A expectativa de que a economia vá crescer menos neste e no próximo ano elevou a preocupação em torno do mercado de trabalho, que já dava sinais de acomodação nos últimos meses. Para economistas, as análises do resultado de maio do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e do esperado para junho acendem uma "luz amarela", mas não há, por enquanto, sinais de reversão do bom momento da oferta de emprego visto nos últimos anos, mas apontam para um cenário em que a geração de vagas será menos expressiva.
Na média das projeções feitas por oito economistas consultados pelo Valor Data, a pesquisa mostrará abertura de 97,9 mil postos de trabalho formais em junho, ante criação de 120,4 mil vagas em igual período do ano passado. As estimativas para o Caged, que deve ser divulgado nesta semana pelo Ministério do Trabalho, variam entre saldo líquido de 80 mil a 118 mil entre admitidos e desligados.
Para Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, o desaquecimento do mercado de trabalho deve ficar mais visível no segundo semestre. "Temos um ambiente desfavorável em termos de expectativa de crescimento para os próximos trimestres, o que aumenta a cautela dos empresários nas decisões de contratação e investimento", diz.
O economista prevê que em junho tenham sido criadas 105 mil vagas com carteira assinada. Anteriormente, Bacciotti previa saldo líquido de 70 mil vagas em junho, mas elevou a projeção em função das declarações do ministro do Trabalho, Manoel Dias, que na quinta-feira disse que foram criados mais de 100 mil empregos formais no mês passado.
Para Bacciotti, a expectativa de um número mais forte em junho não altera seu cenário para o mercado de trabalho. Segundo ele, a desaceleração na geração de vagas com carteira assinada pode ser atribuída principalmente ao crescimento menor do comércio e dos serviços. De janeiro a maio, as vendas no varejo subiram 3,3%, menos do que a alta de 9% observada em igual período de 2012. A confiança dos empresários do setor de serviços também está abaixo do nível observado nos últimos anos, o que ajuda a explicar o menor ímpeto de contratação nestes dois ramos.
"O ambiente é desfavorável para o consumo, com endividamento das famílias bastante elevado e aumento da inflação. O desempenho desses dois setores começa a perder fôlego", afirma Bacciotti. Já a indústria, que contribuiu positivamente com a criação de postos de trabalho no primeiro trimestre, também deve mostrar acomodação, diz, apesar da expectativa de continuidade da recuperação gradual da produção industrial.
Sarah Bretones, da MCM Consultores, também afirma que a perda de fôlego na geração de postos de trabalho é generalizada, com destaque para a desaceleração no setor de serviços, principal empregador no país. A economista prevê abertura de 83,9 mil postos em junho, bem abaixo da média dos últimos três anos, de 167 mil empregos no mês.
Leandro Câmara Negrão, economista do Bradesco, diz que o resultado de junho do Caged não será tão fraco quanto em maio, quando o saldo líquido entre contratações e demissões foi positivo em 72 mil, 50% a menos do que em igual período de 2012. O economista projeta que no mês passado houve abertura de 80 mil vagas com carteira assinada.
Na série com ajuste sazonal calculada pelo banco, a criação de empregos passaria de 6 mil no quinto mês do ano para 30 mil em junho. "O que estamos vendo não é um enfraquecimento, mas uma acomodação no mercado de trabalho. Os números mais fracos aumentam a preocupação em relação à taxa de desemprego, mas ainda não mudamos nossa percepção", diz Negrão.
Em função da recuperação da atividade, o economista do Bradesco previa que o mercado de trabalho teria aceleração gradual ao longo deste ano, o que se confirmou nos quatro primeiros meses. Os dados de maio e junho, no entanto, acenderam "luz amarela" sobre esse prognóstico, diz.
No cenário do Bradesco, deve haver continuidade da recuperação gradual do nível de atividade nos próximos trimestres, o que tende a impulsionar a criação de empregos. O banco projeta que a taxa de desemprego fique em 5,6% neste ano, em média, levemente mais alta do que os 5,5% observados no ano passado. Ainda assim, seria a primeira alta da desocupação desde 2009.
Bacciotti, da Tendências, diz que o risco de o desemprego subir é baixo no curto prazo, mas não é hipótese a ser desconsiderada. "Não dá para descartar cenário mais pessimista, caso o crescimento volte a surpreender negativamente nos próximos trimestres, embora neste ano esperemos manutenção da taxa de desemprego em 5,5%".
Por Tainara Machado/ Valor Econômico