Fonte: Folha Online - 18/07/07
Mesmo depois de o Ibama conceder licença para as hidrelétricas do rio Madeira e de o governo decidir construir a usina de Angra 3, o risco de apagão continua a rondar o país. De acordo com estudo divulgado hoje pelo Instituto Acende Brasil, que representa investidores em energia elétrica, o risco de faltar energia chega a 32% em 2011.
No melhor dos cenários --que considera que o Brasil só vai crescer 4% ao ano e que nenhuma das usinas previstas para entrar em funcionamento nesse período vai atrasar-- a chance de apagão é de 16,5%, muito acima dos 5% considerados normais pelo governo.
De acordo com o consultor Mário Veiga, responsável pelo estudo, os grandes projetos anunciados pelo governo e incluídos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) não excluem o risco de apagão nos próximos quatro anos porque as usinas só ficarão pronta depois disso. "Angra 3 só entra em 2014 e o Madeira em 2012, o que não ajuda. A maior parte das usinas planejadas para 2011 já existem, se você tem um buraco no planejamento, não tem pra onde recorrer", disse Veiga.
O estudo mostra que faltarão cerca de 3,1 mil MW médios, o que equivale à soma das usinas de Santo Antônio, no Rio Madeira, e de Angra 3. A situação é pior para os chamados consumidores livres, grandes consumidores de energia, como indústrias e shoppings, responsáveis por 10% da energia consumida no país. Como eles compram energia diretamente das geradoras, são obrigados a ter contratos ou, do contrário, serão multados pelo governo.
"Essa falta está predominantemente na conta dos consumidores livres que fizeram uma opção de contratar energia a curto prazo e agora não têm para onde recorrer", declarou o presidente do instituto, Cláudio Sales. De acordo com Veiga, a multa para os consumidores livres sem contratos no ano que vem pode chegar a R$ 1 bilhão.
Alternativas
Apesar do tom alarmista, o estudo do Acende Brasil apresentou alternativas para a falta de energia. De acordo com Sales, uma das opções é "destravar" as usinas que produzem energia a partir de biomassa, como bagaço de cana-de-açúcar.
Essas usinas, principalmente na Região Centro-Oeste, têm capacidade para gerar cerca de 1.800 MW de energia, mas não participaram do leilão de energia alternativa, em junho porque, segundo Sales, as distribuidoras não tinham como garantir a transmissão dessa energia. " A ação número um é conectar as usinas de biomassa", disse Sales.
Além disso, eles sugerem leilões específicos para consumidores livres e que o governo planeje novas usinas termelétricas para esse período --mais caras e mais poluentes.
Cenários
O estudo apresentado pelo instituto desenhou quatro cenários para os próximos quatro anos. O mais pessimista, considera que obras do setor atrasarão e que o país crescerá 5% por ano, como prevê o governo. Nesse cenário, o risco de racionamento de energia já é grande em 2010, de 14%, sendo de 32% no ano seguinte.
Nos dois cenários intermediários, em que a demanda é alta, mas não há atrasos ou os atrasos ocorrem, mas o país cresce apenas 4%, o risco de apagão é de 28% e 21% respectivamente. No cenário mais otimista, o risco é de 16,5%.
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