Apesar dos preços altos da resina, taxas elevadas de importação e da concorrência desigual de importados, a indústria do plástico aposta em um moderado mas persistente crescimento do setor. Se a projeção da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) se confirmar, o setor fechará 2013 com alta de 1% na produção física. Em termos de receita, o aumento previsto é de 6,6% sobre os R$ 59 bilhões apurados no ano anterior, alta real de 1,4%. Animados com as perspectivas, os fabricantes já reservaram uma cifra de R$ 2 bilhões para investir em novos equipamentos, o que permitirá elevar a produção dos próximos anos.
O andamento do primeiro trimestre já indica resultados positivos, reflexo do consumo aparente de transformados plásticos da ordem de R$ 15 bilhões - alta de 8% sobre igual intervalo de 2012. Comparado a fevereiro, a produção no mês de março cresceu 2%, correspondente a faturamento de cerca de R$ 5 bilhões. As vendas de resinas, por sua vez, chegaram a 1,3 milhão de toneladas, alta de 5,6% sobre o trimestre anterior. No mesmo período, a Braskem negociou no mercado interno 921 mil toneladas, acréscimo de 6,2%.
Líder na produção de resinas termoplásticas na América Latina e nos Estados Unidos, a empresa do Grupo Odebrecht ainda vê essa tendência de crescimento com ressalva. "Apesar da melhoria dos spreads e do aumento das vendas no mercado doméstico, continuamos a acompanhar com atenção a evolução dos próximos meses para verificar se essa tendência positiva se confirma", afirma Carlos Fadigas, presidente da Braskem. O executivo explica que o foco da companhia está em fortalecer parcerias com a carteira de clientes e apoiar o desenvolvimento da cadeia petroquímica e de plásticos brasileira. "É preciso aumentar nossa competitividade", ressalta. Ainda segundo Fadigas, a demanda estimada de poliolefinas - polietileno e polipropileno - foi de 994 mil toneladas no período em análise, aumento de 3% em relação ao trimestre anterior. "Isso se explica pela recomposição de estoques na cadeia e pelo bom desempenho dos setores de alimentos, automotivo e agroindustrial. Já a demanda por PVC foi 15% superior, alcançando 311 mil toneladas, refletindo o melhor desempenho do setor de construção civil e a recomposição de estoque na cadeia", resume o presidente.
Para José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), as expectativas para o ano são boas. "O setor não acredita que o crescimento pífio do Produto Interno Bruto do ano passado irá se repetir em 2013. As estimativas são de uma expansão média de 4%, com ligeira queda da inflação que deverá manter-se em torno dos 5%. Com base nessas estimativas, projetamos aumento de 1% na demanda por automóveis e de 4% na construção civil - com as obras de infraestrutura e o Programa Minha Casa, Minha Vida. Além de 5% na produção de alimentos", explica. Roriz Coelho, lembra que a migração das classes C e D afeta positivamente a demanda por embalagens plásticas.
A Schütz Vasitex, líder mundial de embalagens industriais, se queixa dos altos preços das resinas. "Nas embalagens plásticas industriais, a resina polietileno representa até 70% do preço de venda", declarou Luiz Francisco da Cunha, diretor da companhia. "O privilégio de ser o único produtor nacional do insumo permite que a Braskem se utilize dos fatores externos para reajustar livremente seus preços no mercado nacional."
De acordo com Cunha, a Schütz Vasitex é uma multinacional e graças ao acesso a negociações globais consegue negociar a aquisição de matéria prima em melhores condições. "No entanto, por questões logísticas, a Braskem permanece como nosso principal fornecedor", afirma. "Os aumentos ficaram na casa dos 25% em um ano", diz. O custo dos insumos no preço de venda afeta diretamente a competitividade do setor plástico, obrigando as indústrias a desenvolver soluções alternativas para envase e transporte, acrescenta. Apesar dos percalços o setor registra alta nas vendas. "Em 2012, aumentaram 30% sobre o ano anterior e, para 2013, as vendas deverão crescer mais 20%", diz.
De acordo com o presidente da Abiplast, "o Brasil tem uma das maiores tarifas de importação para resinas, muito acima da média global que gira em torno de 7%". Segundo informa, a taxa de importação de polipropileno (PP) está em 14%. No fim do ano passado, o governo federal decidiu elevar a alíquota de importação para o polietileno (PE), de 14% para 20%. "As indústrias de transformados plásticos - a terceira geração do setor petroquímico -, estão perdendo competitividade", diz. "Os produtos importados estão 40% mais baixos que no mercado interno", acrescenta. O consumo anual de polipropileno no Brasil está ao redor de 1,4 milhão de toneladas. A resina, empregada desde a produção de fraldas até embalagens para alimentos, está cotada entre US$ 2.200 a US$ 2.400 a tonelada.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior apontam que no primeiro trimestre a balança comercial do setor de plásticos gerou déficit de US$ 598 milhões. As exportações totalizaram US$ 304 milhões, uma redução de 8% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Por Rosangela Capozoli/ Valor Econômico