Metais caem, mas têm pouco efeito na balança comercial

O semestre foi ruim para as commodities metálicas. Em média, os principais metais não ferrosos estão 11% mais baratos do que no fim de 2012.

O semestre foi ruim para as commodities metálicas. Em média, os principais metais não ferrosos estão 11% mais baratos do que no fim de 2012. No Brasil, o efeito é irrelevante para a balança comercial, mas significativo para as companhias que atuam no setor. Diante de perspectivas de que os preços fiquem acomodados, a solução tem sido a busca por cortes de custos e maior eficiência.
 
O que derrubou os preços no semestre foi principalmente a preocupação com a demanda da China, após seguidos sinais de desaceleração do país. Em junho, quando as quedas foram bastante expressivas - entre 4% e 8% -, pesaram ainda as indicações do Federal Reserve de que a economia americana terá menos estímulos. Os dois países são os maiores consumidores de metais, respondendo por mais da metade das compras.
 
Ao mesmo tempo em que cresceram as preocupações com a demanda, os estoques seguem altos e as expectativas ainda são de elevação da oferta.
 
No caso do alumínio, que caiu 14% no semestre, o preço está abaixo de US$ 1.800 por tonelada, nível baixo para que a maioria das empresas do setor tenha boas margens. Recentemente, algumas das maiores, incluindo Chalco, Rusal e Alcoa, anunciaram cortes de produção e redução de capacidade. Por outro lado, como diz em relatório o analista Leon Westgate, do Standard Bank, há uma adição de capacidade ao mercado, de unidades novas e mais eficientes, e esforços de empresas para mudar suas curvas de custos para operar num ambiente de preços ruins.
 
O níquel, que liderou as perdas até junho, com queda de 21%, também segue com oferta firme. Além disso, concorre com o ferro-gusa de níquel, que é mais barato que o metal e pode substituí-lo em certas aplicações. Mineradoras que atuam com o metal, no Brasil e em outros países, já começam a considerar dar mais atenção a outras commodities.
 
Os fundamentos de cobre, estanho e zinco também não são animadores, o que leva a maioria dos analistas do setor a prever preços acomodados neste ano.
 
A queda das cotações vem pesando nos números de empresas como Votorantim Metais, Vale, Alcoa e Anglo American. No entanto, o efeito é mínimo na balança comercial brasileira. Juntos, os seis principais metais não ferrosos correspondem por apenas 0,88% da pauta de exportações brasileiras e por apenas 0,86% das importações, segundo levantamento da Tendências Consultoria.
 
De janeiro a maio deste ano, as exportações de cobre, alumínio, zinco, chumbo, estanho e níquel, em forma bruta, totalizou R$ 829 milhões, enquanto as importações somaram R$ 847 milhões. No período, o Brasil foi importador líquido de cobre, chumbo e zinco, e exportador líquido de níquel, alumínio e estanho.
 
Mesmo no caso do minério de ferro, que correspondeu por 13,6% das exportações brasileiras nos cinco primeiros meses do ano (R$ 12,4 bilhões), considerando também seus concentrados, o efeito da queda dos preços não é ruim como parece. No mercado global, a cotação da matéria-prima caiu cerca de 30% nos últimos quatro meses, do pico de US$ 158,90 por tonelada em 20 de fevereiro para US$ 115,30 por tonelada ontem. No entanto, o minério exportado pelo Brasil, que tem um teor de concentração mais elevado, foi vendido em abril e maio por algo em torno de US$ 128 por tonelada, sendo US$ 108 pelo minério e US$ 20 para o frete, em média, diz Bruno Rezende, analista da Tendências. E o dólar em alta ajuda. "Para as empresas, o efeito cambial vai trazer um ganho no fluxo de caixa a curto prazo", diz Ronaldo Valiño, analista de mineração da Price WaterhouseCoopers.
 
Por Olivia Alonso/ Valor Econômico