Uma espécie de consenso se formou ao redor das expectativas para o crescimento econômico do Brasil no curto prazo: ele será menor do que o de seus principais pares latino-americanos, prejudicado especialmente pelo baixo volume de investimentos - um mal que atinge outros países da região. Sem especificar países, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, afirmou durante a reunião de governadores do banco, no fim de semana, na Cidade do Panamá, que espera um crescimento médio de 3,5% para a região nos próximos anos e situou o Brasil ao redor deste número.
A expansão média de 3,5% em 2013 para a América Latina também está nas projeções da equipe econômica do Instituto Internacional de Finanças (IIF), que prevê, contudo, que o crescimento brasileiro fique um pouco abaixo disso (3,2%). A questão, diz o economista-chefe para a América Latina do instituto, Ramón Aracena, é que quando o Brasil é comparado aos pares lideres da região as diferenças se tornam mais flagrantes.
Esse cenário deu origem ao que Aracena cunhou de "latin worderland", países como Chile, Colômbia, México e Peru, que conseguem crescer sem inflação. E "inflation danger zone", uma zona perigosa em que o Brasil é o exemplo que desponta, preso na armadilha de preços altos e baixo crescimento.
A diferença fica clara diante das projeções econômicas para a região. A expectativa do IIF é de crescimento de 5,5% para o Chile. Colômbia e México devem crescer cerca de 4% cada, enquanto a economia do Peru - destaque na região - deve avançar 6,5% em 2013.
Para esses especialistas em América Latina, os problemas centrais do baixo crescimento brasileiro são os parcos investimentos. Após uma taxa de investimento sobre o Produto Interno Bruto (PIB) de 18% em 2012, Aracena espera uma alta de ao menos um ponto percentual para 2013. Mas isso, diz o economista, é insuficiente se comparado a uma taxa média superior a 20% em países como o Chile. "E, diferentemente do Brasil, outros países da região vêm registrando alta, e não queda, da taxa de investimento", diz ele.
Para chegar lá, Aracena diz que é preciso fomentar agressivamente as reformas nas áreas de infraestrutura. Ele reconhece que há algo em curso no Brasil, mas avalia que é necessário que o governo atue mais e melhor nas reformas, reduzindo empecilhos como o que chama de "fardo" regulatório. Segundo ele, nessa área o México merece destaque por ter conseguido aprovar há pouco duas reformas importantes - mercado de trabalho e educação - e está desenhando uma terceira, no setor de petróleo.
José Juan Ruiz, economista-chefe do BID, avalia que o baixo crescimento é, na verdade, uma característica comum ao mundo todo, atingido pelos choques do pós-crise. Ele lembra que o crescimento global foi, em média, de 4,8% nos cinco anos pré-crise de 2008 e que, nos próximos cinco anos, deve ficar ao redor de 4,2%. Na América Latina, a média antes da crise foi de 4,8%, sendo esperada uma expansão de 3,9% nos próximos cinco anos. Crescer menos, diz ele, talvez seja a nova normalidade.
Ruiz também avalia que o crescimento econômico mais balanceado - do Brasil e da região -, vai depender de investimentos que possam expandir a capacidade produtiva e elevar os níveis de oferta. Segundo Ruiz, o peso médio dos investimentos em infraestrutura no PIB latino-americano é de 2,3%, percentual que sobe para algo entre 5% e 7% na Ásia. "Precisamos chegar aos 4%, 5%", diz.
Para o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, que participou de apresentações aos investidores globais, o Brasil está em um "meio termo". "Tem países nadando de braçada, como Peru, Chile e México". Ilan diz que esses países não consumiram todo o ganho da época de boom e abriram suas economias de uma forma importante. "O Brasil teve uma máquina muito azeitada para distribuir o ganho, mas vai ter que fazer [o que os outros fizeram] agora", diz ele.
Por Flavia Lima/ Valor Econômico