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Por quase 40 anos, as reservas de hidrocarbonetos do Mar do Norte compreenderam um recurso vital à economia de cinco países europeus: Noruega, o Reino Unido, Dinamarca, Alemanha e Holanda. Desde que o primeiro licenciamento para exploração de óleo e gás na região foi fornecido, em meados dos anos 1960, mais de 40 bilhões de barris de petróleo (um valor equivalente, que inclui o gás em termos de valor) foram extraídos das dobras e fissuras do fundo do mar e a maioria das estimativas sugere que a extração dos 24 bilhões de barris remanescentes pode continuar por mais 30 ou 40 anos.
Enquanto a indústria do Mar do Norte ainda pode olhar para o futuro com esperança – e a exploração continua em regiões ao Noroeste do continente europeu, como acontece a oeste de Shetland – as mentes da indústria começam a se voltar para o que fazer quando as reservas acabarem. Está claro que estamos mais próximos do final do que do começo. Então, como toda uma era de exploração de gás e óleo no Mar do Norte será levada ao fim?
Alguns notáveis desmantelamentos de poços já foram realizados. O campo Shelley, que possuía duas plataformas de produção, foi fechado em 2012. O campo Frigg cessou a produção em 2004 e todas as suas plataformas foram fechadas e abandonadas. Mais de 85 mil toneladas de aço foram removidas deste campo e desmontadas pelo contratante, Aker Kvaerner, em Shetland e Stord, Noruega; todo o material foi reciclado, grande parte por fundição e laminação. O campo de North West Hutton foi desativado pelo governo do Reino Unido, em 2002, e um programa de desmantelamento foi aprovado em 2006. O topo foi levado às instalações da Able em Hartlepool, mas as fundações e furos foram deixados no lugar; as tubulações de óleo foram enterradas. O desmantelamento do campo Ekofisk, na Noruega, teve início em 2005 e ainda não terminou.
De acordo com a organização Oil & Gas UK, em torno de £1 bilhão foi gasto por produtores do Reino Unido no ano passado apenas em atividades de desativação. A organização aponta para os perigos da desativação precoce, motivada por quedas na receita devido a baixas no preço do petróleo. “A bacia (do Mar do Norte) precisa de altos e consistentes investimentos – £94 bilhões apenas para extrair as reservas conhecidas e equivalentes a 10 bilhões de barris de petróleo”, disse o executivo chefe Malcolm Webb.
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O gatilho para a desativação das maiores instalações de óleo e gás do Mar do Norte já foi disparado, por cortesia da Shell, que anunciou, no início deste ano, que deverá desativar em breve o campo que, de diversas formas, definiu o modelo para exploração de larga escala na região: o campo de Brent. Aproximadamente 140m abaixo da superfície do mar e 186km a Noroeste de Lerwick, em Shetland, Brent foi descoberto em 1971, tornando-se o segundo campo de exploração de petróleo da Shell no Mar do Norte e sendo um dos mais produtivos do Reino Unido desde então, inclusive emprestando seu nome ao tipo de óleo bruto e genérico vendido no mercado internacional. No seu auge, o campo de Brent chegou a extrair meio milhão de barris por dia; a Shell diz que o campo foi responsável por um décimo de todo o óleo e gás extraído no Mar do Norte e que gerou £20 bilhões apenas em arrecadação tributária.
Brent possui quatro plataformas – Alpha, Bravo, Charlie e Delta – das quais apenas Charlie ainda está em atividade (a produção na plataforma Delta foi encerrada em 2011; em Alpha e Bravo, no último mês de novembro). Espera-se que a produção da Charlie se encerre nos próximos anos. A atenção da Shell, no entanto, está voltada para o desmantelamento da plataforma Delta, para o qual foi lançado um programa de consultoria em fevereiro.
Esta é uma tarefa colossal por si só – uma das maiores na história da Shell, segundo Erik Bonino, chairman da Shell UK. Está sendo proposto que o topo da estrutura – a plataforma em si, que está montada sobre três colunas de concreto monumentais – seja removido em 2016 na forma de uma peça única de 23 mil toneladas, pelo navio guindaste “Pioneering Spirit”, este tão longo quanto cinco Boeings 747 e construído expressamente para esta função pela empresa Allseas. A plataforma será levada para as instalações da Able em Hartlepool, onde será desmontada. Dessa forma, afirma a Shell, será possível reutilizar ou reciclar 97% do material.
