A produção industrial brasileira cresceu acima do esperado em junho e avançou 0,2% no indicador acumulado em 12 meses, segundo divulgou nesta quinta-feira (1) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O setor não crescia nesse tipo de comparação desde dezembro de 2011, quando encerrou o ano com um alta modesta de 0,4% e já apontava para a trajetória de queda que enfrentaria ao longo de 2012.
No mês de junho o crescimento foi de 1,9% ante maio, na série com ajuste sazonal, acima da previsão média de 1,2% estimada por 15 analistas consultados pelo Valor Data. A alta ocorre depois da retração de 1,8% observada no mês anterior, e com ele a indústria fechou o segundo trimestre 1,1% maior que no primeiro. O principal responsável pelo bom desempenho foi o setor de bens de capital, que inclui caminhões, máquinas e equipamentos e serve como termômetro do nível de investimento: cresceu 6,3% no mês, ante maio, e acumula alta de 13,8% no semestre ante mesmo período em 2012.
O destaque em bens de capital, em cenário onde o consumo começa a perder fôlego, reforçou as perspectivas de economistas que preveem que indústria e economia serão puxadas em 2013 pelos investimentos - mesmo que a retomada aconteça em ritmo bem mais lento e errático do que se previa há alguns meses.
"Talvez o ritmo não tenha sido o melhor, devido à característica volátil da atividade", avaliou o economista do IBGE, André Macedo. "Mas, claramente há uma trajetória ascendente; e há uma recuperação gradual ao se comparar com o ritmo no ano passado. Mas tudo isso, até junho. Não sei como isso vai se recuperar daqui para frente", afirmou o especialista.
"Quando se olha a indústria em 12 meses, a sensação é que ela gira em torno dos mesmos números. Sobe em um mês, cai no outro e, no final, continuamos nos patamares de 2011", disse Luís Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil. "A boa notícia é a recuperação forte dos bens de capitais, o que aponta para uma retomada econômica que passe a ser baseada no investimento, e não mais no consumo. O modelo de consumo está esgotado, gera inflação e não está mais gerando crescimento."
Cálculo da LCA Consultores estima que a formação bruta de capital fixo (FBCF) - item do Produto Interno Bruto (PIB) que inclui a produção de bens de capital e insumos para construção e serve como indicador do investimento no país - tenha crescido 8,6% no segundo trimestre, dentro de um PIB que deve avançar 3%, ambos comparados ao mesmo período no ano passado. Se estes avanços se confirmarem, o investimento baterá a marca de 20% do PIB nesse trimestre. "Ainda não é a taxa de investimento ideal, a média global é de 22%. Mas já é melhor do que os nossos 18% do ano passado, que foi um ano perdido", disse Bráulio Borges, economista-chefe da LCA.
Em 2012, quando o PIB cresceu apenas 0,9%, o avanço foi sustentado basicamente pelo consumo, que cresceu 3,1% entre as famílias e 3,2% no governo. O investimento amargou queda de 4%, em um ano em que a indústria de transformação também levou a economia para baixo, com retração de 2,5%. No fechamento do ano, a previsão da LCA é que a FBCF cresça 7,5% e se consolide como o principal motor do PIB que, em seus cálculos, crescerá 2,5%.
Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega a produção industrial vai "muito bem, obrigado". "Em seis meses, quatro crescem e dois têm resultado negativo, portanto prevalece o crescimento", disse ontem (1), ao comentar o resultado com jornalistas. Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que participava de um evento no Rio de Janeiro, disse que "considerando todas as circunstâncias, [a produção industrial] é excelente para o mês. O resultado revela confiança da indústria".
As perspectivas dos economistas para o segundo semestre, no entanto, são menos otimistas, puxadas para baixo inclusive porque a produção de bens de capital que não deve repetir as mesmas taxas. "A produção de bens de capital deve crescer muito pouco no segundo semestre, e até ter leve queda no terceiro trimestre", disse Borges, da LCA.
Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, destaca a alta concentração do crescimento. "Esse aumento da indústria está muito concentrado em alguns setores, especificamente bens de capital e veículos. É isso o que tem explicado o desempenho nos últimos meses", disse, acrescentando que outros segmentos, como o de bens intermediários, andam de lado.