Anfavea reforça laços com o governo

Presidente Luiz Moan reafirma projetos com o novo ministro Mauro Borges, do MDIC.

Para garantir o andamento dos projetos que nasceram em sua gestão, Luiz Moan, presidente da Anfavea, foi à Brasília na semana passada dar as boas vindas ao novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Mauro Borges, e aproveitar a oportunidade para manter os pleitos da entidade entre as prioridades da pasta. À frente do setor há nove meses, o executivo saiu do Ministério com um horizonte mais concreto para três das últimas principais demandas do setor: definições para o Exportar-Auto, incentivos para veículos híbridos/elétricos e o desenho inicial do programa nacional de renovação de frota.

As primeiras ações para viabilizar o Exportar-Auto serão anunciadas pelo governo nas próximas semanas: “Após o carnaval teremos a divulgação de como o governo vai ‘atacar’ a questão da competitividade nas exportações de veículos. Não será um pacote de medidas, como o Inovar-Auto, mas uma série de resoluções e portarias nas quais sua soma formará o Exportar-Auto”, explicou Moan durante sua palestra Inovar-Auto – Expectativas, realizada a convite da Abifa, associação que reúne as empresas do setor de fundidos, na segunda-feira (24), em São Paulo. 

O Expotar-Auto foi a primeira bandeira levantada por Moan logo que assumiu a entidade, em abril de 2013. Seu objetivo é aumentar o fluxo da atividade e alcançar volume de 1 milhão de veículos exportados em até três anos: 

“Até 2017, com o Inovar-Auto, a indústria nacional terá uma capacidade produtiva de 6,5 milhões de unidades. Até lá, prevemos que o mercado interno consuma de 4 milhões a 4,5 milhões de veículos, o que cria um excedente fantástico para cobrir. Exportar 1 milhão de veículos significará apenas 18% da produção. É uma meta difícil, mas não impossível e vamos continuar perseguindo essa meta.” 

Outra garantia dada pelo governo ao presidente da Anfavea é a divulgação, em dez dias, das medidas de incentivo para viabilizar a elevação do volume de vendas de veículos híbridos e elétricos no País, incluindo leves e pesados. Sem dar detalhes, Moan limita-se a repetir que o pleito para esta categoria diz respeito principalmente a carga tributária para a importação desse tipo de veículo. 

A terceira novidade anunciada por Moan é a divulgação do programa nacional de renovação de frota de caminhões, agendada para o fim de março. O programa prevê, além da renovação, a viabilidade para a criação de uma rede de reciclagem. O executivo adianta que a proposta inicial é retirar 30 mil caminhões antigos das ruas por ano, algo como 20% da frota atual. “Esta também é uma forma de dar sustentação para o mercado de caminhões”, defendeu. 

Posteriormente, o programa prevê uma segunda fase dedicada à renovação de frota de ônibus, com escala de 20% da frota anual. Também faz parte do programa a renovação da frota de veículos leves, segmento que para Moan “é mais complicado e ficará mais para frente”.

Inovar-autopeças

Assim como o Exportar-Auto, Moan explica que o governo fará do Inovar-Autopeças não um pacote, mas fatiará a proposta em medidas, a primeira delas voltada para a rastreabilidade. Ele informa que as portarias ainda não foram publicadas a pedido da própria Anfavea, para que o governo ouça e estude as necessidades de todos os setores envolvidos, inclusive as empresas de fundição, que já tiveram seu primeiro encontro com o governo a respeito dos mecanismos da rastreabilidade. O sistema deve começar com uma “operação piloto”, que deve durar seis meses para que a indústria nivele as informações exigidas, mas que valerá como primeira fase, como uma implantação.

Segundo Moan, a ideia inicial era utilizar o sistema de nota fiscal eletrônica, mas foi descartada, a princípio. O governo vai propor um sistema específico para determinar o quanto está sendo importado pelas montadoras a partir de suas compras com fornecedoras. A rastreabilidade é fundamental para que as montadoras possam comprovar seu índice de compra local, o que poderá incidir – ou não – no pagamento de 30 pontos adicionais do IPI, conforme determina o Inovar-Auto.

