Asiáticas miram mercado de tratores no Brasil

Fabricantes estrangeiras de máquinas agrícolas investem em fábricas no país

O bom momento do agronegócio brasileiro, com produção de grãos recorde, preços elevados para as principais commodities e boa rentabilidade dos produtores, tem atiçado o apetite de fabricantes estrangeiras de máquinas agrícolas, interessadas em abocanhar uma fatia de um mercado em forte expansão nos últimos anos: o de tratores de baixa potência voltados à agricultura familiar.

É o caso da indiana Mahindra, que está em processo de validação de sua produção na fábrica em Dois Irmãos (RS), para poder participar de programas governamentais como o Mais Alimentos e o Pró-trator (do governo paulista), que subsidiam a aquisição de máquinas por agricultores familiares. Há seis meses, a companhia anunciou investimentos da ordem de R$ 100 milhões no país. A meta é montar cerca de cinco mil unidades anuais nos próximos anos. A produção nacional deve começar a ser vendida ainda neste ano.
 
Com uma produção global de 250 mil tratores por ano, a Mahindra é líder nesse segmento, afirma Eduard Roosli, CEO da Bramont, que representa a companhia no Brasil. A entrada no Brasil faz parte da estratégia de expansão do grupo, que também produz utilitários (caminhonetes, jipes e picapes) para a América Latina. "Nosso objetivo é alcançar entre 10 mil e 15 mil tratores por ano no Brasil no médio prazo", afirma Roosli.
 
A coreana LS Mtron também está de olho neste mercado de tratores de baixa potência. A empresa lança hoje (27) a pedra fundamental de sua primeira fábrica no Brasil, em Garuva (SC).
 
A unidade deverá estar pronta em julho, com previsão de produzir 5 mil tratores por ano, que inicialmente devem ser comercializados no Sul e Sudeste do país. Com investimentos de cerca de US$ 30 milhões, a empresa prevê faturar US$ 20 milhões este ano com a venda de 600 unidades no país. Será a primeira fábrica fora do continente asiático - hoje existem unidades na Coreia do Sul e na China.
 
A estratégia é vender produtos com tecnologias avançadas a um custo competitivo e com mais especificações que os concorrentes. A divisão de tratores do grupo começa com uma pequena participação - de 2% a 3% - no mercado brasileiro, mas a meta é atingir cerca de 14% em 2017, segundo James Yoo, presidente da LS Mtron Brasil. "Podemos produzir 20 mil unidades no Brasil em dez anos".
 
Embora o foco inicial seja o mercado de tratores de 25 a 100 cavalos de potência, Yoo não descarta a incursão da companhia no mercado de máquinas maiores e mais potentes, demandadas por grandes produtores rurais e empresas. Para isso, a companhia estuda parceria com uma empresa que ainda não atua no Brasil.
 
Sobre esses aportes estrangeiros no país, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) crê que a competição é saudável, desde que em igualdade de condições, pondera Milton Rego, vice-presidente da entidade. Para ele, é importante rastrear a produção nacional efetiva para evitar que as empresas se restrinjam a montar equipamentos importados no país.
 
"A competição gera mais investimentos, pesquisa e desenvolvimento e inovação, o que não pode acontecer é importação", diz Rego. Hoje as importações das empresas associadas à Anfavea representam cerca de 3% do mercado - incluindo as não associadas, esse percentual não chega a 5%, segundo Rego. O dirigente também afirma que as novas marcas no mercado precisam convencer os produtores rurais que são confiáveis. O mercado nacional de tratores hoje é estimado entre 55 mil e 60 mil unidades por ano, sendo 45% de até 100 cavalos.
 
Além dos tratores, o mercado de implementos agrícolas também vem atraindo investimentos de empresas estrangeiras. A argentina Ombu prevê que este ano ou em 2014 começa a produzir em sua fábrica em Ijuí (RS). Deverão ser fabricados cerca de 200 equipamentos por ano. O investimento inicial foi de US$ 6 milhões. Desde 2011, a produção de embutidores de grãos (silos-bolsa) e de carretas graneleiras é terceirizada no Brasil. A empresa entrou no país em 2010, com a comercialização de seus produtos por meio de revenda.
 
Por Carine Ferreira/ Valor Econômico