Pequenas mineradoras brasileiras resistem em meio a preços baixos do minério

As pequenas mineradoras brasileiras estão se mostrando resistentes diante dos baixos preços globais de minério de ferro, ao avançar com projetos de expansão, mesmo com a redução das chances de uma rápida recuperação nas cotações.

Entrevistas com representantes de cinco empresas consideradas menores mostraram que essas companhias não estão tão pressionadas a deixar o mercado como alimentam as esperanças das gigantes mundiais de mineração.

A permanência dessas companhias é alimentada por empréstimos bancários a custos baixos e também por uma flexibilidade para vender a matéria-prima do aço localmente ou no exterior.

O preço do minério de ferro caiu cerca de 40 por cento neste ano, com o incremento da produção de grandes mineradoras australianas, assim como pela desaceleração da demanda chinesa.

A "três grandes" em minério de ferro - Vale, BHP Billiton e Rio Tinto - argumentam que os baixos preços do minério vão conduzir mineradoras de maior custo para fora do mercado, tornando possível uma recuperação de participação de mercado e um crescimento dos preços da commodity.

"Nós esperávamos um processo mais rápido de ajustes e hoje está muito claro que esse processo é mais lento, e que essas empresas, antes de entregarem os pontos, vão tentar de toda maneira resistir", disse o diretor-executivo de Ferrosos e Estratégia da Vale, José Carlos Martins, em teleconferência com analistas sobre os resultados do terceiro trimestre.

Mas é um processo complicado. Muitos previram um processo semelhante quando os preços do carvão caíram no ano passado, mas o fechamento das minas de carvão tem demorado, mantendo os preços em baixa.

"Eles (pequenos produtores) levaram de 10 a 8 anos para construir a mina, então eles não vão desligá-las ao primeiro sinal de fraqueza de preços", afirmou Andreas Bokkenheuser, analista do UBS.


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"Além disso, em muitos casos custa mais para desligá-la do que para operá-la no curto prazo", acrescentou.

No Brasil, 90 por cento da produção continua a ser rentável com os atuais preços do minério de ferro, de acordo com o grupo de análise CRU. A Vale representa a maior parte dessa produção.

A brasileira Ferrous é uma das que tem se mostrado resistente no atual cenário desfavorável de preços.

"Nós ainda temos margens positivas com o preço atual e continuamos com nosso plano de expansão", disse à Reuters Vanessa Ajeje, gerente de inteligência de mercado da brasileira Ferrous, nos bastidores de um congresso no Rio de Janeiro.

A Ferrous, que atualmente produz 5,5 milhões de toneladas por ano, tem um plano de investimentos em curso de 1,2 bilhão de dólares para expandir sua produção para 23 milhões de toneladas até 2017.

Dois terços do aporte previsto será coberto por repasses do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) e outro terço virá de capital próprio.

As grandes mineradoras estimam que entre 60 e 125 milhões de toneladas de produção de custo mais alto saíram do mercado neste ano. Mas, com um mercado transoceânico em torno de 1,2 bilhão de toneladas e 160 milhões de toneladas de produção nova adicionadas só neste ano, mais desligamentos são necessários para equilibrar o mercado.

Além disso, as saídas das empresas menores do mercado provavelmente vão desacelerar a menos que o preço caia ainda mais.

"É provável que se torne mais difícil de pressionar os produtores para fora do mercado à medida que avançamos ao longo da curva de custo", disse Laura Brooks, analista da Cru.

Mineradoras no Brasil também são ajudadas pela capacidade de vender minério de ferro para uma grande indústria siderúrgica nacional que, apesar viver uma fase difícil agora, deve crescer nos próximos anos.

Diante de preços mais baixos, South American Ferro Metals (SAFM) atrasou um grande projeto de expansão de sua produção atual, de 1,5 milhão de toneladas por ano, optando por buscar um plano mais barato para dobrar a produção até 2016, novamente com financiamento do BNDES.

A empresa também decidiu, devido a menor produção, se concentrar no mercado local, em vez de exportar. O diretor de desenvolvimento, José Márcio Paixão, afirmou que vai retomar seu plano de expansão para 8 milhões de toneladas por ano e as perspectivas de exportação, caso o preço volte a subir.

"Nossa mina é bem próxima a da Vale. Eles sabem que nós não vamos desistir", disse Paixão.

Um número de empresas ainda em fase de exploração também estão avançando, esperando que o preço se recupere a tempo do início de suas produções no país.

"Queremos estar prontos para quando o mercado voltar ao que era", afirmou Carlos Spier, gerente Brasil para a Latin Resources . “Nós temos que ser otimistas, porque se não já teríamos desistido.”