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A uma semana da maior feira do setor da América Latina, e uma das maiores do mundo, o Presidente da Câmara Setorial de Máquinas-ferramenta e Sistemas Integrados de Manufatura (CSMF) da Abimaq, André Luis Romi, concede entrevista exclusiva ao CIMM.
Com isso, o Portal CIMM lança sua nova editoria. Uma sessão de entrevistas exclusivas com empresários e especialistas que atuam no setor. Todo mês um novo entrevistado falará sobre diversos temas relacionados ao setor metalmecânico. Como primeiro entrevistado, Romi fala sobre o recuo do setor na economia, os desafios enfrentados pelas empresas para alavancar as vendas e a produção de máquinas-ferramenta, e as expectativas para o início da 14ª Feimafe, que acontece de 03 a 08 de junho, em São Paulo.
"A combinação de aumento dos custos de produção e um Real excessivamente valorizado colocou a indústria de transformação nacional em desvantagem nos últimos anos "
A que fator o senhor relaciona o recuo de 18%, em 2012, da produção de máquinas-ferramenta se comparado ao ano anterior?
Segundo estatísticas da Abimaq, o consumo aparente de máquinas-ferramenta em 2012 foi de R$ 3,6 bilhões, representando retração de -11% com relação a 2011. Já a produção doméstica atingiu R$ 1,2 bilhão, com acentuada retração de -20%, ao mesmo tempo em que as importações mantiveram-se estáveis, com pequeno acréscimo de 0,9% com relação ao ano anterior. Uma surpresa foi as exportações terem atingido R$ 419 milhões, um incremento de 61%, desempenho que acreditamos tenha sido pontual. Esse quadro desfavorável à produção doméstica de máquinas-ferramenta se deu pelos fatores relacionados à elevação dos custos internos, com especial atenção para a mão de obra e insumos, e por um Real excessivamente apreciado, tornando a máquina importada bem mais atrativa em termos de preço. Somado a isso, a produção local foi afetada negativamente pela redução da escala de produção e, simultaneamente, por um excesso de oferta mundial de máquinas-ferramenta, também afetada nos mercados mais tradicionais pela desaceleração da economia mundial.
Considerando o aumento das importações - em 2012, se comparado a 2011 -, o senhor considera a indústria estrangeira, principalmente a asiática, uma ameaça para o setor? Qual a maior dificuldade da indústria nacional em competir com as estrangeiras?
A combinação de aumento dos custos de produção e um Real excessivamente valorizado colocou a indústria de transformação nacional em desvantagem nos últimos anos para competir com a concorrência estrangeira. Veja que não apenas produtos de consumo chegam cada vez mais no País, mas também uma grande quantidade de matérias primas, partes, peças e componentes, que estão sendo importados pelas diversas cadeias da indústria doméstica, como forma de se manter competitiva. Nesse cenário, a indústria de transformação nacional vem perdendo participação no geral, o que tem afetado negativamente o consumo de máquinas-ferramenta no País, hoje na casa de modestos US$ 9,4 por habitante (China em US$ 29,10 por habitante). Apesar desse contexto desfavorável momentâneo, a indústria nacional de máquinas-ferramenta não interrompeu o investimento em novos produtos e soluções tecnológicas para enfrentar a concorrência estrangeira, e continua investindo em melhoria da eficiência de processos de fabricação para repor a perda de competitividade.
Quais são os maiores desafios para que o setor alcance um aumento expressivo?
A indústria de máquinas-ferramenta nacional enfrenta, basicamente, os mesmos desafios por que passam os fabricantes estrangeiros em seus países. São vários os desafios que fazem parte da preocupação permanente dos líderes e gestores das empresas: investir consistentemente em pesquisa e desenvolvimento de produtos e soluções tecnológicas; formar e reter talentos em seu quadro; implantar processos de fabricação mais eficientes, visando melhoria de produtividade permanente; e construir estrutura de vendas e serviços eficientes, que permita acesso aos mercados cada vez mais competitivos e segmentados. Tudo isso em um mercado mundial cíclico, de altos e baixos na economia, com estímulo aos investimentos ora sim ora não.
Acreditamos que as melhores oportunidades serão encontradas justamente nas soluções tecnológicas de maior relevância e que entreguem maior produtividade para o usuário da máquina, permitindo menor tempo de preparação e programação, elevado grau de flexibilidade, controle absoluto das tolerâncias de posicionamento, operações múltiplas realizadas em uma mesma máquina e fixação, monitoramento de desgaste de ferramentas, automatização para carga e descarga das peças, velocidades mais elevadas, dentre outros atributos tecnológicos que estão sendo disponibilizados ao mercado.
As medidas governamentais, como desoneração de impostos, financiamentos especiais (Finame), ou regulamentações, como o Inovar-Auto, contribuem efetivamente para as produções nacionais? Essas ações governamentais são suficientes para alavancar as produções internas?
As medidas de estímulo a investimento e a produção industrial que o governo federal vem implantando são benéficas para o setor de bens de capital e visam revitalizar a manufatura nacional, bastante afetada pela elevação dos custos internos e um Real excessivamente valorizado nos últimos anos. É claro, que essas medidas deverão se somar a outras estruturais, como as reformas tributária, trabalhista e administrativa dos serviços públicos, o que permitirá ao País alcançar patamares de desenvolvimento mais sólidos e sustentáveis no longo prazo.
