China e Fed levam dólar a R$ 2,268

Moeda recua 2,32% com detalhamento de reformas e expectativa pela ata do BC americano.

O mercado financeiro teve um dia de otimismo com o detalhamento das reformas da China e a expectativa de que a redução dos estímulos à economia americana comece apenas no próximo ano. O dólar encerrou os negócios cotado a R$ 2,268, com baixa de 2,32%. Foi a maior queda percentual desde 18 de setembro. No mercado de ações, o Ibovespa fechou em alta de 1,6%, aos 54.307 pontos e volume negociado de R$ 10,4 bilhões, impulsionado pelo vencimento de opções sobre ações.
 
No exterior, o dólar recuou frente a outras divisas, mas no Brasil a queda da moeda americana foi influenciada também pela atuação do Banco Central (BC), com duas intervenções no mercado. Além de ofertar US$ 500 milhões em leilão de swap cambial (operação equivalente à venda de dólar no mercado futuro) como parte do programa de atuações anunciado em agosto, a instituição ainda ofertou 20 mil papéis, que correspondem a US$ 1 bilhão, como parte da rolagem de contratos que vencem em 2 de dezembro. O BC já renegociou quase US$ 4 bilhões dos US$ 10,1 bilhões que vencem no começo do próximo mês.
 
Na Bovespa, a alta foi puxada pelas ações preferenciais de Vale e Petrobras. As ações preferenciais (sem voto) da mineradora subiram 2,06%, a R$ 33,10. Os papéis da petrolífera avançaram 4,84%, a R$ 21,44 com a expectativa de anúncio do reajuste da gasolina este ano.
 
O bom humor dos investidores no Brasil e no exterior ganhou fôlego após o discurso da futura presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Janet Yellen, no Congresso, na semana passada — no qual enfatizou a importância dos estímulos para a recuperação econômica. Além disso, o mercado espera novos sinais de que o Fed continuará a comprar US$ 85 bilhões mensais em títulos com a divulgação, amanhã, da ala de sua última reunião. O presidente da unidade do Fed em Nova York, William Dudley, disse ontem estar mais confiante na economia e prevê recuperação de maior fôlego em 2014.
 
Bolsas sobem na Europa
 
Mas a principal novidade veio da China. Após um comunicado inicial vago sobre as reformas depois da conclusão da Terceira Sessão Plenária do Comitê Central do Partido Comunista — que levantou dúvidas sobre as medidas —, o governo detalhou no fim de semana um plano de 20 páginas das áreas em que pretende avançar. Em novo documento, o presidente Xi Jinping explicou que a reforma econômica é a chave das mudanças na China e que o mercado deve ter papel "decisivo" na alocação de recursos, mas não significa que o governo deixará o mercado decidir tudo.
 
"A economia socialista de mercado precisa tanto do mercado quanto do governo, mas eles desempenham papéis diferentes" afirmou Xi, segundo a agência estatal Xinhua.
 
As Bolsas da Europa fecharam em alta. Em Paris, a valorização foi de 0,66% e em Frankfurt, de 0,62%. O índice Dow Jones, nos EUA, chegou a superar os 16 mil pontos, mas perdeu fôlego e fechou em leve alta de 0,09%. Ontem, a Bolsa de Xangai subiu 2,87%. Em Hong Kong, o avanço foi de 2,73%.
 
O texto divulgado aponta para uma abertura do setor financeiro, com a permissão para que empresas privadas estabeleçam bancos de pequeno e médio porte. O retorno dos ganhos das empresas estatais para o govemo — que hoje varia entre zero e 15% — deve ser ampliado para 30% até 2020. A ideia é que os recursos possam ser usados para melhorar a qualidade de vida da população, segundo a agência. Ainda foram detalhadas propostas para o fim dos campos de trabalho forçado e o relaxamento da política do filho único.
 
"O aspecto mais revelador foi a criação de duas instâncias: o conselho de segurança, que engloba temas internos e externos, e o leadinggroup, um grupo pequeno de líderes, com representantes de diferentes ministérios, para a discussão das reformas econômicas. Isso faz com que a burocracia possa ser mais ágil", afirma a diretora do Instituto Brasil-China (Ibrach) e professora da UFRJ, Anna Jaguaribe.
 
Crédito para empresas
 
Para ela, a criação dos dois grupos sugere que as reformas não devem ficar no papel. "Há indícios de que não serão pro forma. Já eram esperadas no govemo de Hu Jintao, mas só estão sendo colocadas agora. São reformas importantes, que vão caracterizar forte mudança", explica Anna.
 
Segundo a especialista, entre as mais importantes estão a ampliação do acesso ao crédito para pequenas e médias empresas, a progressiva retirada do favorecimento às estatais, principalmente no que se refere ao financiamento, e a reforma fiscal, com melhor distribuição entre os orçamentos federal e locais. No caso das reformas sociais, a professora cita as mudanças na propriedade da terra — que podem ajudar a reduzir a desigualdade de renda entre o campo e a cidade — e o relaxamento dos direitos de residência — que vai facilitar a migração de mão de obra.
 
Por João Sorima Neto e Lucianne Carneiro/ O Globo

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