A produção industrial voltou a subir em julho e o emprego no setor também melhorou, mas a frustração nas vendas de mercadorias levou a um aumento dos estoques no período. Mesmo com a perspectiva de maior demanda por bens industrializados com a proximidade do fim do ano, a quantidade de produtos finais ainda não vendidos está maior que o desejado pelos empresários.
O índice de produção industrial, divulgado nesta terça-feira (20) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), ficou em 52,1 pontos em julho, ante 46 pontos em junho. Esse indicador varia de zero a cem pontos, sendo que valores abaixo de 50 pontos representam recuo de produção em relação ao mês anterior. Acima disso significa alta na comparação. Em julho do ano passado, o índice ficou em 51,1 pontos.
A Sondagem Industrial também mostrou que o índice de evolução de mercadorias estocadas ficou em 52,1 pontos, o que representa expansão da quantidade de produtos finais não consumidos. Em junho, o indicador foi de 50,6 pontos, ou seja, também houve avanço em relação ao mês anterior.
Com esses resultados, o nível de estoques se afastou ainda mais do nível desejado pelos empresários. O índice efetivo em relação ao planejado ficou em 51,7 pontos, o que representa mais produtos estocados além do previsto. O índice em junho foi de 51,4 pontos.
"Geralmente, quando há aumento de estoques acima do planejado é um erro de expectativa. O empresário acha que vai vender, mas a venda não foi tão grande como esperado", explicou o gerente de pesquisa da CNI, Renato da Fonseca.
Além de alertar para o acúmulo de estoques das grandes indústrias, cujo indicador chegou a 54,5 pontos em julho, a CNI ressaltou também um "lado positivo" dos números: a produção voltou a crescer na maioria dos setores da indústria de transformação.
Em julho, as indústrias operaram, em média, com 72% da capacidade instalada, mesmo patamar de junho, porém um ponto percentual abaixo de julho do ano passado. Apesar do recuo, o uso da capacidade instalada ficou mais próximo do usual para o período. O índice de utilização de capacidade efetiva-usual ficou em 44,4 pontos, frente a 42,9 pontos em junho, sendo que 50 pontos representa o normal para cada período.
"Não tem como dizer que a indústria está numa retomada segura. Não entrou numa crise, mas está apresentando muita volatilidade" com meses de indicadores positivos e outros com resultados negativos, disse Fonseca.
O indicador de nível de emprego na indústria ficou em 48,5 pontos em julho, ante 48,1 pontos em junho, o que também mostra desempenho melhor que no mês anterior apesar de continuar abaixo dos 50 pontos. A pesquisa da CNI foi feita com 1,98 mil empresas entre 1º e 13 de agosto.
Na passagem de julho para agosto, os empresários ficaram menos otimistas em todos os itens analisados: demanda nos próximos seis meses, exportação, compra de insumos e emprego. A maior queda foi em relação a vendas ao exterior, cujo índice de expectativa caiu de 54,2 pontos para 51,1 pontos.
Apesar do recuo, a indústria brasileira ainda mantém expectativas positivas em relação às exportações nos próximos seis meses, pois o indicador continuou acima de 50 pontos. O menor otimismo foi verificado mesmo com a forte desvalorização do câmbio no período, que favorece os embarques internacionais.
Uma das explicações levantadas pela CNI é que, apesar desse movimento cambial ser "bom para a competitividade, a volatilidade gera incerteza muito grande", segundo Fonseca. Além disso, o baixo dinamismo do comércio internacional pode ser outra razão para o "ajuste" desse índice, que apresentou consecutivas altas nos meses anteriores.
Por Thiago Resende/ Valor Econômico