Para a indústria de máquinas e equipamentos, o segundo semestre será, na melhor das hipóteses, parecido com o mesmo período do ano passado. Até junho, o faturamento das companhias do setor caiu nada menos do que 8,2%, na comparação com os primeiros seis meses de 2012. Agora, a previsão da associação que representa essas companhias, a Abimaq, é de uma queda de 5% e 8% no acumulado de 2013 na comparação com o ano passado.
No início do ano, quando ainda se falava em recuperação econômica mais consistente do país, as previsões eram de expansão da receita das empresas. Considerado um bom termômetro dos investimentos produtivos do país, o setor de máquinas poderia crescer entre 4% e 7%, na projeção da Abimaq. A esperança era de uma arrancada dos pedidos com o financiamento facilitado para as compras no setor. No entanto, as encomendas de máquinas e equipamentos não corresponderam às expectativas. E o cenário mudou completamente.
Entre janeiro e junho, a receita das empresas representadas pela associação caiu para R$ 37,7 bilhões, de R$ 41 bilhões um ano antes. As importações cresceram, o que mostra menor competitividade da indústria local, e as exportações caíram, refletindo um cenário externo ainda difícil. O déficit da balança comercial do setor de bens de capital atingiu o nível recorde na série histórica da Abimaq, em US$ 10,6 bilhões.
Imaginando um resultado que represente queda de 5% no faturamento das companhias neste ano, será necessário que o segundo semestre registre uma receita de cerca de R$ 38,3 bilhões, perto do valor de julho a dezembro de 2012. E para empatar com o ano passado, a indústria de máquinas e equipamentos teria que avançar 9% e faturar cerca de R$ 42,3 bilhões na segunda metade de 2013, o que soa quase impossível. No acumulado do ano passado, a indústria obteve receita de R$ 80 bilhões, valor que já foi 3% inferior ao de 2011.
Atualmente, o tempo da carteira de pedidos do setor está em 2,9 meses, bastante inferior aos 6 meses considerados ideais. A utilização da capacidade produtiva das fábricas também está baixa, em 73,9% em junho e 72,7% na média do primeiro semestre, o que pode ser considerado um patamar de recessão, diz a Abimaq. O percentual está longe dos 86% de cinco anos atrás, sendo que no segmento de máquinas pesadas o índice é ainda menor - de aproximadamente 70%. Até 2011, o setor tinha um nível superior a 80%.
A valorização do dólar em relação ao real pode ser uma ajuda importante aos fabricantes nacionais, ao encarecer os produtos importados. Hoje, o câmbio corresponde a 60% da competitividade do setor de máquinas e equipamentos, afirma dirigentes da Abimaq. A associação enfatiza, porém, que os outros 40% também são importantes e critica o fato de os custos de uma empresa brasileira de bens de capital ser 37% superior ao de uma companhia de países desenvolvidos.
Neste semestre, a receita das empresas atingiu R$ 37,7 bilhões, recuo de 8% sobre o mesmo período de 2012.
Um agravante recente para o setor é o fim do imposto sobre importados no fim de setembro. Com a decisão, as empresas que fabricam os tipos de máquinas que hoje estão na lista da Câmara de Comércio Exterior (Camex) voltam a enfrentar maior dificuldade para competir no mercado local, embora a valorização do dólar frente ao real venha compensar parte disso.
As importações de produtos das 11 categorias incluídos na lista da Camex caíram 21% em volume e 23% em valor desde o início do aumento das alíquotas, em outubro do ano passado, até o fim de junho deste ano, na comparação com o período de outubro de 2011 a junho de 2012, segundo levantamento da Abimaq. Apesar de o impacto não ser muito significativo no total das importações do setor - que possui 1.200 categorias de produtos, no total -, a associação esperava um movimento contrário, com a inclusão de ao menos dez novas categorias em uma eventual nova lista da Camex.
Hoje, as apostas do setor estão principalmente nos segmentos relacionados com o setor de petróleo e energia renovável e com a indústria de base. Esses grupos foram os únicos dentro da classificação da Abimaq que tiveram aumentos superiores a dois dígitos nas exportações em junho.
Algumas máquinas e equipamentos para projetos relacionados com a Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016 também podem trazer surpresas positivas. A Abrava, associação que representa o segmento de refrigeração, ventilação e aquecimento, por exemplo, espera um crescimento de 8% no faturamento das companhias em 2013. Segundo o presidente da entidade, Wadi Tadeu Neaime, cerca de 20% da receita das companhias no ano passado e neste ano tem ligação direta com os dois eventos esportivos.
Por Olivia Alonso/ Valor Econômico