Com o desafio de melhorar a qualidade dos carros brasileiros - colocado para os próximos cinco anos pelo novo regime automotivo - surge também a necessidade de desenvolver toda a cadeia de suprimentos e, com ela, uma profusão de incentivos pedidos por setores ligados à manufatura de automóveis.
Diante do "salto tecnológico" prometido pelas montadoras e de uma demanda que caminha para a casa de 5 milhões de veículos até 2017, os fabricantes se articulam em busca de novas políticas de apoio à indústria. Em comum, as propostas que estão sendo apresentadas são complementares e inspiradas no Inovar-Auto - como foi batizado o novo regime automotivo - até mesmo no nome.
A indústria de componentes automotivos, por exemplo, pede o Inovar-Peças, enquanto os fabricantes de pneumáticos começam a trabalhar em cima de um Inovar-Pneus. Para que as exportações de carros voltem a ter competitividade, as montadoras vão, em breve, levar a Brasília um conjunto de medidas que já está sendo chamado de Exportar-Auto.
No caso do setor de autopeças, contudo, o governo já adiantou que os incentivos serão dados em ações pontuais, e não dentro de um pacote de medidas como aconteceu no decreto do novo regime automotivo. Estão inseridos nesse contexto os programas de desenvolvimento de fornecedores em grandes polos automotivos e a busca por mecanismos financeiros para facilitar o acesso ao crédito por empresas que estão na base do setor, assim como medidas de estímulo a pesquisas em nanotecnologia e eletrônica.
Já a rastreabilidade dos componentes usados na produção de veículos - uma bandeira da indústria nacional de autopeças para fazer valer a redução das importações de peças pretendida pela nova política automotiva - virá junto com a regulamentação do Inovar-Auto.
Ao vincular descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ao uso de conteúdo local, o novo regime automotivo gerou demanda para as autopeças brasileiras. Porém, não resolveu problemas estruturais como a dificuldade no acesso ao crédito e a perda de competitividade, avaliam os fabricantes de componentes.
Por isso, eles cobram uma série de medidas que vai de incentivos tributários à desoneração da produção, passando por renegociação de dívidas, maior apoio ao desenvolvimento tecnológico e linhas de financiamento alternativas a empresas da base da pirâmide.
Há um consenso entre os agentes da indústria automobilística de que o desenvolvimento dos fabricantes de autopeças será fundamental para o bom andamento do novo regime automotivo. Isso porque a aproximação dos carros brasileiros aos padrões de qualidade, eficiência e segurança já vistos em mercados desenvolvidos passa pelo uso mais intensivo de tecnologias não disponíveis no Brasil, principalmente no campo dos sistemas elétricos e eletrônicos.
Como disse recentemente o vice-presidente da Ford, Rogelio Golfarb, o grande desafio será desenvolver essas tecnologias e, mais do que isso, tornar viável sua produção local. Segundo ele, alternativas na área de sistemas elétricos podem ser mais eficientes do que inovações de mecânica na busca por carros mais econômicos, que é um dos objetivos do Inovar-Auto.
Por Eduardo Laguna/ Valor Econômico