O mercado de trabalho brasileiro superou as expectativas no ano passado, sobretudo diante do crescimento de apenas 0,9% da economia, mas o país não atingiu uma situação de pleno emprego como vinha anunciando o governo, nem vive um apagão de mão de obra qualificada, como afirma uma parcela dos empresários e economistas. Na visão do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o apagão de mão de obra ocorre é nas vagas sem qualificação.
"O mercado de trabalho em 2012 teve um desempenho surpreendente à luz do que aconteceu com a economia. Houve um crescimento de 6,5% da renda por pessoa em idade ativa, muito acima do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país), e uma estabilização da desigualdade. E o grande apagão de mão de obra se deu nas ocupações pouco qualificadas, como agricultura, construção, civil e trabalho doméstico, que teve alta de 10% na renda. Então, o grande apagão de mão de obra está na base da pirâmide educacional", afirmou o economista Marcelo Neri, presidente do Ipea e ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos, ao divulgar ontem (7) um estudo sobre o tema.
O estudo mostra que essas categorias tiveram os maiores ganhos salariais nos últimos dez anos. Mas uma mudança ocorreu ano passado, quando a renda per capita familiar dos 5% mais pobres caiu 7,5%, enquanto no outro extremo, a fatia dos 5% que ganham mais viram sua renda crescer 17%. Isso fez com que a desigualdade, que vinha em queda, ficasse estagnada.
O estudo também conclui que, entre 2001 e 2012, o número de profissionais com ensino fundamental completo aumentou 1,5 vez mais do que aqueles que não têm nenhuma formação. A fatia que possui ensino médio cresceu 2,3 vezes e a parcela com ensino superior incompleto ou completo ficou 2,2 maior.
"Os dados não mostram escassez de obra qualificada. É possível que existam ocupações pontuais com falta de especialistas ou técnicos em algumas áreas. Mas, de maneira geral, há uma expansão de oferta de trabalhadores mais qualificados e uma queda nos diferenciais de salários desses profissionais", explicou o coordenador de Trabalho e Renda do Ipea, Gabriel Ulyssea.
No ano passado, a taxa de desemprego no país ficou em 6,1%. Mas, para os especialistas, não há pleno emprego porque a taxa de participação (a parcela de pessoas em idade ativa que opta por trabalhar) é baixa e ainda caiu de 59,5% da população em idade ativa em 2009 para 57,5% em 2012. Reflexo principalmente do desinteresse das mulheres e dos jovens pelo mercado.
Por Nice de Paula/ O Globo