Mundo globalizado, economias emergentes, novo retrato social e configuração do trabalho. Os desafios para as futuras gerações de líderes não são poucos, mas motivadores. Nosso escritório de Londres, juntamente com a Cass University, acaba de divulgar os resultados de uma pesquisa realizada com 100 líderes globais sobre os desafios da transição de liderança entre os gestores da geração Baby Boomers para os da Geração X.
Aproximadamente metade dos participantes acreditam que suas empresas não estão prontas para essa transição, o que deveria ser um fator de preocupação. É interessante pensarmos que o funil no topo ficará, a cada dia, mais estreito, pois a taxa de natalidade cai de forma contundente no mundo todo, ou seja, teremos uma população menor de potenciais líderes nas próximas gerações. Ao mesmo tempo, os profissionais das novas gerações têm características muito distintas das apresentadas pelos Baby Boomers. A geração que sucederá os líderes de hoje busca um melhor balanço entre trabalho e vida pessoal, não quer o sucesso a qualquer preço e possui maior controle de suas decisões de carreira do que seus colegas mais experientes. Do outro, os Baby Boomers, por sua vez, acreditam que seus colegas mais jovens não são tão esforçados e leais, estão seguindo um caminho mais suave rumo ao topo e que recebem tudo de mão beijada.
Traduzindo essa situação para o Brasil, encontramos um fator ainda mais complexo, o que torna tudo mais difícil. Nosso país passa por uma situação sui-generis nos últimos anos. Enfrentamos a diminuição do crescimento econômico com o aumento das taxas de empregabilidade, ou seja, as empresas estão crescendo menos, mas seguem empregando, ou ao menos mantendo seus empregados. Como isto é possível? Na realidade, o Brasil conta com uma ajuda das ultrapassadas leis trabalhistas, somam-se nesse contexto os mesmos desafios demográficos de outras partes do mundo e o fato de que os jovens estão estudando mais e começando suas carreiras mais tarde, visando melhores salários. Tudo em função do crescimento acelerado da classe média com seu poder de compra, o que faz com que as empresas sigam apostando no mercado, apesar dos altos custos associados.
O resultado desse cenário para o Brasil é um futuro complexo. Os próximos anos trarão uma intensificação da guerra por talentos, o que deve levar as empresas a trabalharem de forma muito mais efetiva em áreas como engajamento e ferramentas de assessment, retenção e desenvolvimento de equipes, além, é claro, de uma necessidade ainda maior de assertividade na seleção de seus futuros líderes.
A recompensa justa para as empresas que trabalharem bem a transição de gerações, usando seus líderes seniores como mentores para os novos integrantes, será a de ter uma grande vantagem competitiva, em um mercado de trabalho onde o colaborador terá um poder, cada vez maior, de decisão em suas mãos.
* André Freire é presidente da Odgers Berndtson no Brasil.