BC vê PIB menor e inflação quase no teto em 2014, mas indica que juro não muda

Ao mesmo tempo em que passou a ver a economia crescendo menos neste ano, com contração da indústria e do investimento, o Banco Central piorou suas contas sobre a inflação neste ano e no próximo, mas argumentou que ela entrará em convergência para a meta à frente.

Com isso, reforçou a ideia de que não deve mexer na taxa básica de juro Selic tão cedo. Para boa parte dos especialistas, isso é consequência da preocupação do BC de não afetar ainda mais a atividade.

"(O BC) antecipa cenário que contempla inflação resistente nos próximos trimestres, mas que, mantidas as condições monetárias, tende a entrar em trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção", afirmou o BC por meio de seu Relatório Trimestral de Inflação, divulgado nesta quinta-feira (26).

A projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2014 foi reduzida a 1,6 por cento, ante 2,0 por cento, neste ano em que a presidente Dilma Rousseff tenta a reeleição.

O BC passou a ver a indústria contraindo 0,4 por cento em 2014, bem pior do que a estimativa de expansão de 1,5 por cento vista até então. Segundo a autoridade monetária, essa piora veio da revisão nas estimativas de crescimento da produção da indústria de transformação (de +0,5 para -1,9 por cento) e da construção civil (de +1,1 para -2,2% por cento).

Também vê que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) vai contrair neste ano, com queda de 2,4 por cento, ante projeção anterior de expansão de 1 por cento.

"É um documento que confirma que a Selic vai permanecer inalterada durante muito tempo", afirmou o economista do banco Fibra, Cristiano Oliveira.

Segundo a pesquisa Focus do BC, a expectativa dos economistas é de expansão de 1,16 por cento do PIB neste ano, muito aquém dos 2,5 por cento registrados em 2013. 


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Para o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, o BC deu todas as indicações de que "não pretende" subir a Selic tão cedo, ressaltando que a autoridade monetária também destacou no documento que vê, "em prazos mais curtos", o hiato do produto - descompasso entre oferta e demanda - tornando-se desinflacionário.

Inflação no teto

Sobre a inflação, o BC vê que o IPCA subirá 6,4 por cento neste ano pelo cenário de referência, ante previsão anterior de 6,1 por cento e praticamente no teto da meta do governo - de 4,5 por cento, com margem de 2 pontos percentuais para mais ou menos.

Com isso, o BC passou a ver chances praticamente iguais de a inflação estourar ou não o teto da meta neste ano. Segundo o relatório, a possibilidade de ficar acima do limite está em torno de 46 por cento, frente aos 38 por cento no documento anterior.

O BC vê ainda alta de 5,7 por cento do IPCA em 2015, um pouco acima da projeção anterior (5,5 por cento), e de 5,1 por cento nos 12 meses até junho de 2016.

Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada no início do mês o BC já havia sinalizado que o ritmo de expansão da atividade tendia "a ser menos intenso este ano, em comparação ao de 2013", o que levou boa parte do mercado a acreditar que a taxa básica de juros não seria mexida até o início de 2015. No mês passado, o BC encerrou o ciclo de aperto monetário, que durou um ano e tirou a Selic da mínima histórica de 7,25 por cento para o atual patamar de 11 por cento ao ano. Mas, apesar do movimento, a inflação continua em patamares elevados. O BC têm argumentado que a recente inflação dos alimentos é temporária, balizando a decisão de parar de subir os juros. Mas, por outro lado, demonstra preocupação com a inflação dos preços administrados, com previsão de avanço 5 por cento neste ano. Para 2015, no relatório divulgado mais cedo, o BC piorou a projeção a 6 por cento, frente a 5 por cento.

"O Copom avalia que pressões inflacionárias ora presentes na economia - a exemplo das decorrentes do realinhamento de preços administrados em relação aos livres; do realinhamento de preços domésticos em relação aos externos; e de ganhos salariais incompatíveis com ganhos de produtividade - tendem a arrefecer ou, até mesmo, a se esgotarem ao longo do horizonte relevante para a política monetária", informou o BC pelo relatório.


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