Custos geram cautela no setor de irrigação

Aumentos da eletricidade e do óleo diesel podem causar redução na compra de equipamentos pelos agricultores.

O setor de equipamentos para irrigação está mais cauteloso devido ao aumento das contas de energia e ao efeito da crise hídrica em alguns estados. Segundo estudo da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), a elevação dos preços da luz e do diesel terão impacto de pelo menos R$ 172,00 por hectare nos custos de produção das lavouras irrigadas de milho, soja e arroz. Com o produtor menos capitalizado, a tendência é de diminuição na aquisição de implementos. Em São Paulo, a situação é agravada pela crise hídrica, o que tem atrasado a outorga de licenças ambientais. Entretanto, a indústria projeta triplicar a área irrigada no Brasil em médio e longo prazos.

Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers), Cláudio Bier, três fatores podem ter impacto sobre o setor neste ano. Além do aumento das contas de energia elétrica e a falta de água em determinadas regiões do País, a elevação dos custos de produção, especialmente da cultura do arroz no Rio Grande do Sul, também reduzirá a capacidade de investimento do agricultor. “Os arrozeiros estão gastando muito com pulverização no combate de doenças nesta safra. Com certeza, ele vai comprar menos implementos, pois sua margem vai diminuir”, afirma.

O gerente comercial da Bauer Irrigation, de Passo Fundo, Djalma Dallagnol, afirma que a retração nas vendas dos fabricantes de máquinas e implementos de irrigação se arrasta desde 2014. Segundo Dallagnol, a perdas, na comparação com 2013, variaram entre 10% e 15%, cenário que deve se repetir neste ano. “Acreditamos que 2015 não será diferente. Sem dúvida haverá impacto no setor, pois o produtor está menos capitalizado, e a cautela em novos investimentos será uma realidade. Não somente pelo aumento dos custos de energia e combustível, mas também pelas perdas nas lavouras em função da estiagem em boa parte do País”, explica.


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Outro ponto que preocupa a indústria é a possibilidade de cortes nos financiamentos oriundos de programas como o Finame, PSI e Moderinfra. Em São Paulo, em âmbito estadual, o governo sinalizou, inclusive, com a possibilidade de cancelamento de linhas crédito destinadas especificamente para a irrigação, tendo em vista o agravamento da crise hídrica. “Os programas continuarão operando, mas, provavelmente, o BNDES reduzirá o montante de recursos e modificará taxas de juros e prazos”, projeta Dallagnol. Para Bier, os próximos meses serão decisivos para a definição das taxas dos programas federais. “O crédito está mais escasso e caro. Mas ainda é cedo para fazer projeções, já que precisamos esperar para ver se o governo fará mais concessões ao Finame, por exemplo.”
Crise hídrica também preocupa empresários

Em São Paulo, representantes da Câmara Setorial de Equipamentos de Irrigação (CSI), da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), estiveram reunidos com o secretário de agricultura, Arnaldo Jardim, para tratar do tema e sua relação com a crise hídrica na região. O vice-presidente da CSI, João Rebequi, não acredita na possibilidade de restrições à agricultura irrigada por parte do governo, uma vez que o setor é essencial para o abastecimento de hortifrutigranjeiros na região metropolitana e, hoje, o índice de desperdício é de água apenas 2%. “O que vamos fazer é incentivar os revendedores para propor ajustes constantes nos equipamentos em áreas críticas”, explica.

Rebequi aposta em um ano menos vantajoso para a indústria de implementos. “É um período de cautela. Afinal, o produtor que irriga precisa de água e energia. Uma está cara e outra, escassa”, pondera. A principal dificuldade, na sua visão, deve ser na obtenção de outorgas governamentais para aprovação dos projetos ambientais, o que já vem acontecendo no caso paulista, segundo ele. Mesmo assim, Rebequi projeta um cenário favorável em médio e longo prazo. “Hoje, o Brasil tem apenas 5 milhões de hectares irrigados em um universo produtivo de 60 milhões de hectares. Temos potencial para chegar aos 30 milhões de área irrigada.”  

A cultura do milho apresenta rendimentos acima da expectativa inicial, segundo informações da Emater. Em muitos casos, áreas com irrigação estão apresentando produtividades elevadas, impulsionando as médias de algumas regiões para cima.

A colheita avançou em ritmo considerado normal e alcança, no momento, 33% da área plantada, índice igual ao registrado em 2014 nesta mesma época. A qualidade dos grãos também é considerada boa, e os produtores apressam a retirada da cultura das lavouras para diminuir os riscos de perdas em qualidade. Em algumas situações, parte da área colhida em janeiro está sendo novamente cultivada com milho e em pequena parte com soja.

No momento, predominam na cultura da soja as fases de floração e enchimento de grãos (85% das lavouras), com algumas áreas já em início de maturação, apresentando bom aspecto fitossanitário e potencial produtivo elevado em muitos casos. Nesse sentido, as condições meteorológicas verificadas na última semana (boa insolação, chuvas rápidas de média intensidade e temperaturas altas) têm sido benéficas à cultura.

Os agricultores seguem monitorando as lavouras e fazendo o controle das pragas, principalmente o percevejo, que está presente com maior intensidade devido ao atual estágio de desenvolvimento das plantas. As doenças estão dominadas, pois os focos de ferrugem asiática já foram combatidos oportunamente.

A colheita das primeiras lavouras de arroz do Rio Grande do Sul alcança 2% do total plantado, prosseguindo de forma incipiente nas áreas plantadas ainda em fins de setembro e localizadas, sobretudo, na Fronteira Oeste e em partes isoladas da região Central. A ocorrência de pesadas chuvas em outubro afetou a evolução normal da cultura em diversos locais, retardando o plantio.

Apesar do atraso em algumas áreas, as lavouras que já estavam bem estabelecidas conseguiram uma boa evolução, motivo pelo qual vêm apresentando bons rendimentos neste início de colheita, ficando em muitos casos próximas dos oito mil quilos por hectare. É bem provável que as lavouras implantadas mais tardiamente não repitam esses resultados. Todavia, em termos gerais, o padrão e o potencial de produção são considerados bons na maioria dos casos.