“As montadoras estão ajustando seus níveis de compra local, mas não é uma tarefa fácil. A maior parte dos novos produtos (veículos) lançados nos últimos dois anos tem índice significativo de componentes importados. É necessário, na contrapartida, que o parque de fornecedores agregue novas tecnologias.” 

Para isso, Moan disse que a Anfavea está propondo ao governo mais uma medida para direcionar melhor os incentivos e investimentos das autopeças: a criação de uma lista de componentes sem similar fabricado no Brasil com taxa de apenas 2% no imposto de importação. Uma vez que as empresas comecem a produzir localmente, o imposto voltaria na sua totalidade. 

A primeira ação já está definida: entre duas e três semanas será lançada uma consulta pública para a listagem de itens de airbag e ABS. A consulta servirá para mapear o que existe disponível na indústria local e a partir desta lista, elencar os componentes que terão futuramente uma taxa menor de importação.

Moan defende que produzir tal componente – hoje importado – trará benefícios não só para a indústria nacional, mas para a própria fabricante: “A garantia é de que teremos demanda e mercado para isso: em três anos serão quase 5 milhões de veículos necessitando desses componentes. Por exemplo, até 2017, a maioria dos veículos terão o sistema start stop: ele já é montado aqui no Brasil, mas parte dele, como conectores, são importados. E estamos falando de pelo menos 4,5 milhões de peças individuais”, provoca. 

Mercado volátil

Moan reafirmou as projeções da entidade para 2014, de leve crescimento de 0,7% e 1,1% na produção e licenciamentos de veículos, respectivamente, e que mantêm esses índices pelo menos por enquanto. Ele alertou para um cenário muito mais volátil este ano e destacou dois fatores: uma enxurrada de feriados no primeiro e segundo semestres – os fixos que terão emendas e os possíveis feriados adicionais por causa da Copa do Mundo. Para ele, o número de dias úteis pode fazer toda a diferença na soma final das vendas e deu como exemplo o que ocorreu em 2013, o segundo melhor ano em vendas, perdeu apenas para 2012 em volume, por 30 mil unidades. 

“Só não licenciamos mais devido à queda da confiança do consumidor a partir do segundo semestre, o que foi observado depois das manifestações que o País viveu em junho, o que também dificultou o acesso às concessionárias.” 

Já para as exportações, cujo incremento deve ser de 2,1% em 2014, conforme as projeções, o cenário pode ser ainda pior devido ao corte adicional de importações anunciado pela Argentina, destino para o qual o Brasil designa 80% de suas vendas externas de veículos. “Prevíamos, antes deste corte, uma queda de 20% dos embarques para o mercado argentino, mas essa queda pode ser muito maior”, disse. 

Já no segmento de pesados, para não repetir o travamento das vendas de caminhões e máquinas agrícolas devido ao atraso da regulamentação da nova taxa do Finame PSI, a Anfavea pediu ao governo para que adiantasse ao máximo a implantação das novas taxas da linha de crédito para 2015, o que deve ocorrer em outubro deste ano. Ele acrescentou que a entidade pediu ainda para que a taxa atual, de 6% ao ano, vigorasse até fevereiro do ano que vem, para que pudesse aproveitar a transição da passagem do ano, mas o governo não concordou. 

Para 2015, pairam incertezas e um cenário “extremamente difícil, independente da mudança ou não de governo, a partir dos reajustes do orçamento da União e do desenvolvimento da economia”. 

Por fim, Moan disse que confirmou com o ministro Mauro Borges o que havia sido combinado entre Anfavea, o ex-ministro do MDIC, Fernando Pimentel, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, de iniciar este ano as primeiras diretrizes do Inovar-Auto 2, para vigorar entre 2018 e 2030, contemplando, entre outras áreas, a eficiência energética e incentivos para a cadeia de fornecimento de materiais. 

“Não queremos investir duas vezes para fazer a mesma coisa. Com o Inovar-Auto 2 vamos evitar o desperdício de investimentos.” E completou: “Não teremos uma indústria forte e consistente se não tivermos uma cadeia no mesmo nível, forte e consistente”, concluiu.

Por Sueli Reis/ Automotive Business


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