O Tesouro Nacional está pagando cada vez mais caro para financiar as despesas públicas. Diante das incertezas nas políticas fiscal e monetária, do baixo nível de crescimento e da resistência da inflação, investidores têm pedido prêmios de riscos pesados na compra de títulos públicos. Ontem, em um leilão de NTN-B — papéis de longo prazo cujo rendimento é composto pela inflação mais um percentual prefixado de juros —, as taxas aumentaram novamente. Em todas as operações, inclusive nos bônus com vencimento em 2050, os investidores exigiram ganho real (acima do IPCA) superior a 6% ao ano.
“A manutenção da inflação na faixa de 6% nos últimos três anos deixou muitas dúvidas em relação ao futuro e encareceu a dívida pública”, ponderou Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners. “Ninguém no mercado, hoje, carregaria um título com uma expectativa de ganho real abaixo desse percentual. O risco de perder dinheiro é enorme”, afirmou.
A equipe econômica, segundo especialistas, está pagando a fatura gerada pelos próprios erros. A fragilidade que se instalou nas contas públicas, principalmente depois de o governo desistir de formar uma poupança consistente para o pagamento de juros da dívida, piorou a visão do mundo sobre o Brasil. O país está ameaçado de perder posições em um ranking, feito por agências de avaliação de risco, que classifica as economias como seguras ou não para investimentos. A nota brasileira pode ser rebaixada já no próximo ano.
Carlos Lima, economista-chefe da CMA, pondera que o governo se tornou um gastador excessivo. “O deficit fiscal e a dívida bruta não estão em boa trajetória”, disse. Segundo ele, há ainda incerteza no mercado sobre o
nível a que chegará a taxa básica de juros (Selic). As apostas chegam a 10,75% ao ano em 2014. “Em função disso, quem compra um título prefixado vai pedir uma taxa maior”, argumentou.
Desconfiança
Eduardo Velho acrescenta que o mercado perdeu a confiança no governo. “Quanto pior é a percepção do mercado, mais altas ficam as taxas dos títulos”, observou. No leilão de ontem, o papel que ofereceu o maior rendimento foi o mais vendido: a NTN-B com vencimento em 2030 pagou uma taxa de 6,10% ao ano, além do IPCA.
Por Victor Martins/ Correio Braziliense