Entidades de dez países reforçam combate ao excesso de produção de aço no mundo

Instituto Aço Brasil aponta que o setor siderúrgico brasileiro vive a pior crise de sua história

Dez associações da indústria do aço dos Estados Unidos, Canadá, México, América Latina, Brasil, Europa e Turquia endossaram comunicado global sobre excesso de capacidade de produção de aço no mundo, assinado por governos das Américas, Ásia e Europa em abril passado, após a Reunião de Alto Nível da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), realizada em Bruxelas, Bélgica. No Brasil, o posicionamento das entidades do setor siderúrgico foi divulgado nesta terça-feira (10).

Em consequência da reunião da OCDE, os governos do Canadá, União Europeia, Japão, México, República da Coreia, Suíça, Turquia e Estados Unidos reconheceram que os desafios enfrentados pela indústria siderúrgica têm dimensão global e, por essa razão, precisam ser tratados por meio de um diálogo também em nível mundial e de caráter permanente.

Houve consenso na avaliação de que apesar de esses desafios do setor resultarem, muitas vezes, de problemas econômicos ou estruturais, há medidas que vêm sendo tomadas por alguns países que acabam contribuindo para o aumento do excedente de produção e distorções nos fluxos de comércio, além de práticas de concorrência desleal.

O presidente-executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Mello Lopes, salientou que a expectativa era que a reunião da OCDE resultasse na elaboração de medidas para reduzir a capacidade de produção atual e que houvesse avanços no sentido de inibir a implantação de novas capacidades instaladas, que disponham de apoio governamental e subsídios. “Não adianta cortar e continuar colocando capacidades”, argumentou.

O excesso de capacidade alcança hoje cerca de 700 milhões de toneladas de aço, dos quais 400 milhões são da China. A OCDE prevê que, em 2017, o excesso de capacidade de produção siderúrgica chegará a 800 milhões de toneladas no mundo. Lopes, esclareceu que, devido ao posicionamento adotado pelo governo chinês no encontro da OCDE, não houve avanços nessas duas áreas.


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Mello Lopes disse que a manifestação das entidades do setor era um desagravo que demonstrava a frustração pelo fato de não terem sido tomadas as medidas esperadas e necessárias para reduzir “essa enorme capacidade instalada”.

Segundo o presidente-executivo do IABr, a situação no Brasil é muito delicada, porque o mercado interno continua muito fraco. Lopes disse que todos os países estão tomando providências de fechamento dos seus mercados para a exportação de aço da China. “E nós aqui, não”, lamentou. No momento, acrescentou, é importante que o Brasil esteja atento e tenha capacidade de, “ao identificar um novo surto de exportação siderúrgica para cá, consiga reagir a tempo de evitar maiores danos”.

Há 15 anos, a China entrou com protocolo de acesso na Organização Mundial do Comércio (OMC) e entende que esse acesso é automático ao fim desse prazo, que termina no dia 12 de dezembro próximo. O IABr e as demais entidades internacionais do setor entendem que o acesso não é automático. Caberá à OMC resolver essa disputa.

Cenário

Números do IABr mostram que a produção siderúrgica brasileira, acumulada nos três primeiros meses deste ano, somou 7,4 milhões de toneladas de aço bruto e 5,1 milhões de toneladas de laminados, com redução, respectivamente, de 12,3% e 17,5% em comparação a igual trimestre de 2015. As vendas de laminados no mercado interno caíram 23,3% entre janeiro e março e a de semiacabados, 7,3%. Do mesmo modo, o consumo aparente nacional atingiu 4,3 milhões de toneladas no primeiro trimestre deste ano, revelando queda de 29,3% em relação aos três primeiros meses de 2015.

O IABr aponta que o setor siderúrgico brasileiro vive a pior crise de sua história. Essa crise vem se agravando devido a fatores estruturais, como custo de energia, custo tributário, cumulatividade de impostos, juros e câmbio.

De acordo com Mello Lopes, o impacto dos fatores estruturais e conjunturais sobre a indústria de transformação como um todo, na qual se insere a indústria do aço, reflete em perda de competitividade e queda do consumo interno. Nos três segmentos que representam juntos 80% do consumo de aço no Brasil, que são automotivo, construção civil e bens de capital, o consumo de aço caiu, respectivamente, 39%, 19% e 27% no acumulado de 2014 e 2015, indica o instituto.


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