Apesar do fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), o ano de 2012 terminou com o melhor resultado histórico em termos de reajustes salariais. Balanço divulgado ontem (20) pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostrou que, no ano passado, 94,6% das 704 negociações realizadas em todo o país tiveram aumentos acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do IBGE, contra 87,1% em 2011. Outros 4,1% conseguiram igualar o reajuste ao índice e apenas 1,3% registrou aumento abaixo do indicador (comparado a 5,8% em 2011 e a 11,1% em 2008, ano do estouro da crise financeira global).
O valor médio do aumento real (descontada a inflação) ficou em 1,96%, abaixo da média do primeiro semestre (2,25%). Apesar da queda do ganho real de um semestre para o outro, foram, no conjunto, os melhores resultados da série histórica do levantamento, iniciada em 1996.
"Os resultados de 2012 revelam que o crescimento da economia por si só não gera ganhos reais. Se fosse assim, 2010, ano de maior crescimento econômico, teria sido melhor que o ano passado para os trabalhadores", disse José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Dieese.
Para este ano, segundo Silvestre, as negociações salariais tendem a manter os ganhos reais nos mesmos patamares de 2012. O cenário de inflação sob controle, as projeções de retomada mais forte da indústria e de crescimento maior da atividade econômica, além do baixo desemprego, são fatores que devem manter o mercado de trabalho aquecido.
Indústria liderou alta
Além disso, a continuidade dos ganhos reais este ano afastaria o fantasma de uma queda no ritmo de alta da massa salarial, o que reduziria a pressão de alta dos preços dos serviços sobre a taxa de inflação.
"Não acredito em um recuo na proporção dos ganhos reais neste ano. A expectativa é de um PIB de 3% a 3,5% para o ano. Há ainda o crescimento da indústria que tem um efeito positivo e irradiador nos outros segmentos", disse ele.
Mesmo com a baixa atividade econômica, o Dieese mostra que o setor industrial liderou a alta em 2012, com 97,5% dos reajustes acima do INPC, seguido pelo comércio, com 96,4%, e serviços, com 89,5%. A indústria também liderou os ganhos reais, com alta média de 2,04%, contra 2% do comércio e 1,81% dos serviços.
O Nordeste teve o maior índice de reajustes acima da inflação (96,7%), seguido do Centro-Oeste (96,1%). As duas regiões se destacaram ainda na média de aumento real: 2,26% e 2,31%, respectivamente.
Por Lino Rodrigues/ O Globo