O senhor concorda que o setor está muito voltado à indústria automotiva, principalmente, com a entrada de novas fábricas no país?
A cadeia do setor automotivo continua respondendo por parte significativa da demanda por máquinas-ferramenta no País. Em geral, cerca de 20% da máquina-ferramenta produzida no país é utilizada, em alguma fase do processo, pela cadeia automotiva. Ocorre que o estabelecimento de novas montadoras no país, por si, não é uma garantia de que o consumo de máquinas-ferramenta aumentará, considerando as condições de custo e câmbio desfavoráveis a toda a cadeia anteriormente mencionada. O novo regime automotivo, que prevê o desenvolvimento de engenharia nacional e a produção de partes, peças e componentes, estabelecendo fases da produção que deverão obrigatoriamente ser realizadas no país, trará, a nosso ver, um estímulo bastante robusto a toda a cadeia, refletindo positivamente, por fim, no setor de máquinas-ferramenta para os próximos anos.
O novo regime estimula a inovação e a produção nacional. O senhor acredita que o Brasil já consiga desenvolver pesquisa e inovação no setor de forma independente, ou ainda depende muito de centros de pesquisa estrangeiros?
Por sua natureza e condição de bens de produção essenciais, o setor de máquinas-ferramenta possui níveis elevados de investimento em P&D, na casa dos 2% a 4% da receita operacional líquida. Ao longo de mais de 70 anos de existência, o setor adquiriu autossuficiência e domínio em uma vasta gama de tecnologia relacionada às máquinas-ferramenta, apoiado numa engenharia nacional robusta e de qualidade. Adicionalmente, a capacidade nacional é incrementada com o acesso ao desenvolvimento externo para complementar, em um tempo mais curto, a necessidade de mercado.
Ocorre, entretanto, que o ambiente nacional, por falta de maiores estímulos (com exceção feita ao benefício da Lei 11.196/2005 “Lei do Bem”), tem que lidar com adversidades que dificultam o atingimento de uma maior dinâmica tecnológica. Veja que o Brasil é um dos poucos países que tributa investimento em aquisição de máquinas e equipamentos. Além disso, ainda esbarramos com questões relacionadas à propriedade intelectual nos desenvolvimentos em projetos entre empresa e universidade, que tem dificultado maior expansão de projetos de desenvolvimento.
A imprensa e órgãos de pesquisa divulgam constantemente a falta de mão de obra qualificada na indústria brasileira. Qual é a realidade da mão de obra no setor?
Recurso humano é estratégico para a indústria de máquinas-ferramenta em todo o mundo. No Brasil, temos um sistema bastante estruturado de ensino profissionalizante em nível médio, disponibilizado pelas escolas técnicas, mantidas pelo governo, e pelo Senai, mantido pela indústria. Dentre os desafios do ensino, a baixa qualidade do ensino básico – acarretando dificuldade para o aprendizado na fase profissionalizante – e o contínuo investimento em tecnologias mais avançadas na indústria – de maneira a preparar os alunos para a realidade das empresas – são pontos importantes para serem atacados.
Qual a importância da Feimafe para o setor de máquinas-ferramenta? Quais as expectativas para a Feira?
A Feimafe é considerada uma das mais importantes feiras internacionais do setor realizadas no país e um polo de atração de negócios para toda a América Latina. Desde a sua primeira edição, ela se desenvolveu consistentemente até se tornar um evento de abrangência internacional, atraindo o interesse de consumidores e fabricantes de todo o mundo. O status de elevado grau tecnológico adquirido nesses anos, faz com que a visita à Feimafe seja obrigatória na agenda da indústria, atraindo anualmente cerca de 1.300 marcas expositoras e 72.000 visitantes, sendo quase 1.500 de 59 países. Num momento em que o país necessita retomar os investimentos, a realização da Feimafe 2013, deverá ser um referencial importante para indústria de transformação que está demandando novas soluções tecnológicas, mais produtivas e flexíveis.
Quais as expectativas para o setor de máquinas-ferramenta para este ano?
A economia mundial está sob efeito de forte preocupação no curto prazo. Para a economia brasileira, segundo a visão de economistas e banqueiros refletida no Relatório Focus do Banco Central no corrente mês de maio, o PIB brasileiro deve crescer 2,9% em 2013, enquanto que a Selic (taxa básica de juros) deve elevar-se para 8,25% a.a. ao final do ano, enquanto que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deve atingir 5,8% no ano. Considerando que o crescimento do PIB em 2012 ficou em meros 0,9%, e a previsão para o corrente ano seja na casa dos 2,9%, podemos concluir, com base nessas premissas, que o país precisará investir mais em 2013 do que 2012. É sentimento do setor que isso significará um avanço em torno de 5% no consumo aparente de máquinas-ferramenta em 2013. Porém, ainda é prematura a conclusão de previsão mais firme para o setor, nesse momento.
Sumarizando, respeitadas tais premissas macroeconômicas, a indústria de máquinas-ferramenta nacional poderá aproveitar desse crescimento dos investimentos para atendimento, principalmente, da demanda interna, favorecida pela taxa de juros do financiamento PSI-Finame de 3,0% a.a. até 30 de junho e 3,5% a.a. até 31 de dezembro do corrente ano. Ademais, há na indústria manufatureira nacional uma forte demanda por máquinas-ferramenta mais produtivas, criando espaço para se aproveitar desse momento para isso.
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