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Mesmo com a queda nas vendas de carros, o faturamento das montadoras cresce R$ 1 bilhão neste ano, como resultado da evolução no padrão de consumo de automóveis no país. Diante de uma notável inflexão da demanda para produtos de maior valor agregado, com avanços na motorização e no nível de equipamentos dos veículos, o brasileiro está, na média, pagando R$ 1 mil a mais na compra de carros.
Levantamento feito pela consultoria Oikonomia, com base nas 15 marcas mais vendidas no mercado brasileiro, revela que o tíquete médio dos carros subiu. O valor pago, na média, por cada veículo passou de R$ 44,6 mil, entre janeiro e outubro de 2012, para R$ 45,6 mil em igual período deste ano. Isso permitiu ao setor compensar o recuo superior a 1% nas vendas e elevar para R$ 131,3 bilhões o faturamento acumulado nos dez primeiros meses deste ano, 0,75% a mais do que os R$ 130,3 bilhões de um ano antes.
Os preços dos carros pouco subiram em 2013 - a inflação medida nas concessionárias ficou em apenas 0,6% entre janeiro e setembro, segundo pesquisa feita pela agência Autoinforme. O descompasso entre volume e receita se deve, principalmente, à sofisticação no padrão dos veículos comercializados no país.
A despeito da desaceleração da indústria, o mercado tem claramente evoluído para um segundo nível dentro do segmento de automóveis compactos, o maior do país. Os carros mais espaçosos e equipados, com forte apelo de design, estão ganhando o terreno dos modelos mais espartanos que estão na "porta de entrada" do mercado automotivo.
Os tradicionais Gol (Volkswagen), Uno e Palio, ambos da Fiat, seguem como os mais vendidos no país, mas perderam espaço para os lançamentos feitos pela concorrência para preencher essa nova faixa do mercado, chamada de "compacto premium" por alguns dos executivos da indústria. Os principais modelos lançados sob esse conceito - que vão do HB20, da Hyundai, o Onix, da General Motors (GM), o Etios, da Toyota, a nova geração do Fiesta, da Ford, ao 208, da Peugeot - já respondem por quase 14% das vendas de automóveis neste ano. Não à toa, exceção à Peugeot, todas as demais montadoras desses lançamentos conseguem melhorar suas vendas no ano.
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Além de trazerem um novo tipo de design, esses carros adicionaram ao mercado popular itens antes disponíveis apenas a um público restrito, como sistemas multimídia e computador de bordo. Paralelamente, observa-se uma evolução, de forma geral, no consumo de equipamentos de conforto, como ar-condicionado, e de segurança - até por força da lei que torna obrigatória a produção de veículos com airbags e freios ABS.
Toda essa transformação está mudando o conceito do que é carro popular no Brasil. Automóveis de motor 1.0, por exemplo, deixaram de ser os mais emplacados há algum tempo. Hoje, mais de 62% das vendas de automóveis estão acima dessa motorização, como mostram números da Fenabrave, entidade que representa as concessionárias de veículos. Já fora do segmento de compactos, seguem em alta as vendas de utilitários esportivos, minivans e picapes. Da mesma forma, carros de luxo de marcas como BMW, Mercedes-Benz, Audi e Land Rover avançam a um ritmo de dois dígitos em 2013.
É claro que esse novo padrão de consumo tem um preço e, por isso, a indústria automobilística ainda consegue melhorar sua receita em momentos de desaceleração das vendas como o atual. Mas graças à ascensão da renda, a disponibilidade de crédito e incentivos fiscais do governo, o consumidor tem hoje maior facilidade de acesso a veículos melhores. De outro lado, a escalada do consumo, que colocou o Brasil entre os quatro maiores mercados automotivos do mundo, abriu caminho para a introdução de novas tecnologias veiculares. "A tendência natural do consumidor é buscar produtos melhores, que proporcionem satisfação e status", diz Raphael Galante, analista da Oikonomia, ao justificar por que os brasileiros estão gastando mais em automóveis.
Por Ana Paula Paiva/ Valor Econômico
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