MAN Latin America vira a chave para voltar a crescer

Depois de enxugar estrutura, companhia quer ampliar negócios com exportações.

A MAN Latin America garante ter superado a fase de lamentação por causa das insistentes quedas do mercado brasileiro de caminhões. A companhia decidiu deixar o pessimismo de lado para anunciar o plano Vire a Chave. “Desde 2013 estamos nos readequando internamente para acompanhar a demanda mais baixa. Fizemos a lição de casa e agora chega de enxugar. É hora de olhar para a frente e voltar a crescer”, declarou o presidente da companhia, Roberto Cortes, na quarta-feira (13).

A estratégia ambiciosa passa por dobrar o peso das exportações nos negócios nos próximos três anos. Hoje 15% a 20% da produção local da companhia é vendida a outros mercados. A meta é elevar este porcentual para entre 30% e 40%. Além de veículos acabados, esta conta inclui a exportação de kits CKD e SKD para a montagem em outras estruturas fabris da companhia, como Colômbia e África do Sul. Está em construção ainda uma planta na Nigéria que também será abastecida com componentes brasileiros. 

Localmente o plano é fazer ofensiva na área comercial, com estrutura forte de engenharia do cliente, vendas e pós-venda. Assim, a empresa terá mais condições de gerar vendas incrementais além daquelas feitas nas concessionárias, com adaptação e desenvolvimento de veículos à necessidade do cliente. Cortes garante que tem colhido bons resultados desde o começo do ano. “Geramos a venda de 300 unidades adicionais”, conta, citando encomendas da Coca-cola, da Risa e um lote de 38 unidades do caminhão MAN TXG em uma versão crossover ideal para a operação fora de estrada. 

A empresa pretende detectar assim as melhorias que o mercado procura para desenvolver novos caminhões e ônibus. “Vamos ampliar a nossa gama e entrar em novos segmentos”, diz. O dirigente assegura que a MAN não fez nenhum corte no investimento de R$ 1 bilhão anunciado para o Brasil entre 2012 e 2017. Deste total, cerca de R$ 400 milhões serão aplicados entre este e o próximo ano. “Apenas redirecionamos o que seria investido em capacidade produtiva para a área de produtos”, esclarece. Em breve a empresa vai inaugurar pista de testes em sua fábrica de Resende (RJ), que deve ser usada intensamente no desenvolvimento de novos modelos nos próximos anos.


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Retomada rápida

Ao anunciar o plano Vire a Chave, Cortes mostrou raro otimismo entre os líderes da indústria automotiva. Ele aposta em retomada rápida assim que o cenário político se definir. “Com ou sem impeachment, precisamos apenas de uma mudança na postura, com mais responsabilidade com as contas públicas. O que falta é confiança porque o resto nós temos”, avalia. Segundo ele, o abalo é conjuntural, não estrutural, já que, na visão dele, o País tem bom nível de reservas cambiais e instituições fortes e independentes.

“Nossos clientes querem e precisam comprar veículos, mas não vão fazer isso agora, em um momento de incerteza”, aponta. Cortes acredita que, se a turbulência política for superada logo, ainda em 2016 o mercado de veículos comerciais vai inverter a curva de queda e começar a crescer. Em um ou dois anos as vendas voltarão a patamar mais sustentável, ele diz, apostando em mercado próximo de 150 mil veículos por ano. “Esta crise é a pior que eu consigo me lembrar, mas estamos acostumados com isso no Brasil. Acredito em retomada rápida. Vamos reagir com velocidade quando as coisas melhorarem”, garante. 

A sede da empresa em Resende passou por profunda reestruturação. Dos 5,5 mil funcionários que a MAN chegou a ter ali, hoje são apenas 3,5 mil colaboradores. O corte foi feito por meio do Programa de Demissão Voluntária (PDV) e de estímulo à antecipação de aposentadorias. “Com isso ficamos com uma empresa jovem e enxuta”, diz Cortes. A companhia manteve, no entanto, a sua rede de concessionárias, que conta com 150 casas no Brasil.

De volta ao azul

A redução da força de trabalho da MAN é menor do que o tombo na demanda por veículos comerciais. Dados da Anfavea mostram que a ociosidade da capacidade produtiva do setor chega a 80%, com previsão de que sejam feitos no Brasil apenas 100 mil caminhões e ônibus este ano do total de 440 mil unidades que a indústria tem potencial para fabricar.

A projeção de mercado da entidade é de que as vendas de veículos comerciais somem entre 67 e 70 mil unidades, o que representa queda de 70% na comparação com 2011, ano recorde para o setor, quando a empresa produziu localmente 80 mil veículos, alcançando o topo de sua capacidade produtiva. Com o recuo das vendas, a companhia reduziu o ritmo e a operação trabalha agora em apenas um turno, quatro dias por semana. Com isso, volume feito em Resende em 2016 deve ficar em torno de 20 mil unidades. 

No cenário de queda, o plano Vire a Chave da MAN também tem a missão de colocar a empresa de volta ao azul. Desde o ano passado a operação na América Latina não rende lucros por causa da situação difícil no Brasil. “Os custos subiram e os preços dos caminhões permanecem no mesmo patamar de anos atrás. Conseguimos enxugar nossas despesas internas em 30% e, devagar, começamos a reajustar os nossos produtos”, aponta Cortes.