O problema da falta de mão de obra qualificada no Brasil não é só uma questão da área de educação, mas também já pode ser considerado um dos principais obstáculos ao desenvolvimento do País. Enquanto nações em desenvolvimento, como a China, vêm buscando aprimorar questões relacionadas ao conhecimento, aprendizado, cultura, inovação e tecnologia, nosso País ainda sofre para aprimorar seu potencial nesses segmentos. Uma das áreas do conhecimento que encabeça a lista de deficiências é a das Engenharias.
A profissão de engenheiro está entre aquelas que registram os mais graves problemas. Segundo o Instituto de Engenharia, entidade que representa a categoria no Brasil, o déficit atual é de 800 mil engenheiros. O número de profissionais disponíveis no mercado e, principalmente, qualificados não acompanha o de projetos nas variadas áreas de atividade, previstos para serem desenvolvidos por aqui.
São oportunidades geradas pela retomada do crescimento e modernização da economia que turbinaram o mercado de trabalho. Nesse sentido, é preciso contar com mão de obra necessária para tocar projetos em infraestrutura (estradas, aeroportos, portos, saneamento básico...), telecomunicações, produção, construção civil, siderurgia, indústria naval, eletroeletrônica, metalurgia, automação, petroquímica e de setores que estão em destaque, como os da cadeia de petróleo, gás e biocombustíveis, além, é claro, das demandas do setor mineral que impulsionam a engenharia de minas, e outros, como a engenharia de alimentos ou mecatrônica, que estão diretamente ligadas às demandas de inovações tecnológicas.
Os cerca de 40 mil engenheiros formados anualmente no Brasil não serão suficientes para atender à demanda de 300 mil profissionais da área necessários para obras e outros investimentos previstos para os próximos cinco anos, como os relacionados à Copa do Mundo de Futebol, às Olimpíadas, ao PAC do Governo Federal e à exploração de petróleo e gás da província do pré-sal. Para colocar todos esses projetos em prática, o país precisa mais que dobrar o atual número de engenheiros formados para garantir o seu crescimento econômico e obter o mínimo de competitividade no cenário internacional.
Pior mesmo é perceber que, se de um lado a falta de profissionais é um grave problema, o que dizer da muitas vezes precária qualificação de alguns deles. Estamos falando de profissionais que estão entre os responsáveis diretos pelo crescimento econômico do País. Neste caso, dispor de qualidade de formação é mais do que fundamental, além, é claro, de ser essencial que os engenheiros demonstrem habilidades relacionadas à liderança, capacidade para a solução de problemas, espírito de equipe, iniciativa e disposição para aprender, sempre. Facilidade de comunicação, vontade de crescer nas empresas e facilidade de adaptação a situações novas também contam pontos.
O ganho médio inicial da categoria gira em torno de R$ 5.500 ao mês, com grandes perspectivas de aumento para os próximos anos. Este é um cenário bastante diferente daquele visto há 30 anos. Mas, de acordo com o governo e entidades privadas, a “fábrica de engenheiros” estará operando a pleno vapor em até cinco anos, estabilizando a relação entre oferta e demanda.
Porém, no curto prazo, a carência de engenheiros no Brasil tem intensificado o debate sobre a importação de profissionais. A carência de pessoal é tão grande que, de acordo com dados da área de International Executive Services da KPMG no Brasil, a categoria que prevalece entre os profissionais “importados” é mesmo a dos engenheiros. Além de algumas dificuldades econômicas, enfrentadas especialmente por profissionais de países da União Europeia ou de países vizinhos, muitos desses estrangeiros estão de olho na remuneração oferecida pelas empresas instaladas no Brasil, após um boom de reajustes entre 2008 e 2010. Mesmo assim, importar mão de obra é considerado um paliativo, já que há barreiras como a língua, burocracias no processo de concessão de vistos de trabalho e o possível e compreensível interesse pela retomada profissional no país de origem. É interessante perceber, também, que em países como China e Índia sobram engenheiros, mas muitas vezes a barreira do idioma é um empecilho à migração.
Acreditamos que a luz amarela está acesa, e é preciso que, tanto o governo, como as empresas que demandam profissionais das Engenharias se unam para viabilizar recursos e estrutura que permita a oferta de uma educação mais forte e sólida, que garantam no futuro não só novos, mas bons profissionais para atuarem como engenheiros, certamente uma profissão de futuro no Brasil.
*Patrícia Quintas é sócia-líder da área de International Executive Services da KPMG no Brasil.