Wilson Sergio, colaborador
Muitos são professores de Usinagem no papel. Mas na carne é que aparecem as diferenças!
Muitas pessoas quando observam um cavaco que acabou de ser produzido por um processo de usinagem o vêem como sucata ou lixo. Mas sempre pude ver que por trás de um simples cavaquinho existem possibilidades. E dentro dessas possibilidades podem estar escondidos diversos assuntos sobre o ambiente de trabalho, os conflitos existentes dentro dele, a importância em atentar para o planejamento das tarefas, para executar corretamente o trabalho em si.
Histórias são para isso, ajudar a refletir. Contar que já trabalhou com diversas situações não é mal nenhum. Se eu não ensinasse o aprendiz de usinagem a pensar e a refletir e aprender a aprender, ele morreria ''descascando ferro''. E muito pior, sem a consciência de que com seu trabalho é confeccionar suas peças movimentam e melhoram o mundo; ele não estaria motivado a fazer parte de um progresso contínuo.
Muitas vezes fui mal compreendido por profissionais da educação quando muitas vezes ouviam sobre o estilo de aulas e relacionamentos que os alunos tinham comigo e ainda quando os mesmos alunos comentavam pelos corredores da escola, em casa, com os amigos e parentes, que existia uma pessoa dedicada em fazê-los dominar a melhor tecnologia possível, associada com a melhor atitude. Ou ainda por possuir um apelido carinhoso de FORREST GUMP da USINAGEM, até já me criticaram por sempre contar histórias aos meus alunos, por levá-los para participar efetivamente de eventos da Metalmecânica no Anhembi, ou por apresentar conteúdos cujo tema principal era o planejamento, organização e execução do trabalho, as questões do dia-a-dia, as decorrências das implantações das normas de qualidade, as relações humanas no trabalho etc.
Mal sabem meus algozes que eu tratava os trabalhos usando a intertextualidade.
A PEDAGOGIA DA INTERTEXTUALIDADE (que não se aprende nos livros) é algo mais que o desenvolvimento técnico, é a presença de afinidades entre os contextos, as semelhanças de comportamentos e atitudes; é propor que a pessoa viva intensamente e autenticamente o que ela vende, o que ela acredita e com a qual se emociona e vibra!
Pois é, quanto não já se ouviu falar que devemos acatar a voz da experiência, e também respeitar os mais velhos? Isso sempre fez parte de uma boa educação de berço.
Mas experiência está associada a idade? Muitas vezes tenho visto garotos que ainda não ultrapassaram a casa dos 15 anos acumulando experiências incomuns a muitos adultos de 20 anos atrás. Eles vivenciam muito mais coisas, com mais informações com maior velocidade e por que não dizer: Liberdade!
Experiência não é tempo de casa, é acumular saber no tempo de vivência nesta casa. Viver não é cronológico, nunca foi, nem vai ser. E viver também pode estar associado a sonhar, a ouvir, a refletir e a alcançar a liberdade dos pensamentos.
Liberdade é algo que quando é dada com afeto e carinho brota no sujeito uma responsabilidade em administrá-la. Mas abusar da liberdade é libertinagem então vem o papel do professor.
É necessário usar a inteligência, os conhecimentos adquiridos ao longo da nossa vida e a sua experiência passada para tentar fazer o outro analisar as condições e tendências que surgem.
Na Grécia antiga, o professor tinha uma importância vital para o amadurecimento da sociedade e a difusão da cultura. As aulas dos pensadores: Sócrates, Platão, Aristóteles e Demócrates, demonstram a habilidade que tinham para discutir os elementos mais fundamentais da natureza humana. Não perdiam tempo com conteúdos engessados. Discutiam o que era essencial. Sabiam o que era essencial porque viviam da reflexão, e a aula era o resultado de um profundo processo de preparação. Assim foi a minha dinâmica de aulas, com os alunos quase extasiados pelo carisma do professor e pela forma envolvente e sedutora como eram tratados os temas.
Quando eu também andava com meus alunos, contava histórias com o objetivo de fazê-los pensar, de provocar-lhes a reflexão, o senso crítico. Não me conformava com a passividade de quem acha que nada sabe e nunca conseguirá saber nem com a arrogância de quem acredita que tudo sabe e, portanto, nada mais há que mereça ser estudado ou refletido.
Jesus Cristo, o maior de todos os mestres da humanidade, contava histórias, parábolas e reunia multidões ao seu redor, fazendo uso da pedagogia do amor. Quem era esse pregador que falava de forma tão convincente, ensinava sobre um novo reino e olhava nos olhos com a doçura e a autoridade de um verdadeiro mestre? A multidão vinha de longe para ouvi-lo falar, para aprender sobre esse novo reino e sobre o que seria preciso fazer para alcançar a felicidade. O grande mestre não precisava registrar as matérias, não se desesperava com o conteúdo a ser ministrado nem com a forma de avaliação, se havia muitos discípulos ou não. Jesus sabia o que queria: construir a civilização do amor. E assim navegava em águas tranqüilas, na maré correta, com a autoridade de quem tem conhecimento, de quem tem amor e de quem acredita na própria missão.
Sócrates e Cristo foram educadores, formaram pessoas melhores.
Não há como negar que os numerosos profetas ou os simples contadores de história conseguiram tocar e educar muito mais do que qualquer professor que saiba de cor todo o plano curricular e tudo o que o aluno deve decorar para ser promovido. Ninguém foi obrigado a seguir a Cristo, não havia lista de presença nem chamada, e mesmo assim a multidão se encantava com seus ensinamentos - ele tinha o que dizer e acreditava no que dizia, por isso foi tão marcante.
O professor precisa acreditar no que diz, ter convicção em seus ensinamentos para que os alunos também acreditem e se sintam envolvidos. Precisa de preparo para ir no rumo certo e alcançar os objetivos que almeja.
O professor que não prepara as aulas desrespeita os alunos e o próprio ofício. É como um médico que entra no centro cirúrgico sem saber o que vai fazer e sem instrumentação adequada. Tudo na vida exige uma preparação. Uma aula bem preparada, organizada, com o conteúdo refletido muito provavelmente será bem sucedida.
Aula previamente preparada não significa aula engessada: não lhe dará o direito de falar compulsivamente, sem permitir intervenção do aluno, não dialogar com a vida, não dar ensejo a dúvidas; o professor não deixará de discutir outros temas que surgirem apenas porque tem que cumprir o roteiro de aula que preparou.
Pode até ocorrer que ele dê uma aula diferente daquela que planejou, mas isso é enriquecedor.
Preparação é planejamento. Muitos professores fazem o planejamento do início do ano de qualquer maneira, apenas para cumprir exigências formais. É lamentável. Se o professor investir tempo refletindo cada item de seu planejamento, sem dúvida terá muito menos trabalho durante o ano para o cumprimento de seus objetivos porque planejou, sabe onde quer chegar, sabe o tipo de habilidade que precisa ser trabalhada e como avaliar o processo do aluno.
Ninguém pode estar presente em todos os lugares, nem saber de todas as coisas, nem pode realizar tudo. Mas a presença de um bom espírito pode, o bom trabalho pode ser esquecido mas dura para sempre! Isso é eternidade. E ela aparenta: oniciência, onipotência e onipresença. Só Deus pode contar essa história!
Em resposta aos meus críticos: Sempre agi com essa boa intenção com meus alunos, não duvidem que eles possam aprender sempre e principalmente: com você. Compreenda isso e talvez você descubra que é por isso que muitos gostam de aulas ''históricas'', e porque sou conhecido curiosa e carinhosamente como:
Wilson Sergio: O FORREST GUMP da Usinagem.
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