Foram praticamente seis anos para o projeto sair do papel e virar realidade. Em agosto a primeira de uma série de 100 empresas com base tecnológica entrará em operação no Parque Eco Tecnológico Damha, o primeiro de terceira geração do Brasil. Instalado em São Carlos, a 230 quilômetros da capital paulista, o empreendimento integra esporte, lazer e moradia em um complexo empresarial e de negócios, em uma área de 14 milhões de metros quadrados, dos quais mais de um milhão a serem ocupados apenas por empresas. É, também, o primeiro parque tecnológico brasileiro a somar recursos da iniciativa privada e pública, com recursos de órgãos e agências de fomento dos governos estadual, federal, da prefeitura de São Paulo e de universidades e institutos de pesquisa.
"Foi um grande desafio criar um Parque Tecnológico com o objetivo de aproximar empresas, centros de pesquisa e universidades, propiciando um ambiente de inovação com geração de conhecimento, a partir da iniciativa privada", avalia José Paranhos, sócio da Damha Urbanizadora, responsável pela implantação do complexo. "Mas o pioneirismo poderá servir de exemplo para outras iniciativas se multiplicarem pelo país, garantindo a transformação do conhecimento das universidades em negócios, gerando emprego, renda e retendo o conhecimento onde ele é gerado", afirma.
A expectativa é compartilhada por Guilherme Ary Plonski, professor da USP e membro do Conselho Consultivo da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec). "A soma de esforços da iniciativa pública e privada em uma cidade privilegiada na geração de empresas inovadoras, como São Carlos, só pode ser comemorada", afirma. "O sucesso desse projeto inspirará muitos outros pelo país, assim como já acontece no exterior."
Embora o parque só comece a operar efetivamente no próximo mês, a expectativa de José Paranhos já começa a se concretizar. "Temos recebido a visita de muitas prefeituras interessadas em conhecer mais a fundo o modelo do Eco Parque Tecnológico Damha e também de empreendedores da Alemanha, Suíça, Coreia, Japão e Itália, donos de empresas de base tecnológica dispostas a expandir suas operações no Brasil", afirma José Octávio Armani Paschoal, presidente do Instituto Inova, responsável pela gestão do novo parque.
Nesta primeira fase, o Parque Eco Tecnológico receberá cerca de cem empresas, 35% da área de saúde, principalmente equipamentos médicos, laser, LED, ótica e fotômetro embarcado; 30% do segmento de tecnologia da informação e mecatrônica; entre 15% e 20% de negócios ligados a biotecnologia e nanotecnologia e as demais especializadas em novos materiais. Neste último bloco está a MIB -Materials Institute of Brazil, a primeira a entrar em operação no novo parque.
Especializada em controle de qualidade de materiais e análise de falha de componentes, além de projetos de desenvolvimento de novos materiais, a empresa projeta um crescimento superior a 30% com a mudança para a nova sede. "Há cinco anos protocolamos a nossa intenção de integração e em agosto concretizaremos o projeto que demandou um investimento de R$ 1,5 milhão", afirma o sócio Marcelo Tadeu Milan. São 700 metros quadrados de área construída e mil metros quadrados para futura expansão. O projeto da MIB contempla as exigências de construção sustentável, com uso de telhas termoacústicas, aquecimento solar, vidros termoreflexivos, poço para aproveitamento da água da chuva e reciclagem de lixo.
Aplicar pelo menos sete itens que caracterizam uma construção sustentável é uma exigência do Parque Eco Tecnológico Dahma para os condôminos. O local recebeu a certificação Processo Aqua (Alta Qualidade Ambiental) - Bairro Sustentável, conferida pela Fundação Vanzolini, justamente por seguir à risca as regras de construção e segmentação das áreas de atuação das empresas ali instaladas. O empreendimento é, ainda, pioneiro na apresentação de uma gestão integrada, que alia a norma de gestão ambiental ISO 14001 ao referencial técnico da certificação Aqua.
Formado em engenharia de matérias pela UFSCAR, com mestrado e doutorado cursados na Inglaterra, o sócio da MIB afirma que um dos grandes benefícios que a implantação do parque trará à cidade e à região será a possibilidade de troca de conhecimentos e a transformação desse conhecimento em produto, em negócio. "Ainda é difícil pesquisadores virarem empreendedores, e o parque tecnológico tem o papel de acelerar esse movimento", afirma.
pOR Por Katia Simões/ Valor Econômico