Depois de cinco trimestres seguidos de queda do investimento, o consumo doméstico de máquinas continuou estagnado no último trimestre. As projeções de cinco economistas consultados pelo jornal Valor Econômico para a evolução do consumo aparente de bens de capital oscilam entre menos 1% e mais 1%. O volume importado desses itens subiu com força em relação ao terceiro trimestre, mas a produção interna, prejudicada por acúmulo excessivo de estoques, seguiu em terreno negativo no período.
Para um grupo de analistas, o resultado dessa equação foi novo recuo da absorção interna de máquinas, o que sinaliza mais uma retração da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil), embora menor do que o tombo de 2% observado no terceiro trimestre.
Outros economistas afirmam que a alta em torno de 10% das importações de bens de capital entre o terceiro e o quarto trimestres, em termos dessazonalizados, foi suficiente para compensar a queda de 2% da produção interna na mesma comparação, o que culminou em alta da demanda por esses bens. Mesmo entre esses especialistas, porém, há a percepção de que é cedo para apontar uma retomada mais consistente do investimento já a partir do último trimestre, tendo em vista a lenta recuperação da confiança do empresariado e dúvidas persistentes quanto ao ritmo de crescimento da atividade.
Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, calcula que, mesmo com avanço de 9% das compras externas, o consumo interno de bens de capital - que soma a produção nacional, descontada a exportação, às importações - caiu 1% na passagem trimestral, na série com ajuste sazonal. No terceiro trimestre, esse recuo havia sido mais intenso, de 2,7%, trajetória que também deve ocorrer com o investimento. Ele projeta contração de 0,5% desse componente do Produto Interno Bruto (PIB) entre outubro e dezembro na comparação com os três meses anteriores.
Para Bicalho, há "dados mistos" no conjunto de informações que determinam o investimento, com sinais positivos vindos do aumento das encomendas relatado pela indústria do setor e uma procura maior por linhas de crédito do BNDES. Por outro lado, ainda persiste uma fraqueza da produção, que encolhe há cinco meses, enquanto a atividade de construção civil, que representa cerca de 40% da formação bruta, caiu 1% na passagem do terceiro para o quarto trimestre, de acordo com seus cálculos.
Em sua opinião, fatores que adiaram decisões de investir ao longo do ano seguiram presentes no último trimestre, com destaque para a incerteza quanto à velocidade de retomada da economia. Assim, mesmo com o menor custo de capital e medidas como a depreciação acelerada para compra de máquinas e redução agressiva de juros de linhas do BNDES, o investimento, mais uma vez, não decolou. "Essas medidas evitaram um resultado um pouco mais fraco, mas a tendência é que seu impacto comece a aparecer de forma mais importante a partir de agora."
O economista-chefe da LCA Consultores, Braúlio Borges, afirma que uma alta atípica de 17% do volume exportado de bens de capital no quarto trimestre, provocada pela venda de três plataformas de petróleo que continuam operando no Brasil, prejudicou a absorção interna desses produtos. Segundo seus cálculos com ajuste sazonal, o consumo doméstico de máquinas caiu 0,3% entre o terceiro e o último trimestre. Sem essa operação contábil da Petrobras, Borges estima que essa variação teria sido positiva em 3%.
Ele avalia que o avanço de dois dígitos das importações de máquinas, que cresceram 11% na passagem trimestral em suas contas, já aponta para um cenário mais favorável ao investimento. Para os últimos três meses de 2012, porém, a LCA projeta estabilidade da formação bruta, o que resultaria em queda de 4,3% do investimento no ano passado, maior retração desde 2009. "A desaceleração da economia influenciou negativamente o investimento privado e o governo demorou a tomar medidas, mas acho provável que em 2013 não haja frustração", afirmou Borges.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse recentemente que os desembolsos saltaram "mais de 25%" em janeiro em relação ao mesmo mês de 2012, variação vista por economistas como indício de que o aumento de 60% das consultas observado no ano anterior começou a se materializar. Rodrigo Baggi, analista da Tendências Consultoria, nota que, no ano passado, o valor das consultas, que chegaram a R$ 312,3 bilhões, superou em quase 50% o dos desembolsos. "Esse dado precisa ser olhado com cautela, mas esses investimentos podem ocorrer ao longo de 2013."
A indústria do setor tem relatado um nível maior de encomendas, diz Baggi, mas a produção não reagiu devido ao elevado nível de estoques. Assim, mesmo com aumento das importações, ele calcula que, feito o ajuste sazonal, o consumo aparente de máquinas caiu 0,9% no quarto trimestre ante o terceiro. A consultoria ainda não tem uma projeção fechada para a evolução da formação de capital físico no período, mas, a partir dos dados da absorção doméstica, a expectativa é de nova queda. "Houve uma melhora relativa em relação ao segundo e ao terceiro trimestres, mas ela ainda é bem morna."
Por Arícia Martins/ Valor Econômico