De boas intenções...

Wilson Sergio, colaborador

Certa vez um homem encontrou uma borboleta que lutava para sair de um casulo. Era um momento mágico para aquele homem! Ver de perto o final da metamorfose magnífica daquele ser. Mas sua paciência se esgotou ao ver que o esforço era muito grande, já que a borboleta tentava ultrapassar um pequeno orifício no casulo.

Então ele pegou uma tesoura de seu canivete suíço e cortou as beiradas do casulo para que a borboleta pudesse sair tranqüilamente. O que realmente aconteceu.

E pôs a observar o inseto aguardando que suas asas ficassem viçosas e brilhantes, e então levantasse o primeiro vôo.

Mas as asas continuaram murchas, afinal, não era para menos, aquele pequeno orifíco foi projetado pelo Criador para que os líquidos fossem direcionados para as asas. O que não aconteceu. E portanto, as asas ficaram atrofiadas.

Aquela boa intenção em ajudar do homem, deixou a borboleta deficiente para o resto da sua vida. Milhares de plantas não seriam polinizadas, e todo um ciclo de vida não terá continuidade, devido a essa ''boa intenção''.


Assim também funciona com os pais, que tentam privar seus filhos de passarem por experiências difíceis. Muitas vezes essa privação é muito prejudicial.

Nas escolas é muito pior, há uma proteção natural dos docentes para com os alunos, e muitas vezes não deixam o aluno arriscar, errar, aceitar esses erros e a criar em cima deles.

Em metalmecânica tenho observado o seguinte:
- Alunos de usinagem nunca utilizam o rugosímetro nas aulas práticas;
- Em salas de metrologia os equipamentos mais sofisticados são poupados para pessoal de nível mais técnico;
- As salas de ensaios destrutivos e não-destrutivos não são utilizadas;
- A seção de tratamento térmico é ''perigosa'' demais para utilizar;
- As fresadoras de engrenagem são preparadas pelo instrutor para economizar tempo;
- As retíficas cilíndricas são ajustadas e nunca saem dessa posição;
- Os alunos não aprendem a selecionar ferramentas;
- Apenas poucos aprendem afiar ferramentas e o fazem para o restante do grupo.

Muitos já se esqueceram que deve-se deixar fazer para que possa aprender.

Em geral a fuga está na informação muito sofisticada para os alunos, e na época de provas existe ao invés de uma revisão, um treino das mesmas questões para que o aluno não envergonhe o professor.

Aceitar que somos limitados é o mesmo que condenar a nós mesmos a continuarmos limitados. Só aumentamos nosso alcance quando conhecermos nossos limites, sim, mas com a finalidade de empurrá'-los para mais longe, aumentando nossos potenciais. Nesse sentido, há dois tipos de pessoas que são irritantes ao extremo: aquelas que se acham limitadas e não acreditam em seu próprio potencial de desenvolvimento, e aquelas que se julgam perfeitas, não aceitando que precisam melhorar sempre.

As que se acham limitadas e se conformam com isso provavelmente tiveram algum defeito de educação, quando aprenderam principalmente aquilo que ''não podiam fazer'' e não o que ''podiam fazer''. Aprenderam pela negação, e chegaram à triste conclusão que na vida há mais coisas fora de seu alcance do que dentro de suas possibilidades de realização. É uma educação castradora, culpa de pais despreparados e de escolas viciadas em métodos medievais, que confundem educação com treinamento para a prática de atos definidos, e não com liberdade de pensamento.

È um crime limitar o outro por que não se acredita no seu potencial.

É certo, deixem que seus filhos passem por esses problemas, deixem que eles resolvam suas dificuldades, oriente a solucionar os problemas mas deixe que eles resolvam, não, deixem que seus alunos possam usufruir dos erros e acertos. Deixem que eles possam reprovar.

Ensinar a aprender a aprender é o caminho. O ponto angular das Competências! Não é isso o que se busca? Desenvolver as competências pessoais e técnicas? Desenvolva então a pessoa e o profissional! Que ele aprenda a solucionar problemas e não a senti-los e aguardar que alguém venha e prepare para ele simplesmente observar.

Deixar errar não é ser omisso e sim compreender que dali sairá uma lógica de crescimento. De boas intenções o inferno está cheio. É preciso saber até quando a proteção proporciona a atrofia. O não uso de uma parte do corpo atrofia. Se pararmos de utilizar uma das mãos ela ficará menor e mais magra que a outra e vai paralisar aos poucos. E como diria um aluno mais crítico:

''Me mostre o que é que eu conheço, explique como funciona que eu entendo, mostre como se faz que eu compreendo, deixe-me fazer que eu aprendo.'' (Alexandro de Souza - Gerente de Produção da Bremsem Wayser).

É duro aceitar, até existe compreensão nesta proteção, mas vale mais a pena, saber que eles poderão na nossa falta:

Caminhar com as próprias pernas!

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