabe ao presidente da República escolher quem integrará o conselho.
A última vez que os conselheiros da Presidência foram convocado foi em janeiro deste ano, ainda na gestão de Dilma Rousseff.
Além dos conselheiros celebridades, o "Conselhão" de Temer é integrado por pesos pesados do empresariado, como Abílio Diniz (BRF), Claudia Sender (TAM), Jorge Gerdau (Gerdau), e Luiza Trajano (Magazine Luiza).
Também fazem parte do grupo de assessoramento dirigentes das principais entidades empresariais e industriais do país, como Robson Braga (Confederação Nacional da Indústria) e Paulo Skaf (Fiesp).
Apesar de não fazer parte do "Conselhão", o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), também participou do encontro no Palácio do Planalto.
O próximo encontro do "Conselhão" está marcado para 7 de março do ano que vem (veja ao final desta reportagem a lista completa dos integrantes do "Conselhão").
Geddel
Apesar de ser um dos ministros mais próximos de Michel Temer e responsável pela articulação política do Palácio do Planalto, o chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, não participou da reunião do "Conselhão" nesta segunda-feira.
Na última semana, o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero acusou Geddel de tê-lo pressionado a liberar a construção de um empreendimento imobiliário em Salvador embargada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan) e no qual o titular da Secretaria de Governo comprou um apartamento.
Segundo Calero, a postura do ex-colega foi o principal motivo que o levou a deixar a Esplanada dos Ministérios.
Além de Eliseu Padilha, também compareceram ao encontro do Conselhão os ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Mendonça Filho (Educação).
A assessoria de Geddel informou que o ministro está voltando de Salvador, onde passou o final de semana, e deve dedicar a agenda nesta segunda-feira apenas a "despachos internos".
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