Notícias
Se o governo mantiver os olhos voltados apenas para os estaleiros, os outros elos da cadeia produtiva de navipeças - que padecem de minguados pedidos em carteira - podem naufragar diante da abundância de produtos importados. Essa é a preocupação dos representantes das indústrias, que reclamam da falta de uma política industrial e dizem que o setor está perdendo competitividade.
Os US$ 140 bilhões gastos em importações, somente por meio do Regime Aduaneiro Especial para a Indústria do Petróleo (Repetro), capitaneados pela Petrobras no triênio 2011/2013, causou mal estar entre os fornecedores de navipeças. Apesar do pessimismo, estudos do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) indicam que, embora a área de navipeças avance menos que a naval, a maioria das empresas do segmento aposta em crescimento nos próximos anos.
"US$ 140 bilhões foram gastos com importações. Trata-se de uma quantia expressiva e refere-se apenas a Repetro", afirma César Prata, vice-presidente da Câmara Setorial de Equipamentos Navais e de Offshore (Csen) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). "Os US$ 140 bilhões englobam aquisições de plataformas, mas por outro lado, uma plataforma custa em torno de US$ 1 bilhão, e por mais que se tenha importado plataformas inteiras, quantas foram importadas?", questiona. Pelas suas contas, não chegam perto de 50.
"A Petrobras consumiu cerca de US$ 100 bilhões em importação de navipeças. É uma quantia vultosa", ressalta. Ele observa que "nos últimos três anos, a estatal investiu US$ 120 bilhões e gastou U$ 100 bilhões em importações, gerando empregos e riquezas fora do país".
Com as magras encomendas em carteira, o setor de equipamentos navais da Abimaq prevê para este ano uma retração da ordem de 15%. "Fechamos em 2013 com queda superior a 30%, apenas no ramo de máquinas pesadas. Essa queda indica total desindustrialização nessa área. Nossas indústrias perderam todas as concorrências, que estavam em curso, nos últimos três anos, para dar lugar aos importados", afirma.
Continua depois da publicidade |
Prata prevê que o segundo semestre será praticamente parado.
Para Paulo Sérgio Galvão, gerente regional do Rio de Janeiro da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), se a política de conteúdo local fosse cumprida à risca, funcionaria como "alavancadora" para as indústrias do setor. "Temos competência, qualidade e competitividade. Fornecemos várias plataformas para a Bacia de Campos", afirma Galvão.
A queixa dos fornecedores da área de navipeças encontra eco em um estudo feito pelo Ipea. O levantamento demonstra que há uma forte discrepância no crescimento médio anual dos índices entre a receita do segmento de navipeças e a indústria naval. Fabiano Pompermayer, técnico do Ipea, diz que no período entre 2000 e 2010, enquanto a indústria naval como um todo registrou elevação de 19,5% na receita, o faturamento da indústria de navipeças subiu 6,1%.
O índice é de 5,3% quando são considerados apenas os segmentos cuja produção é mais ligada ao setor naval. De acordo com Pompermayer, "podemos concluir que o setor de navipeças tem tido um desempenho bom, mas ainda não está conectado ao crescimento da indústria naval", afirma.
O levantamento feito pela Ipea foca nas perspectivas para o setor. Das 734 empresas que fazem parte do catálogo de navipeças da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), 98 delas responderam ao questionário e 75,6% das entrevistadas veem como boas as perspectivas para navipeças nos próximos anos. Outros 51,2% confirmam planos de investimentos para ampliar a capacidade operacional. Entre as dificuldades enfrentadas para o desenvolvimento do segmento, os empresários consideram que a carga tributária é a pior de todos (82,5%), seguida pela regulação trabalhista (60,6%).
A Weg está entre as empresas dispostas a investir na área. "Os investimentos em ativos fixos para expansão e modernização da capacidade produtiva somaram R$ 243,7 milhões em 2013, sendo 80% destinados aos parques industriais e demais instalações no Brasil. O restante, às unidades produtivas e subsidiárias no exterior", afirma Helcio Makoto, diretor de vendas da companhia. "Fabricamos todo equipamento necessário para barcos de apoio e para os petroleiros e graneleiros.
Depois de experimentar um ano péssimo em 2013, com vendas em queda livre, a Flexomarine - fabricante de mangotes para operações offshore de carga e descarga de petróleo - aposta em um cenário mais alentador neste ano. "Queremos esquecer que o ano passado existiu. Chegamos a ficar quatro meses sem receber um único pedido e a queda foi superior a 30%", diz Gustavo Loureiro Ferreira Leite, diretor da Flexomarine. Este ano, ao contrário, a carteira de pedidos está aquecida. "Devemos fechar 2014 com acréscimo de 40% no faturamento, com venda de cerca de 600 mangotes.
Gostou? Então compartilhe:
Faça seu login
Ainda não é cadastrado?
Cadastre-se como Pessoa física ou Empresa