GM de São Caetano: 54% das peças usadas nos veículos são importadas

Depois de ampliada, fábrica produz mais de 45% do volume vendido pela Chevrolet anualmente

A estratégia da General Motors do Brasil de esvaziar São José dos Campos, no interior São Paulo - a maior fábrica da montadora na América do Sul, mas que deixou de ser competitiva por falta de acordo com o sindicato local, culminando com a demissão de 598 trabalhadores - entupiu a linha de produção mais antiga da GM no País, a octogenária São Caetano do Sul, que hoje importa mais da metade das peças usadas para montagem de seis modelos Chevrolet diferentes. 

Um ano, exatamente de julho de 2011 a julho de 2012, foi o prazo estabelecido para a antiga fábrica de São Caetano do Sul, que até então fazia apenas a picape Montana e o sedã de entrada Classic em sua única linha de produção, se reestruturar para fabricar mais quatro novos carros: o Cruze nas versões sedã e hatch (Sport 6), o sedã Cobalt, e ainda o monovolume Spin, com versões para cinco e sete passageiros e que tinha sido desenvolvido para ganhar forma em São José, na mesma linha em que eram feitos os monovolumes Meriva (de cinco lugares) e Zafira (de sete), seus antecessores. 
 
A fábrica do ABC deu conta do recado sem parar nenhum dia, com a formação de um terceiro turno com 1,5 mil novos empregados, a adição de mais de 16 mil metros quadrados e 159 novos robôs. Hoje, com um total de 7 mil empregados, é capaz de fabricar 1,1 mil carro por dia, quase 300 mil por ano. A planta produz mais de 45% dos 640 mil automóveis e comerciais leves vendidos em média pela Chevrolet anualmente. 
 
Inovar-Auto
 
Mas o desafio que está prestes a enfrentar tende a ser mais complicado do que fazer seis carros (quatro plataformas) em uma linha só. Durante o Simpósio de Manufatura Automotiva, realizado pela Sociedade de Engenharia Automotiva, SAE Brasil, em São Paulo, na segunda-feira (15), a diretora da fábrica de São Caetano do Sul, Sonia Campos, revelou que atualmente 54% das 10 mil peças usadas para montagem diária dos veículos na unidade são importadas. 
 
“Recebemos 68 containers diariamente para o abastecimento da nossa fábrica”, contou Sonia. Ainda segundo ela, o volume importado é alto principalmente por causa do sedã médio Cruze, que por ter sido desenvolvido na Coreia do Sul com nível alto de tecnologia embarcada (para os padrões brasileiros), tem muitas peças vindas de fornecedores asiáticos, com preços mais competitivos. 
 
Com a chegada do Inovar-Auto, o novo programa do governo para o setor que incentiva investimentos em inovação, pesquisa e desenvolvimento, em eficiência energética, e, sobretudo, na aquisição de componentes nacionais até 2017, a GM vai ter que recalcular o porcentual de peças importadas. 
 
A fabricante se habilitou ao novo regime automotivo em novembro do ano passado. Com isso, recebeu a autorização para importar 2,4 mil veículos sem o acréscimo dos 30 pontos porcentuais do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI). Assim como as demais habilitadas, a GM também está autorizada a descontar os valores gastos na aquisição de insumos e ferramentais para abatimento de até 30 pontos porcentuais do IPI.
 
A diretora conta que “a GM está avaliando as medidas estabelecidas pelo Inovar-Auto e como se preparar para atendê-las. Além disso, tem se preocupado em localizar, porque o câmbio não está favorável para continuar com o atual volume de importação”. “Desenvolveremos uma programa forte para localização”, comentou Sonia.
 
Em São Caetano do Sul, por falta de espaço, hoje não há como fazer a mais sequer um novo popular com pouquíssimo conteúdo. “Do jeito que está, só se crescêssemos para cima”, brincou. Uma alternativa viável seria a substituição de modelo antigo por um mais novo. Nesse caso, o Classic, no mercado brasileiro há mais de uma década, seria um forte candidato. Desde já Sonia tem cobrado de seus funcionários: “Devemos ser competitivos ou nunca mais teremos novos produtos na planta.”
 
Por Camila Franco/ Automotive Business