Alliage produzirá equipamentos de raios X digital

Em janeiro do próximo ano, a Alliage – empresa resultante da fusão da Gnatus com a Dabi Atlante, fabricantes de equipamentos odontológicos, em Ribeirão Preto – deverá colocar no mercado o primeiro lote de um aparelho para a realização de exames de raios X digital. “Trata-se de uma tecnologia disruptiva que muda o conceito de leitura de imagem”, afirma Carlos Henrique Banhos, diretor de engenharia industrial da Alliage.

A nova tecnologia é resultado de uma fértil parceria entre a indústria, o Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CePOF) – apoiado pela Fapesp – e o Instituto Atlântico, no Ceará – entidade civil sem fins lucrativos dedicada à pesquisa e ao desenvolvimento na área de tecnologia da informação e comunicação –, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por meio do Fundo Tecnológico (Funtec).

O novo equipamento utiliza o mesmo princípio dos aparelhos convencionais, mas, em vez de impressionar uma base de prata, a radiação incide sobre um filme fotoluminescente constituído por sais de terras-raras, entre outros materiais, excitando as cargas eletrônicas das moléculas das substâncias que o compõem. “Ao interagir com os raios X, as moléculas atingem um estado metaestável; em seguida, um laser é utilizado para escanear o filme, varrendo sua superfície”, explica Vanderlei Bagnato, coordenador do CePOF.

Ao incidir em cada ponto do filme, o laser fornece energia necessária para que essas moléculas emitam uma luz azul. “Quanto mais luz, mais radiação sobre o filme, o que permite mapear toda a intensidade de raios X”, resume Bagnato.

A utilização de filmes em raios X digital já era tecnologia conhecida; a novidade está no escâner a laser que “lê” o filme e encaminha em tempo real a imagem gerada para um monitor de alta resolução. O processamento da radiografia digital exigiu também o desenvolvimento de softwares com aplicativos que permitem não apenas visualizar a radiografia, mas também observar, por exemplo, a densidade óssea. A parte óptica do laser foi desenvolvida pelo CePOF, e a plataforma eletrônica e o programa de processamento, pelo Instituto Atlântico, no Ceará.


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“O produto, que chegará ao mercado com a marca Eagle, será competitivo também fora do país”, afirma o diretor da Alliage. “A empresa já vende para 150 países e o equipamento de raios X digital vai agregar valor ao nosso portfólio de exportação.”

Tecnologia utiliza laser desenvolvido por CEPID da FAPESP e melhor
qualidade de radiografias realizadas em consultórios odontológicos
Imagem:CePOF

A tecnologia está sendo patenteada, informa Bagnato. Os royalties serão compartilhados entre os parceiros e também com o Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos, instituição que sedia o CePOF, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da Fapesp.

O equipamento de raios X digital melhora a qualidade das radiografias realizadas em consultórios odontológicos e reduz a radiação em até 80%. “A baixa densidade de raios X é compensada na leitura, já que o escâner permite controlar o grau de resolução”, explica Bagnato.

O próximo passo, ele adianta, é utilizar a mesma tecnologia em ortopedia ou em exames de raios X de mamas, por exemplo. “Uma startup está solicitando à Fapesp recursos do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) para avaliar a osteointegração de implantes”, adianta Bagnato.

A Gnatus é parceira do Instituto de Física da USP de São Carlos desde 1995, antes mesmo da constituição do CePOF, em 2000. “Quando identificamos a demanda para o desenvolvimento do equipamento de raios X digital procuramos o prof. Bagnato”, conta Banhos. “Desenvolvemos juntos o projeto que submetemos ao Funtec do BNDES.”  

Os CEPIDs foram concebidos com a missão de desenvolver pesquisa de ponta, de competitividade global, buscar oportunidades para a sua aplicação e contribuir para a difusão do conhecimento gerado nas investigações.

Além do apoio da Fapesp por um período de até 11 anos, os Centros contam com recursos das instituições-sede – na forma de pagamento de salários a pesquisadores e técnicos, por exemplo –, de empresas parceiras e de outras agências de financiamento à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico.