Baixo grau de investimento afeta indústria brasileira

No ano passado, a relação investimento/PIB foi de 18%, sendo que 16% vieram do setor privado e apenas 2% foram públicos.

Embora para dez entre dez economistas brasileiros a fórmula do crescimento do país seja simples: alto grau de investimentos, somado a um forte comércio exterior de produtos de maior valor agregado e consumo elevado da população, o Brasil não consegue trilhar este caminho. E, para representantes de entidades de importantes setores que movem a economia nacional, os desafios são muitos e este objetivo está longe de ser alcançado.

Na opinião do gerente de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, o investimento é o principal motor do crescimento. "O problema é que o governo investe pouco e não tem tido capacidade de gerenciamento e nem consegue estimular o setor privado nesse sentido. ɐ preciso alavancar os investimentos", afirma.
 
No ano passado, a relação investimento/PIB foi de 18%, sendo que 16% vieram do setor privado e apenas 2% foram públicos. Segundo Castelo Branco, o setor privado tem capacidade para investir mais e melhor do que o governo, mas precisa de estímulos.
 
"ɐ necessário bom ambiente jurídico para que os aportes privados aconteçam. O governo não faz e ainda obstrui os canais para que as empresas privadas façam. Porque atrasos nas obras e projetos ruins geram custos elevados e isso significa perda de capacidade", explica.
 
O economista da CNI ressalta que, sem os investimentos necessários em infraestrutura, principalmente, o país não conseguirá ser eficiente nas exportações e as ações visando apenas o incremento do consumo não funcionam. "A competitividade é baixa, mão de obra pouco eficiente e de baixa escolaridade. Além disso, os custos em cima das indústrias são altíssimos", ressalta.
 
Perdas 
 
Quem entende bem dos efeitos da perda da competitvidade externa é o setor de bens de capital brasileiro. Para o diretor regional da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Marcelo Luiz Veneroso, deixando de lado toda a questão estrutural do país, seria possível alavancar o crescimento mantendo uma taxa de investimento em 24% ao ano.
 
"Mas isso não tem acontecido. A questão é que o governo não tem que fazer isso sozinho, mas precisa ser a mola que impulsionará o setor privado a fazer", disse. Ele também enfatiza que falta ao Estado proporcionar um "clima" favorável para que os negócios aconteçam. "Aí tem a questão cambial, que está matando a indústria nacional", ressalta.
 
Na opinião de Veneroso, sem uma política industrial que realmente vise favorecer o setor privado, o investidor, não haverá avanços.
 
Fiscal
 
O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Adriano Pires, considera que, com omissão do governo em desempenhar seu verdadeiro papel, que é de fiscalizar e criar um ambiente favorável aos investimentos, o país não vai crescer. "Isso não acontece, o Estado é ineficiente, moroso e incapaz de formular as políticas necessárias e de longo prazo para estimular o investimento. Com isso, cria incertezas jurídicas que afugentam os aportes", afirma.
 
Um exemplo, segundo Pires, são os investimentos em infraestrutura e logística, como as concessões de aeroportos, setor energético e petrolífero. "O governo custa a fazer e quando o faz, demora décadas para realizar os investimentos. Aí, não satisfeito, muda as regras no meio do jogo, como aconteceu com o setor de energia e petróleo", diz.
 
Além disso, quando resolve finalmente entregar o projeto na mão da iniciativa privada, acaba criando tantos riscos no processo que afugenta o bom investidor, ficando sempre à mercê dos ruins. "Isso está acontecendo com aeroportos e com os estádios da Copa do Mundo. Está aí para todo mundo ver. O modelo escolhido tem sido sempre equivocado. Não funciona", salienta.
 
O presidente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), Antônio Mller, concorda que as decisões do governo quanto aos investimentos são demoradas e nem sempre acertadas. "Temos problemas graves estruturais no país que complicam as decisões de investimentos", revela.
 
Mller também lembrou que o dinheiro para investimento no setor privado existe, mas sem a tão falada "segurança jurídica", não há garantias para os investidores, mesmo com os contratos assinados. "Dinheiro não aceita insolência. E quando não se tem regras claras, ele (o dinheiro) corre para outros lugares". Nesse caso, ele quer dizer, outros países.