Na crise, inovação aberta é opção

Na crise, inovação aberta é opção

Abrir as portas dos laboratórios e associar-se a empreendedores e companhias de menor porte no processo de criação de novos produtos e solução de problemas. Esses são os caminhos que grandes empresas precisam seguir para se manterem inovadoras. As conclusões são dos professores Leon Sandler e Bill Aulet, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), considerado a meca da inovação no mundo.
 
Em visita ao Brasil nesta semana para participar de um seminário sobre inovação e empreendedorismo, promovido pelo Instituto Tecnológico Vale (ITV), mantido pela mineradora brasileira, os especialistas conversaram com o Valor sobre os temas.
 
Na opinião de Sandler, que é diretor-executivo do Centro Deshpande para Inovação Tecnológica do MIT, as empresas têm muito a ganhar ao se aproximarem de universidades e até de empresas iniciantes ("startups") quando o assunto é inovação.
 
De acordo com Sandler, investir em projetos ao lado de centros de pesquisa ou companhias novatas pode significar também um ganho financeiro, desde que o projeto seja aplicável à realidade da empresa. Nas contas de Sandler, especialista em transformar projetos de inovação em resultados concretos nas empresas, cada US$ 1 investido por uma companhia em projetos de inovação tocados em parceria com universidades ou "startups" equivale a um investimento entre US$ 10 e US$ 100 em uma pesquisa própria. O pesquisador diz acreditar que esse modelo de pesquisa, também conhecido como inovação aberta, é o caminho para manter investimentos em tempos de crise econômica.
 
Para Aulet, a aproximação entre empresas de grande porte e companhias novatas é muito importante em áreas como o setor de energia e de sustentabilidade em que a inovação custa muito caro. Segundo o especialista, mais acordos desse tipo serão feitos nos próximos anos. "São os empreendedores que vão responder algumas das grandes questões da humanidade", disse.
 
De acordo com diretor do Martin Trust Center for MIT Entrepreneurship, as pessoas - principalmente os jovens- querem investir em seus próprios negócios para ter mais liberdade e deixar sua marca no mundo. Além disso, diz que o mercado de trabalho mudou muito nos últimos anos: "O emprego ideal não existe mais."
 
Aulet acaba de lançar o livro "Disciplined Entrepreneurship (Empreendedorismo Disciplinado, em tradução livre)", no qual defende que as habilidades para montar nova empresa podem ser ensinadas a qualquer pessoa. Para ele, é preciso profissionalizar o empreendedorismo e acabar com a percepção de que isso seja algo que apenas algumas pessoas "iluminadas" conseguem fazer.
 
Para defender sua tese, Aulet cita o próprio MIT. De acordo com ele, mais de 900 empresas são criadas por alunos da instituição todos os anos. Ao todo, mais de 26 mil novos negócios surgiram pela iniciativa de quem estudou por lá. Muitos dos quais, nem chegaram a concluir seus cursos. É o caso de Sonny Vu, fundador da Misfit Wearables, companhia que se dedica a criar computadores de vestir, ou "wearables". Isso significa embutir tecnologia em peças de roupa e acessórios para monitorar a saúde das pessoas. Vu abandonou o MIT duas vezes para fundar novas empresas. "O ambiente é muito propício para isso", disse o executivo em recente entrevista ao Valor.
 
Para Aulet, ser empreendedor não é uma questão de ter boas ideias, nem de ter dinheiro. Na visão do especialista, o que conta é a capacidade da pessoa de fazer com que seus objetivos se concretizem. "É preciso ter o espírito e a determinação de um pirata, e a capacidade de fazer as coisas acontecerem de um fuzileiro naval", disse.
 
Por Gustavo Brigatto e Guilherme Serodio/ Valor Econômico

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