O investimento necessário para aumentar a competitividade do Centro-Oeste, de R$ 36,4 bilhões, segundo apurou estudo encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), se pagaria em apenas cinco anos, proporcionando uma economia anual de R$ 7,2 bilhões em gastos com transporte. A afirmação foi feita ontem (29) pelo presidente da entidade, Robson Andrade, ao divulgar o Projeto Centro-Oeste Competitivo para empresários e representantes do poder público.
O estudo, antecipado na edição de ontem do Correio, mostra ainda que, para resolver os principais gargalos das regiões Norte, Nordeste, Sul e Centro-Oeste, cujos investimentos necessários somam mais de R$ 91 bilhões, o período de recuperação cairia para quatro anos e três meses.
Andrade destacou que a produção local, principalmente agropecuária, tem potencial para continuar se expandindo acima das médias mundiais. Mas todo o ganho com a alta produtividade se perde nos gastos com frete para escoar a produção. “A implantação de uma logística multimodal na região é fundamental. Mas investimentos em transportes precisam ser pensados com prazo de 20 anos”, alertou.
Parcerias
Para tornar a região competitiva, o aporte ideal seria de R$ 159 bilhões até 2020. O projeto encomendado pela CNI, no entanto, elencou apenas as obras prioritárias, que demandam R$ 36,4 bilhões no período, ou 23% do total. “Não é uma quantia tão elevada quando pensamos nos benefícios que as obras trarão. Trechos da BR-163 já operam com 113% da capacidade. Se esse gargalo for resolvido, será uma quebra de paradigma no transporte para as exportações da região”, disse Andrade.
Segundo o coordenador do projeto, Olivier Girard, sócio da Macrologística, mais de 90% dos eixos apontados como fundamentais para escoar a produção da região estarão operando 150% acima da capacidade em 2020, caso os investimentos necessários não sejam realizados até lá. Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Mato Grosso do Sul (Fiems), Sérgio Longen, a saída é os setores público e privado agirem em conjunto. “A iniciativa privada tem interesse em investir em infraestrutura, pois será beneficiada com a redução de custos. Temos que desburocratizar as PPPs (Parcerias Público-Privadas) para dar a velocidade ao processo. Para isso, precisamos de segurança jurídica”, ressaltou.
A presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), senadora Kátia Abreu, lembrou que o preço do frete no Brasil subiu 204% em 10 anos, enquanto nos Estados Unidos a elevação foi de 80%, e, na Argentina, de apenas 56%. “Precisamos resolver os gargalos para reduzir custos. A falta de planejamento está nos matando, enquanto os asiáticos estão ansiosos pela nossa competitividade para atendê-los”, lamentou.
O governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, salientou que o Centro-Oeste produz 78 milhões de toneladas de grãos por ano, abriga o maior rebanho bovino do país e ocupa o segundo posto na extração mineral. Segundo ele, 22% do minério de ferro comprado pela China é do estado. “Uma saída pelo Oceano Pacífico reduziria o prazo e o custo do transporte, tornando a região ainda mais pujante”, afirmou.
De acordo com o titular da Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), Marcelo Dourado, a região precisa desenvolver ferrovias sob pena de sofrer um apagão logístico em sete anos. “A Sudeco tem R$ 1,4 bilhão disponíveis para investimento. Vamos buscar implantar uma fábrica de trilhos na região.”
Ferrovias no DF
A autarquia está organizando a formação dos consórcios de duas ferrovias que cortarão o Distrito Federal — uma ligando Brasília a Goiânia e outra unindo a capital a Luziânia (GO). As empresas responsáveis por essa última, segundo Dourado, devem ser anunciadas ainda esta semana, possivelmente amanhã. “O preço do frete no Brasil é sete vezes maior do que o dos EUA. Precisamos mudar o modal e os trilhos são a melhor alternativa”, analisou.
Por Simone Kafruni/ Correio Braziliense