O conjunto de indicadores industriais referentes ao primeiro trimestre sugere que, apesar da produção fraca, a indústria de transformação está mais ajustada, com custos mais contidos (o salarial e o de energia, pelo menos) e ganhando faturamento. Como custo menor e aumento de receita são sinais de rentabilidade maior, o setor pode estar mais tranquilo com seu desempenho no início de 2013 do que a queda de produção de 0,2% em relação ao primeiro trimestre do ano passado faz pensar.
A indústria de transformação encerrou o primeiro trimestre deste ano com faturamento real 2,7% maior do que o de igual período do ano passado, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na mesma comparação, o custo da folha de pagamento real ficou 1,6% maior, segundo os dados do Instituto Brasileiro (IBGE) divulgados na última sexta-feira (10) e que não consideram o efeito da desoneração da folha, que não é captado pela Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes).
Faturamento crescendo acima do custo salarial é uma novidade (boa) para a indústria no período recente. No primeiro trimestre do ano passado, o faturamento subiu 1,5% sobre igual período de 2011, abaixo do custo da folha de salários, que subiu 3,8%, comendo uma parte do lucro. No ano de 2012 fechado, a receita do setor cresceu 2,4% e a folha, 4%.
O ganho de faturamento do setor combina pelo menos dois elementos: aumento de preços e câmbio. Outra pesquisa do IBGE, o Índice de Preços ao Produtor (IPP) mostra que, na média, o setor de transformação chegou a março deste ano com preços 6,64% maiores que em março de 2012. A desvalorização do câmbio, que ajuda a receita do exportador ainda que aumente o custo de peças e insumos importados, foi de 13% olhando-se para os dois trimestres.
Além disso, a produção 0,2% menor no primeiro trimestre foi alcançada com um número de horas pagas 1,8% menor, indicando ganho de produtividade do trabalho. Ou seja, a produção fraca conta uma parte do que está acontecendo com a indústria neste começo de ano. A outra parte aponta para um setor que opera com custos mais equilibrados, que reajustou preços, ganhou eficiência na linha de produção e, por isso, parece caminhar para lucros melhores. A conferir, quem prevalece até o fim do ano.
Por Denise Neumann/ Valor Econômico