Fabricantes irão pressionar o governo

Associações industriais irão a Brasília para apresentar um plano de competitividade.

Associações industriais dos principais setores econômicos resolveram se unir em busca de uma mãozinha do governo federal. A ideia é bater à porta do Planalto para apresentar um programa de reformas e incentivos, que promete ajudar a indústria nacional.
 
Por ora, esse plano multidisciplinar circula apenas à boca pequena entre os diversos setores produtivos. Segundo fontes envolvidas, fazem parte do bloco associações ligadas à indústria do aço, de eletroeletrônica, autopeças, alimentos, química, entre outros. “Envolve 20 entidades de classes capitaneadas pelo Luiz Aubert, presidente da Abimaq, que somam mais de 40% do Produto Interno Bruto ( PIB ) Industrial do País”, afirma um executivo. Juntas, essas associações compõe cerca de 7% do PIB nacional.
 
O plano a ser apresentado em Brasília deve conter seis pontos principais, concentrados no contexto econômico que envolve as empresas. Entre eles, estão a valorização do real frente ao dólar , reforma trabalhista e desoneração das principais cadeias. Ao  iG , o presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos ( Abimaq ), afirmou que o formato do projeto ainda não está pronto. Por isso não pode dar mais detalhes quanto aos pontos que serão pleiteados ou os setores que estão envolvidos. “Até sexta-feira (8) teremos algo para apresentar”, diz Luiz Aubert.
 
Copo meio vazio
 
O objetivo de todo essa movimentação não poderia ser outro senão o tão conhecido “ganho de competitividade”, assunto tido como “prioridade número um” para a Abimaq, segundo Carlos Pastoriza, diretor da instituição. “Fizemos um estudo que mostrou que se instalássemos duas fábricas idênticas no Brasil e na Alemanha, a operação dela custaria 37% mais aqui no País”, conta.
 
A âncora da indústria nacional é, segundo Pastoriza, o dólar desfavorável. Para Pastoriza, a moeda americana precisar estar pelo menos 10% mais cara para que a indústria possa “começar a respirar”. “O Brasil está em uma encruzilhada: ou vira potência ou volta a ser colônia”, pontua.
 
Para Pastoriza, não há outra saída. “Brasília não tem alternativa. Ou a gente corrige essa questão do dólar ou o mundo fará isso com nossos produtos”, diz.
 
Há quem esteja ainda mais pessimista. Alfredo Bonduki, presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de São Paulo (Sinditêxtil-SP), participa de “todos os movimentos que envolvem ganhos de competitividade”. Embora entenda que a maioria das demandas sejam similares para a maior parte dos setores, não espera ver as questões particulares da indústria têxtil resolvidas.
 
“Para alguns assuntos mais globais, como a questão do câmbio é natural que nos movimentemos em bloco. Mas cada indústria tem sua particularidade”, diz. “Para a minha indústria, o custo da mão-de-obra e o subsídio que as empresas asiáticas recebem é o que mata.”
 
Para Bonduki, o sucesso dessa iniciativa só vem em longo prazo. “A preocupação do governo, agora, é outra. Eles estão mais preocupados com as contas públicas. Isso pode ser um empecilho.”
 
Momento ideal
 
Na avaliação de Júlio Cesar Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, esse é um bom momento para pleitear melhores condições de trabalho uma vez que o cenário econômico nacional vem ganhando reforços positivos. “Nossa competitividade vem melhorando nos últimos tempos. Dois sinais disso são o aumento da exportação de automóveis  e o crescimento da indústria calçadista”, diz Gomes.
 
Para o ex-secretário, a curva é positiva, mas a leitura ainda é de que “estamos ganhando mais, mas ainda é pouco”, diz. Na última sexta-feira (1º), a pesquisa mensal da indústria do HSBC apontou uma “melhora nas condições de negócio do setor industrial”. O crescimento da produção foi o mais forte em cinco meses.
 
Um dos pontos de atenção das empresas, segundo Gomes, deveria ser a melhora de eficiência interna. “As companhias estão investindo cada vez mais em inovação , justamente para ganhar essa escala necessária para a produtividade’, diz Gomes. No entanto, o economista não nega a necessidade de um suporte do Estado também nesse aspecto. “Sem desonerações e sem incentivo, qualquer programa ficará esvaziado”, completa Gomes.
 
Desde janeiro deste ano, a indústria automotiva passou a contar o o Inovar-auto, programa de desonerações destinados a montadoras com investimentos em pesquisa, tecnologia e inovação. Na aposta de Gomes, a Abimaq deve ter preparado algo parecido para o seu setor. 
 
Para o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial ( Iedi ), Rogério César de Souza, esse seria o único formato de desoneração sustentável – mediante forte contrapartida indústria. "Desoneração foi feita para apagar incêndio. Nenhuma política de desoneração é sustentável por tempo indeterminado", diz. "Nesse formato, com ganho econômico para a sociedade e para o País, começa a fazer sentido."
 
Souza acredita que o bloco deverá pedir, também uma maior participação do setor financeiro privado nos financiamento de longo prazo. "Essa é uma questão importante para o setor, faltam fontes de financiamento para sustentar os investimentos", diz.
 
Por Bárbara Ladeia/ iG São Paulo