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Muitos economistas e até mesmo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se esforçaram para manter o positivismo durante a corda bamba econômica que afligiu o ano de 2013. Outros se agarraram nas estatísticas negativas e na pressão da crise econômica mundial e alarmaram o caos. Entre as estratégias governamentais para manter o equilíbrio da economia brasileira e a insegurança dos empresários durante 2013, o ano seguinte não deve mudar muito o cenário atual. Ainda assim, o professor dos cursos de Graduação e Pós Graduação em Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Nelson Benseny, se mantem positivo. Para ele o mercado brasileiro é forte o suficiente para manter-se em crescimento, ainda que em ritmo menor: “embora existam problemas nos fundamentos da política econômica, não entendo que haverá estagnação”. Confira a entrevista completa com o professor:
A economia brasileira, bem como a global, sofreu em 2013. A instabilidade trouxe insegurança aos empresários, que estagnaram os investimentos na indústria. A que fatores o Professor relaciona a atual crise? O Professor concorda que estejamos em meio a uma crise?
Temos que ter a real dimensão da palavra “crise” no cenário atual da economia brasileira. Entendo que não estamos à beira de um desastre econômico, contudo há sinais de desaceleração gerados por vários fatores, como por exemplo: os problemas na economia da Europa, Estados Unidos e China; nosso crescimento nos últimos anos focados em consumo e crédito; falta de investimentos em infraestrutura; a gestão dos gastos públicos e índices inflacionários preocupantes.
Esses fatores estão influenciando diretamente na queda da projeção do PIB brasileiro?
Sim, pois estão ligados diretamente ao resultado do nosso desempenho interno em função do ambiente econômico externo e das decisões estratégicas internas. Por exemplo, a falta de investimentos em infraestrutura contribui para perda de competitividade das empresas e os empresários não se sentem confortáveis em investirem ou ampliarem seus negócios, produção e serviços.
O ministro Guido Mantega disse que a economia brasileira está andando com "duas pernas mancas", ele credita isso aos efeitos da crise internacional e da falta de crédito para bancar o consumo. O Professor concorda com a colocação do ministro?
Sim, concordo com o ministro que esses pontos afetam o nosso desempenho. Mas outras causas crônicas, também, precisam ser consideradas como os baixos investimentos a gestão dos gastos públicos, a questão fiscal entre outros pontos que não foram abordados de uma forma estruturada e sustentável, mas sim pontualmente.
Como analisa os efeitos da crise internacional no Brasil? De que forma isso aconteceu e de que maneira o Brasil é influenciado?
Vivemos a economia globalizada e sistêmica. Isso quer dizer que influenciamos e somos influenciados pelas mudanças e transformações sociais, políticas, legais e econômicas que ocorrem no mundo. O Brasil como um País chamado “emergente” pode sentir mais os efeitos dessas mudanças e transformações, e podemos considerar isso até certo ponto normal pela sua condição. Contudo precisamos fazer a lição de casa para estarmos preparados para essas situações.
A crise internacional reflete diretamente na queda de demanda e isso afeta todo sistema econômico e balança comercial do País, além dos investimentos.
Por outro lado, a decisão de crescimento econômico com base na facilidade de acesso ao crédito e consequentemente aumento do consumo interno não tem sustentação a médio/longo prazo. Estamos agora sentindo os efeitos colaterais: aumento da inflação, diminuição da atividade econômica e baixo crescimento. Esses ingredientes podem ser explosivos para a economia brasileira e o Governo está se mobilizando para manter o controle e reverter essa situação, como, por exemplo, os aumentos na taxa de juros dos últimos meses.
O que os empresários e industriários podem esperar de 2014?
Eu não acredito em um desastre na economia. Entendo que será ano com baixo crescimento e isso implica em diminuição da demanda. As exportações, também, não devem alcançar patamares mais significativos pela própria condição econômica internacional. O Governo deverá concentrar esforços no controle da inflação e ajustes nas contas públicas. A Copa do Mundo e as eleições deverão contribuir de certa forma para melhorar o cenário econômico, mesmo sendo eventos pontuais. O ponto positivo são os programas de concessão que deverão continuar em 2014 e que afetam diretamente os investimentos em infraestrutura e deverão causar uma percepção favorável quanto ao desenvolvimento de negócios por parte dos empresários e investidores.
Qual é a melhor forma de driblar as consequências da crise?
Vou citar parte de um pensamento de Goethe que diz: "Se você não pode controlar o vento, ajuste as velas." Nós não podemos controlar o mundo externo. Novas crises financeiras internacionais com certeza ocorrerão. Driblar as consequências das crises significa práticas de gestão adequadas ao mundo em que vivemos marcados por um ambiente de turbulências econômicas. A chave para os empresários é utilizar modelos e métodos de gestão contemporâneos que priorizem agregar valor ao cliente, a melhoria de processos, redução de custos, inovação, qualidade e produtividade.
Durante uma entrevista, um economista disse que 2014 deve repetir a estagnação econômica da década de 80. O Professor concorda com essa comparação? Acredita que as atitudes governamentais nos últimos anos poderá fazer com que este período histórico se repita?
Cada período histórico tem suas próprias circunstâncias sociais, políticas e econômicas. Embora existam problemas nos fundamentos da política econômica, não entendo que haverá estagnação. Sou mais otimista quanto a esse processo. Não podemos esquecer que temos um mercado enorme em comparação a outras economias no mundo e isso estimula e gera oportunidades de negócios de uma forma geral, além da capacidade e estrutura das empresas brasileiras em relação a outras situadas em economias emergentes.
Ainda assim, o Brasil pode crescer em 2014?
Sim, considerando os cenários econômicos internos e externos teremos um tímido crescimento em relação às nossas necessidades. Acredito que seja em torno de 2,5 %.
O que podemos tirar de positivo em 2013?
Podemos destacar nossas reservas internacionais de US$ 376 bilhões, segundo o Governo, baixa taxa de desemprego, por volta de 5,4% e os investimentos através dos leilões/ programas de concessão.
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