O projeto tem proporções colossais. É a maior obra de irrigação do sertão brasileiro com 500 quilômetros de extensão. Serão 150 mil hectares (115 mil em solo pernambucano e o restante no Norte baiano) destinados ao plantio. Há muito o chamado Canal do Sertão não passa de um sonho para a população nordestina. Mas um acordo firmado entre a trading japonesa Itochu e a Petrobras dá o pontapé inicial para tirar o projeto do papel.
Pelo acordo, os 150 mil hectares serão destinado ao plantio de cana-de-açúcar para produção de álcool combustível e outros cultivos destinados ao biodiesel. A produção de etanol e biodiesel irá atender um mercado japonês em expansão.
O Japão consome anualmente 400 milhões de litros de álcool, com o aditivo de 3% do combustível na gasolina. A legislação japonesa prevê aumentar a mistura em até 15%, devido a compromissos internacionais de redução da emissão de gases na atmosfera. Com isso, o consumo do álcool pula para 1,5 bilhão de litros. A Itochu, que atua na área de fornecimento de combustível, opera atualmente com 2,2 mil postos no Japão.
O memorando de entendimentos firmado analisa qual a melhor forma de atender ao mercado japonês. O projeto executivo do Canal do Sertão, que está orçado em R$ 56 milhões, terá um investimento inicial da Itochu e da Petrobras de R$ 20 milhões. A parceria, que é público-privada, também tem a participação da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), que colaborou com R$ 16 milhões, e dos governos estadual e federal, que vai fornecer outros R$ 20 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Na última sexta-feira (15), em reunião com o governador pernambucano, Eduardo Campos, o ministro do Desenvolvimento Regional, Geddel Vieira Lima, garantiu os recursos para a obra física do Canal do Sertão, orçada em US$ 1,2 bilhão.
De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha, com a implantação do projeto de irrigação o estado terá uma produção adicional de 10 milhões de toneladas de cana. Hoje, todas as 16 milhões de toneladas produzidas são oriundas apenas do litoral.
Para Cunha, a agroenergia é um campo promissor e o estado está vivendo uma nova fase. "Poder utilizar o bagaço da cana para produzir o etanol e o biodiesel é uma grande oportunidade, com isso estamos conseguindo atrair o capital estrangeiro", disse. Segundo ele, a Itochu está interessada no projeto porque o Japão deseja aumentar a participação dos combustíveis limpos na sua matriz energética. "Os biocombustíveis são renováveis e poluem menos do que os combustíveis fósseis", completa.
Para o diretor de engenharia da Codevasf, Clementino Coelho, a idéia é beneficiar também famílias de pequenos produtores. Na região, serão produzidos 50 mil empregos diretos. "Vamos fazer um mapeamento das áreas apropriadas para cada tipo de cultura especificamente. Existe muita terra fértil em condições de servir ao setor de agricultura, mas por falta de água não são exploradas", conta.
Enfim, o sertão e o agreste pernambucanos tornam-se viáveis aos projetos de expansão e em condições de receberem investimentos dos setores público e privado. O Canal vai beneficiar 16 municípios pernambucanos até as bordas do Lago Sobradinho, na Bahia.
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