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Empresas de ferro-ligas têm reduzido a produção neste ano por causa do alto custo de energia e, em alguns casos, optado por vender o insumo ao mercado. Assim como o setor de alumínio, em que Alcoa e Votorantim Metais desde o ano passado estão trocando a produção do metal pela venda de energia, as ferro-ligas também enfrentam impacto em suas operações pelo forte aumento do custo energético. Pelo menos cinco empresas, quatro delas de Minas Gerais, estão nessa situação, segundo apurou o Valor.
A Associação Brasileira dos Produtores de Ferroligas e de Silício Metálico (Abrafe) confirmou em nota que algumas empresas estão fazendo paralisações temporárias para manutenção de fornos. "A escassez de chuvas impactou diretamente na atual elevação recorde dos preços de energia elétrica, motivando reprogramações no planejamento da produção", disse a associação ao Valor. São associadas da entidade 14 empresas: Minas Ligas, Dow Corning, Liasa, Nova Era Silicon, Granha Ligas, Vale, CBMM, Anglo American, Inonibras, Ligas Gerais, Grupo Maringá, Ferbasa, Ferlig e Bozel.
Com faturamento de cerca de R$ 8 bilhões ao ano, o setor de ferro-ligas é responsável por 2% do total da energia usada no país e 4% do consumo industrial, segundo a Abrafe. Para essas companhias, 40% dos custos totais vêm da conta de eletricidade, que fica atrás apenas da matéria-prima, como níquel, manganês, nióbio, silício, cromo e cálcio, além do minério de ferro. O terceiro maior custo é com os redutores, para a fusão dos metais.
Nessa atividade, as empresas passam a ter perdas com a operação quando têm de pagar acima de R$ 180 o MWh
Ainda que o preço da energia no mercado livre tenha recuado recentemente, para perto de R$ 600 por MWh, as empresas que precisam comprar não tiveram como manter as operações. Neste setor, as empresas têm prejuízo quando precisam pagar mais do que R$ 180 pelo MWh.
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Uma das empresas reduziu a produção para o volume correspondente ao gasto com energia que tem em contrato, com vencimento em 2017, segundo apurou o Valor. A produção poderia ser 11% maior caso o custo desse insumo estivesse mais baixo. A decisão de não produzir ainda menos para comercializar energia foi tomada para que possa manter seus clientes.
No entanto, empresas que tinham produtos em estoque optaram rapidamente pela venda da energia. "Essas companhias ainda estão conseguindo colocar seu produto no mercado e, ao mesmo tempo, ganhando mais com a energia", disse o executivo, que preferiu não ser identificado.
Mas algumas companhias estão perdendo clientes, sem condições de manter a produção. O espaço deixado vem sendo ocupado pelas concorrentes, como a Ferbasa. Uma das maiores do setor, a empresa baiana afirma que no primeiro trimestre suas vendas de ferrosilício 75 subiram 40% em relação ao mesmo período do ano anterior no mercado brasileiro. Na comparação com o último trimestre de 2013, o crescimento da companhia baiana foi de 31%.
"Foi possível notar, no último trimestre, uma melhora significativa em nossas vendas de ferrossilício no mercado interno, principalmente em razão da decisão de alguns produtores mineiros de paralisar a produção e comercializar energia elétrica", afirmou a empresa em seu relatório do primeiro trimestre deste ano.
"Este aumento de vendas se constitui como uma excelente oportunidade para o fortalecimento de nossa posição no mercado interno de ferrosilício", disse a Ferbasa.
Segundo a Abrafe, as empresas associadas que reduziram produção estão fazendo a gestão das suas paralisações, sejam elas programadas, temporárias ou imprevistas. "As companhias estão priorizando compromissos e obrigações com seus colaboradores e com seus clientes nacionais e internacionais", acrescentou.
Em Minas Gerais, o grupo Rima, que se apresenta como líder no Brasil na produção e venda de ligas à base de silício, também está revendendo energia elétrica. Mas afirma que não reduziu o ritmo de trabalho apenas porque poderia ter um ganho maior com o negócio da energia.
"A empresa decidiu fazer manutenções em três de seus nove fornos. Já estava passando da hora de refazermos o revestimento refratário neles", disse ao Valor o empresário Ricardo Vicentin. "Liquidamos nossos excedentes [de energia] gerados pelas manutenções na Câmara de Compensação de Energia Elétrica (CCEE).
A Rima tem 4 mil funcionários, segundo informa em seu site. E tem unidades fabris em Várzea da Palma e em Capitão Enéas, ambas no norte de Minas.
Vicentin não diz o quanto representa para a empresa a receita com a venda de energia e quanto representa a produção de suas fábricas. Ele alega questões estratégicas. Segundo o empresário, mesmo com três fornos a menos, a Rima está atendendo toda a demanda de seus clientes. (Colaborou Marcos de Moura e Souza, de Belo Horizonte)
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