O desmantelamento de Brent já foi controverso, especialmente em 1995, quando a Shell propôs se desfazer da boia de armazenamento de petróleo Brent Spar afundando-a no Atlântico Norte. Em uma campanha de oposição do Greenpeace, a boia foi ocupada por ativistas por um período de três semanas. A oposição crescente levou a empresa a voltar atrás, a preservar a estrutura e, eventualmente, cortá-la em anéis, limpá-la e utilizar o material para construir uma extensão a um cais em Mekjarvik, na Noruega. Atenta para evitar uma repetição deste episódio, a companhia está sendo cuidadosa na busca por opções para o desmantelamento de Brent.
As estruturas remanescentes da plataforma Delta de Brent - as “pernas”, assentadas sobre aglomerados de estruturas de armazenamento de petróleo, alcançando 60m de altura e atualmente recheadas com um tipo de sedimento conhecido como “Attic oil” (o óleo aprisionado na parte superior do poço) – serão desmontadas e removidas gradualmente, enquanto o material contaminado é levado a terra-firme para tratamento e posterior descarte. Há também pilhas de cavaco de rocha – fragmentos resultantes da perfuração da rocha e que contém “lama” composta pelo lubrificante utilizado no processo – e, sob o fundo do mar, há oleodutos cuja remoção e descarte já estão sendo avaliados.
E esta é apenas uma plataforma. Brent possui três outras plataformas, 140 poços e 28 oleodutos, todos precisando de remoção ou tratamento como parte do processo de desmantelamento. “As habilidades em engenharia e planejamento que levaram à descoberta e ao subsequente sucesso na produção de óleo e gás por mais de quatro décadas são essenciais durante o desmantelamento, que é o próximo e natural estágio da vida do campo,” diz Alistar Hope, diretor do projeto de desmantelamento de Brent.
E, novamente, este é apenas um campo petrolífero. De acordo com a Oil & Gas UK, entre 2014 e 2023, um total de 927 poços nos mares do Norte e da Irlanda cessarão a produção, o que representa 58% dos poços das regiões norte e central do Mar do Norte e 80% dos poços do sul do Mar do Norte e da Irlanda. Há 246 estruturas de topo para serem removidas de 104 plataformas que, somadas, pesam 281,6 mil toneladas. Mais 134 mil toneladas de estruturas submarinas também precisam ser removidas, incluindo 3277km de oleodutos.
Decom North Sea (que, em português, diz algo como “Desmontando o Mar do Norte”), um fórum constituído para unir os operadores e prestadores de serviço na indústria, estima que, entre 2010 e 2040, as atividades de desmantelamento irão consumir entre £30 e £35 bilhões. A respeito dos planos da Shell, o chefe executivo da Decom North Sea, Nigel Jenkins, disse que “o desmantelamento do Mar do Norte é um negócio em desenvolvimento, sendo novidade para muitos e sendo mal interpretado por muitos mais”. Não se trata do fechamento prematuro do Mar do Norte, nem representa o fim da indústria, reforça Nigel. “A decisão da Shell de antecipar a apresentação do processo de desmantelamento da estrutura de topo do Brent para o DECC (departamento de energia e mudanças climáticas do governo do Reino Unido) claramente não foi uma reação à queda dos preços do petróleo, mas o resultado de um entendimento de longo prazo de que o campo estava se aproximando do final da sua vida e de que, em breve, a estrutura não seria mais necessária.”
Desmantelar um campo petrolífero é um processo longo e complexo que se inicia antes de a produção começar a cair. Há sete estágios principais nesse processo:
• Gerenciamento do projeto, que normalmente tem início três anos antes do poço secar. Isso envolve a revisão das obrigações contratuais do operador; análise de engenharia do campo e das instalações do operador; e planejamento operacional, o que pode compreender um extenso pré-planejamento.
• Licenciamento e conformidade regulatória também podem se tornar processos demorados, devido à grande quantidade de órgãos reguladores diferentes que precisam ser informados e emitir aprovação para o desmantelamento.
