A forte queda da confiança dos empresários, a moderação da demanda e a formação de estoques devem ter levado os segmentos de bens de capital e de consumo durável a colocar o pé no freio no início do segundo semestre, na avaliação de economistas. Assim, após a alta de 1,9% da indústria em junho, a média de estimativas de 15 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta para recuo de 1,4% do setor em julho, sempre na comparação com o mês anterior, feitos os ajustes sazonais. As estimativas para o indicador, que será divulgado hoje pelo IBGE, variam entre queda de 2,3% e de 0,6% no período.
Após a alta de 3,6% observada em junho, a produção de bens duráveis não deve ter mantido o mesmo ritmo em julho, principalmente por causa da desaceleração da indústria automotiva no período, avalia Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria. De acordo com dados da Anfavea, entidade que reúne as montadoras instaladas no país, dessazonalizados pela Tendências, a produção de veículos leves recuou 6,8% na passagem mensal. "Esse segmento tem peso relevante e contribuiu para nossa estimativa de queda da indústria no período, mas outros indicadores também tiveram comportamento predominantemente negativo", afirma o economista, citando a queda de 0,5% do fluxo de veículos pesados nas rodovias pedagiadas e a estabilidade da expedição de papel ondulado na passagem mensal.
A queda da 4% da confiança dos empresários do setor, segundo a sondagem da Fundação Getulio Vargas (FGV), também deve ter contribuído para moderar a atividade no segmento de bens de capital, que no primeiro semestre acumulou alta de 13,8% em relação a igual período do ano passado, afirma.
Para Mariana Hauer, economista do Banco ABC Brasil, os indicadores sugerem retração bastante forte da indústria em julho, e de maneira disseminada. Além da queda da confiança em função das manifestações em junho, os impostos recolhidos pela indústria caíram 0,6% na passagem mensal, enquanto as exportações de produtos manufaturados tiveram queda de 8,5%, comenta a economista, sempre entre junho e julho, com ajuste sazonal do banco.
Também reforçam os sinais de moderação do ritmo da atividade industrial, na avaliação de Leandro Padulla, economista da MCM Consultores, a estabilidade do Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), que ficou em 84,4% em julho, de acordo com a FGV.
Em agosto, o Nuci recuou 0,2 ponto porcentual, o que aliado ao acúmulo de estoques no setor automotivo, indica que a produção industrial voltou a cair no mês passado, na avaliação do economista. De acordo com a FGV, o setor de material de transportes estava superestocado em agosto, assim como os segmentos de minerais não-metálicos, mecânica e vestuário e calçados.
"Se olharmos quem puxou a indústria nos meses recentes, vemos que foi a categoria de bens duráveis, que deve sofrer no terceiro trimestre", afirma. Para Padulla, o segmento ainda tende a ser afetado pela moderação da demanda e pela confiança em queda dos empresários industriais.
Mariana, do ABC Brasil, também nota que os estoques voltaram a ser um problema para a indústria entre julho e agosto, o que tende a levar a uma desaceleração do ritmo de produção nas fábricas, especialmente em um período sem datas comemorativas, que poderiam contribuir para que o varejo conseguisse se desfazer de produtos encalhados. "Por enquanto, os indícios que temos é que agosto também foi um mês negativo para a indústria", afirma. Recuperar a queda acumulada nos dois meses anteriores exigiria que setembro fosse um mês excepcional, o que não está no radar, diz.
Bacciotti, da Tendências, também avalia que por causa do resultado fraco esperado para julho, o setor manufatureiro precisaria ter uma recuperação mais expressiva nos meses seguintes para anular o efeito estatístico de um início de trimestre em campo negativo. O economista, no entanto, avalia que o setor continuará a oscilar e pode voltar a subir já em setembro, ainda que em magnitude insuficiente para garantir um avanço na produção em relação ao período de abril a junho. Nas contas preliminares do economista, a produção industrial deve recuar 0,3% no terceiro trimestre, em relação ao segundo, feitos os ajustes sazonais.