A produção industrial no país recuou 2,5% em fevereiro ante janeiro, no pior resultado mensal desde dezembro de 2008, quando o setor havia registrado queda de 12,2%. O desempenho em fevereiro praticamente eliminou os ganhos verificados em janeiro, quando a indústria teve expansão de 2,6%. O resultado negativo já era esperado por especialistas, mas a magnitude do tombo surpreendeu.
- Sabia-se que janeiro não era um bom mês de referência (o número foi inflado por uma alta significativa na venda de caminhões). Chamou a atenção ter vindo bem além do esperado. Isso mostra que o ritmo de crescimento da economia ainda é uma incógnita - afirmou Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora.
Na comparação com fevereiro do ano passado, a retração da indústria foi de 3,2%. Para Padovani, após os dados não só os analistas ficaram mais cautelosos, como também o governo deverá ter mais cuidado na retirada de incentivos ao setor industrial. A cautela deve se estender também ao Banco Central no controle da taxa básica de juros, atualmente em 7,25% ao ano. Um aumento, segundo ele, só deve ocorrer no segundo semestre.
Veículos têm queda de 9,1%
Dos 27 ramos investigados pelo IBGE, 15 mostraram retração, ou seja, mais da metade deles. O maior recuo veio dos bens de consumo duráveis, com destaque para o segmento de veículos automotores, responsáveis por puxar o indicador para baixo, com queda de 9,1%.
- Mais do que a magnitude da queda, o que chama atenção é o perfil disseminado do que causou essa queda. Os bens de consumo duráveis recuaram 6,8%, a queda mais intensa desde setembro de 2011 - afirmou André Macedo, do IBGE. - O setor industrial praticamente devolve todo o avanço que havia sido registrado em janeiro.
Além dos automóveis, mobiliário e eletrodomésticos de linha branca foram destaques negativos, possivelmente pelo fim do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) reduzido para esses bens, informou o IBGE. A queda na produção de automóveis pode ser explicada pelos períodos de paralisação da indústria no setor, de férias coletivas e mesmo um ritmo menor de produção, destacou Macedo.
Os segmentos associados à categoria de bens de capital, que haviam apresentado expansão de 9,2% em janeiro, avançaram 1,6% em fevereiro na comparação com igual mês do ano anterior. O comportamento, segundo Macedo, deve-se a fatores como os incentivos do governo, como redução de taxas de juros para financiamento e redução de IPI para caminhões.
- O resultado mostra um avanço no campo dos investimentos, que é do que a economia brasileira precisa agora - defendeu Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil.
Em relatório, o banco Barclays disse projetar para março um avanço de 0,2%, o que implica um ajuste na estimativa do Produto Interno Bruto do primeiro trimestre para um pouco abaixo do 1% previsto anteriormente. A consultoria LCA enxerga os números de fevereiro como comprovação do crescimento lento do país: "Reforça o quadro de avanço lento e bastante claudicante da produção industrial", disse, em nota.
Por Renata Cabral/ O Globo