• A preparação da plataforma inclui a descarga e limpeza de tanques e de equipamentos de processamento, o descarte dos hidrocarbonetos, a remoção dos equipamentos da plataforma e a remoção da fauna marinha que se anexou à estrutura durante o tempo de atividade. Nesse período, a plataforma ainda é considerada “viva” devido à presença dos hidrocarbonetos e todas as instalações, a energia e os sistemas de segurança devem permanecer funcionais.
• Tampar o poço abandonado é uma das atividades mais custosas do processo, envolvendo a remoção do revestimento do poço e a vedação de todos os pontos onde os hidrocarbonetos escoam para ele. Isso pode ser feito com tampas temporárias, para caso se opte por reativar a exploração do poço no futuro, mas esta decisão deve ser tomada antes do início da atividade, visto que poços selados permanentemente não podem ser reiniciados.
• A remoção da estrutura pode ser feita de uma única vez (como no caso do uso de um navio-guincho de grande porte para remoção de toda a plataforma Brent Delta) ou fracionada, desmontando-se a unidade no local e removendo suas partes separadamente. A melhor opção diferirá para cada caso.
• Pode-se, então, proceder para a desmontagem e remoção dos oleodutos e cabeamentos de energia, caso o processo não interfira na navegação e em atividades pesqueiras da região. Caso contrário, tubos e cabos devem ser enterrados no fundo do mar.
• O descarte de materiais e a limpeza do sítio incluem a desmontagem e tratamento das estruturas de topo, alocação de detritos e outros materiais antes e depois do processo de remoção, lançamento de mergulhadores e ROVs (veículos de operação remota) para remoção de detritos remanescentes e para testar e garantir que nenhuma obstrução permaneça.
Selar e abandonar (P&A, de “plugging and abandonment”) é, talvez, o maior desafio técnico do processo de desmantelamento, pois envolve a interação com a estrutura do poço propriamente dito. Cada vez mais frequente essa operação é realizada com equipamentos modulares, projetados, construídos e operados por especialistas, que são transportados ao local especificamente para esta tarefa.
Um desses equipamentos é o Topaz, operado pela companhia de serviços para campos petrolíferos Archer, que está tomando conta das atividades de P&A no campo norueguês de Heimdall, ao norte do Mar do Norte. O gerente técnico da construção do Topaz, Geir Hagen, diz que equipamentos modulares representam boas soluções para operações de furação em poços antigos. “Muitas destas plataformas operaram como instalações de produção por décadas, mas não perfuraram por anos. Em muitos casos, incluindo o de Heimdall, o equipamento de perfuração já foi levado embora; quando ainda está lá, normalmente é antiquado. Unidades como o Topaz são construídas com padrões modernos e estão de acordo com as regulamentações vigentes. São feitos para serem elevados à plataforma com os seus próprios guindastes, trazendo exatamente o equipamento necessário para o trabalho. Em termos de custo, é uma forma eficiente de fornecer aos operadores das plataformas as tecnologias de que eles precisam.”
O Topaz e o seu equipamento irmão, Emerald, foram ambos construídos por Max Streicher, especialista alemão em offshore, são projetados para ser tão compactos e mecanicamente eficientes quanto possível, para serem preparados rapidamente para atuar e para serem operados por equipes pequenas. São particularmente adequados ao Mar do Norte, diz Hagen, e a empresa planeja construir mais conforme a demanda por atividades de P&A cresça. No momento, a Emerald está alocada em um equipamento da Shell na Nova Zelândia, realizando operações de perfuração. “O uso de equipamentos modulares está se tornando amplamente aceito pelos maiores nomes do mercado,” adiciona Hagen.
“Perfurar é usualmente a alternativa mais fácil para selar poços,” diz Hagen. “O revestimento do poço deve ser removido para abaixo do nível em que os hidrocarbonetos são produzidos, e ele é aterrado em sua posição, então, na prática, estamos os triturando e os removendo para que possamos introduzir o plugue para selar o poço.” Selos temporários são similares aos equipamentos utilizados para tampar poços em emergências, enquanto os permanentes são normalmente feitos em concreto.
O desmantelamento compreende uma indústria por si só, uma em que o Reino Unido está se adequando para se tornar um centro de excelência. Enquanto as atividades de perfuração e produção seguem adiante no Mar do Norte e em outros lugares da plataforma continental do Reino Unido, limpar os restos do processo é uma parte tão significativa da indústria quanto o bombeamento dos hidrocarbonetos em si.
*Tradução livre CIMM, texto original aqui.
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