Fabricantes de ônibus elevam previsões

A expansão na primeira metade do ano, com destaque para junho, os leva agora a esticar a previsão de crescimento de 7% para até 15%.

Muito antes de os protestos por transporte público tomarem as ruas, em junho, os fabricantes de ônibus já contavam com crescimento das vendas este ano. Afinal, mais do que o clamor dos manifestantes, foi a demanda originada pelos eventos esportivos que os levou a prever um mercado entre 7% e 10% maior em 2013. Mas a expansão na primeira metade do ano, com destaque para junho, os leva agora a esticar a previsão de crescimento para até 15%.
 
Se as encomendas pelos coletivos já refletem a organização das cidades para Copa do Mundo e Olimpíada, num futuro mais distante os dirigentes da indústria já vislumbram efeitos positivos como resultado do que a população hoje reivindica nas ruas.
 
"Nosso setor só tem a ganhar se o Brasil avançar na infraestrutura", diz o presidente da MAN, Roberto Cortes que, no caso, fala também pelo segmento de caminhões. Em relação aos ônibus, o executivo é otimista. "No longo prazo, a população que hoje pede pela qualidade dos veículos vai ter que ser ouvida e isso levará a uma renovação da frota."
 
Para Cortes, a demanda por mobilidade mostrará que não apenas os corredores, que se transformaram em prioridade nos grandes centros, precisam ser atendidos. "Cidades menores, onde o sistema de transporte não é tão planejado, também vão precisar de mais coletivos. Vamos, de um modo ou outro, ter de dar conta da vida urbana", destaca.
 
A MAN ocupa o segundo lugar no mercado brasileiro de ônibus, o terceiro maior do mundo. Com vendas de 28,8 mil unidades em 2012, o Brasil fica bem atrás da China e quase encosta na Índia, segunda colocada. Os Estados Unidos teriam o maior mercado do planeta se fossem incluídos os ônibus escolares. Mas esse tipo de veículo é tão usado no país que a indústria prefere excluir esses modelos americanos para não provocar distorções exageradas. Apesar disso, no Brasil, o programa do governo federal Caminho da Escola, que levou o ônibus para regiões de difícil acesso, também tem ajudado a elevar os volumes de vendas.
 
A venda interna de 16 mil ônibus até junho anima a Federação Nacional da Distribuição de Veículos (Fenabrave), que representa a rede de concessionários, a prever mercado de mais de 33 mil unidades este ano. Recém-chegada no segmento de ônibus no Brasil, a Iveco , do grupo Fiat, aproveita o potencial do país. Paolo Del Noce, diretor de veículos especiais da Fiat América Latina, diz que o mercado brasileiro já é maior do que a soma de todos os mercados da Europa e tende a rapidamente alcançar 45 mil unidades por ano.
 
Segundo Del Noce, o começo do ano não foi bom. A recuperação começou em abril. "O resultado de junho nos mostrou que o crescimento tende a ser maior do que esperávamos", diz. Segundo o executivo, a primeira grande compra de ônibus apareceu com a Copa das Confederações. "A segunda virá com a Copa do Mundo e a terceira, entre 2015 e 2016, com a aproximação da Olimpíada", destaca.
 
Até agora, com as obras em novos corredores, com o sistema BRT (Bus Rapid Transport), chegam com mais força aos fabricantes as encomendas de veículos para uso urbano. "Mas ainda falta muito para termos a noção de quantos ônibus de fretamento as empresas que participarão da organização da Copa e jogos olímpicos vão precisar", afirma Del Noce.
 
No mercado brasileiro de ônibus há apenas oito meses, a Iveco tem 3,21% das vendas acumuladas no ano, segundo dados de licenciamento divulgados pela Fenabrave. A montadora italiana começa agora a se preparar para entrar no segmento de rodoviários. E quem vai testar o veículo com essas configurações é o time do Corinthians. O visual do "Mosqueteiro", o novo ônibus do time paulista, que será entregue amanhã, é resultado de votação de 15 mil pessoas que participaram de uma pesquisa via Facebook.
 
Na outra ponta, a Mercedes-Benz, no primeiro lugar do mercado brasileiro e ainda longe de ver sua liderança ameaçada, também mantém otimismo por conta dos eventos esportivos.
 
Com 40,39% dos licenciamentos de ônibus acumulados no primeiro semestre, a Mercedes recentemente lançou um ônibus chamado de super articulado. Desenvolvido especialmente para os corredores, e já em operação na cidade de São Paulo, o veículo tem uma capacidade 40% acima dos articulados tradicionais.
 
"Haverá, no país, 600 novos ônibus só para o transporte durante a Copa do Mundo", diz Walter Barbosa, que acaba de assumir a direção de vendas e marketing de ônibus da montadora alemã.
 
Além dos eventos esportivos, as facilidades no financiamento estimulam a troca de veículos. O BNDES fixou a taxa do Finame em 3% para contratos no primeiro semestre e em 4%, para a segunda metade de 2013. São os níveis mais baixos da história dessa linha de financiamento. Barbosa lembra que, há dez anos, o mercado anual de ônibus no Brasil era de 16 mil unidades, quase a metade do que se projeta para este ano.
 
Por Marli Olmos/ Valor Econômico