O agravamento da crise econômica na Argentina e na Venezuela deve ter reflexo negativo na balança comercial brasileira. As primeiras estimativas indicam uma queda de US$ 4 bilhões nas exportações do país neste ano, com impacto maior nas vendas de manufaturados. Desde janeiro, os dois países enfrentam diminuição de reservas e dificuldade para obtenção de divisas, problemas que levam a políticas de controle das importações.
O golpe mais forte virá da Argentina, que comprou US$ 18 bilhões em manufaturados brasileiros em 2013. Mas neste ano, a retração do consumo doméstico e a forte desvalorização recente do peso devem tirar US$ 3 bilhões das exportações do Brasil, segundo projeções da AEB e da Fiesp.
O setor automobilístico, que se beneficiou com o aumento da venda de automóveis na Argentina no ano passado - uma forma de o consumidor se proteger da inflação -, deve arcar com a maior parte da retração esperada.
A redução das vendas à Venezuela vai retirar mais US$ 1 bilhão do saldo comercial deste ano. No ano passado, o superávit brasileiro foi de US$ 3,6 bilhões, com exportações de US$ 4,9 bilhões, principalmente de frangos, carne bovina e manufaturados diversos, como eletrônicos, eletrodomésticos, máquinas e equipamentos. As reservas internacionais venezuelanas estão em US$ 20,7 bilhões - e caindo -, o que levou o câmbio paralelo a disparar e o governo a racionar ainda mais a oferta de dólares.
Em janeiro, as exportações brasileiras para o país recuaram 14,9% ante o mesmo mês de 2013. O Valor apurou, em Caracas, que exportadores brasileiros só estão aceitando vender com pagamento antecipado. A burocracia venezuelana também trava o comércio. Boa parte do frango brasileiro exportado em caráter emergencial para abastecer o país vizinho no Natal só chegou às prateleiras no fim de janeiro.
No início do ano, a estimativa para a balança comercial brasileira indicava um superávit de US$ 7,9 bilhões. Agora, representantes da indústria e exportadores preveem um saldo negativo mais próximo dos US$ 2,6 bilhões do ano passado. Ontem, o Ministério do Desenvolvimento informou que o déficit de US$ 646 milhões na terceira semana de fevereiro elevou o resultado negativo acumulado no ano para US$ 6,745 bilhões.